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Ruy Martins Altenfelder Silva

Encantos e desencantos do futebol

É preciso que, nas categorias de base, os clubes conciliem treinamento técnico com a exigência de formação escolar, preparando os jovens

No país do futebol e em tempo de Copa do Mundo, quantos brasileirinhos não sonham em vestir a camisa de um grande time? Especialmente os mais pobres têm a imaginação incendiada pelos relatos que esmiúçam amores, carreiras e sinais externos de riqueza de atletas de ponta e suas famílias, muitas vindas de condições precárias.

Não é difícil imaginar o que passa pela cabecinha daqueles que revelam mais talento nos campinhos do que na sala de aula... E também na dos pais que veem na habilidade do filho o passaporte para subir na vida e cedem à tentação de ver seu nome gritado nos estádios e de dispor de contas bancárias recheadíssimas, graças a contratos milionários com times e campanhas de publicidade.

Mas poucos se lembram do lado escuro da moeda, dos obstáculos a driblar, dos mal-intencionados caçadores de talento e da teia de interesses, nem sempre legítimos, que pululam nos bastidores do futebol.

Já de início há as concorridíssimas peneiras que, segundo cálculos, deixam passar 2 ou 3 a cada 1.000 candidatos. Os que vão à frente não demoram a colecionar frustrações. O primeiro choque será com o dinheiro. Calcula-se que 3 em cada 4 ou 76% dos atletas que jogam no Brasil recebem até dois salários mínimos por mês. Dos que escapam dessa faixa, 21% ganham de 2 a 20 mínimos e apenas 3% (a nata dos supercraques) chegam a remunerações maiores. O aspirante também logo perceberá que, mesmo começando na infância ou na adolescência, a carreira será curta, não passando dos 35 ou 36 anos de idade.

Os mais atentos notarão que, nos novos grupos, cresce o número de jogadores com mais escolaridade e, portanto, mais articulados e com maior visão crítica.

Um estudo da Universidade Estadual Paulista (Unesp) publicado em 2007 (e nada deve ter mudado, desde aquela época) aponta causas da desistência, quase todas relacionadas às mazelas que emperram a modernização da indústria do futebol, aqui e lá fora. A instabilidade profissional e a ausência de estrutura dos clubes são os principais motivos de abandono da carreira, seguidos por lesões, baixos salários, distância da família e falta de profissionalismo dos dirigentes, empresários e técnicos.

Não há receita mágica para evitar o destino de muitos craques, que decaem para a pobreza e o anonimato depois que deixam o campo. É preciso que, nas categorias de base, os clubes conciliem treinamento técnico com a exigência de formação escolar, preparando os jovens, principalmente os mais pobres, para enfrentar tanto os encantos quanto os desencantos que encontrarão no futuro.

Se é próprio da adolescência sonhar alto e acreditar que há atalhos para o sucesso, o governo, as organizações e pessoas que lidam com jovens deveriam se preocupar em mostrar que, no futebol, como em qualquer carreira, o melhor caminho passa pela formação integral do jovem, que decorre das oportunidades de acesso à saúde, à educação e a outros direitos cidadãos.

É essa a mensagem que o Centro de Integração Empresa-Escola transmite continuamente aos jovens que beneficia, tanto por palavras quanto por ações.


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