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Opinião

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Peter Demant

TENDÊNCIAS/DEBATES

O assunto é: O Estado Islâmico

Um monstro gerou outro

A Síria usa bombas e gás contra sua população, mas o Ocidente nada fez. Hoje extremistas massacram os soldados de Bashar al-Assad

Poucos previram o ultraviolento Estado Islâmico, o califado que começou como ramo da Al Qaeda. Três anos atrás ele nem existia. Hoje se implanta mediante massacres, destruições e intimidações em regiões majoritariamente sunitas cada vez mais extensas da Síria e do Iraque. Estabelece um regime fundamentalista que aterroriza a população.

Boa parte do sucesso do EI resulta não das intervenções ocidentais no Oriente Médio, mas de sua ausência quando a região mais precisava de ajuda. A principal responsabilidade, no entanto, recai sobre os próprios ditadores árabes que destruíram as oposições não religiosas. O presidente sírio Bashar al-Assad rotula seus oponentes de terroristas. A palavra se tornou realidade.

A Síria usa bombas, fome e gás venenoso contra sua população. O Ocidente lamentou, mas nada fez. Um monstro deu à luz outro. Hoje, islamistas extremistas --esses, sim, terroristas verdadeiros-- massacram os soldados de Assad e seus opositores mais moderados.

A isenção da comunidade internacional (dos EUA, em primeiro lugar) enfraqueceu e desmoralizou aquelas forças que poderiam criar uma Síria democrática e dá fôlego aos grupos mais totalitários.

O pânico ocidental não se baseia numa maldade pior do califado, mas na sua ambição global: não só intenciona conquistar os Estados no Oriente Médio mas tem apetite para acabar com Israel, Espanha e com todo o mundo não muçulmano. O EI pode representar uma paródia do islã autêntico, mas o clone mascara tão bem o original que engana multidões, inclusive muçulmanos.

O que fazer? O projeto realista de cooperar com Assad não só é imoral como não vai adiantar. O EI está acumulando recursos territoriais, financeiros e propagandísticos. Uma aliança com Assad contra esse regime mortífero não o derrotará tão facilmente, mas legitimará o outro "mal menor", destruirá a esperança de transformação democrática da Síria, encorajará os demais autocratas do Oriente Médio e reforçará o eixo antiocidental xiita Irã-Iraque-Síria-Hizbullah.

Colaborar com um assassino para enfraquecer outro tirará do Ocidente o pouco da autoridade moral que ainda lhe resta. É inegável que a comunidade internacional deve se proteger contra um inimigo como o EI, que pretende desencadear uma nova guerra religiosa mundial.

A resposta incluirá inevitavelmente o uso de força militar. Contudo, a violência em si não resolverá nada. A emergência do Estado Islâmico é sintoma do fracasso das forças democráticas e progressistas no mundo árabe. O único projeto imaginável implicaria criar um espaço para todos as seitas e etnias, mas, ao mesmo tempo, forjaria um centro forte o suficiente para conter as inevitáveis explosões centrífugas. Idealismo utópico?

Infelizmente, as alternativas "realistas" se reduzem a três cenários terríveis: restauração de ditaduras ferozes, fragmentação em microunidades sectárias ou expansão ilimitada do califado fundamentalista. Todas implicam derramamento de sangue.

Uma política externa sábia das potências ocidentais deveria resistir às tentações "realistas" de curto prazo ao alinhar-se a uma visão mais inspiradora --antes que uma geração frustrada de jovens muçulmanos se jogue na armadilha do idealismo sangrento dos fanáticos.


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