Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria
Análise
Episódio realça importância do programa na cultura dos pobres
COM ECONOMIA EM MARCHA LENTA, FICA INVIÁVEL POLITICAMENTE REDUZIR OS REPASSES DO BOLSA-FAMÍLIA NO CURTO OU NO MÉDIO PRAZO
EDUARDO SCOLESE COORDENADOR DA AGÊNCIA FOLHAA onda de saques, filas e tumultos que se sucederam aos boatos sobre o fim do Bolsa Família ajudaram a consolidar fatos, ligar sinais de alerta no governo e, quem sabe, dar ideias a marqueteiros de campanhas eleitorais.
Para quem duvidava ou desconhecia, as imagens do fim de semana não deixam margem a dúvidas sobre a importância do programa hoje.
Com R$ 24 bilhões de orçamento anual e um cartão na mão de 13 milhões de famílias, o Bolsa Família está enraizado na cultura dos pobres do país. Se é assistencialismo, isso é outra discussão.
O fato é que não há no curto ou no médio prazo a possibilidade de reduzi-lo ou encerrá-lo, enquanto a economia anda a passos lentos, e a geração de empregos no interior e nas periferias parece uma realidade distante para que essas famílias possam abrir mão dos repasses.
O valor mínimo mensal de R$ 70 faz toda a diferença para o dia a dia de um miserável. Não fosse assim, ninguém ficaria assustado com boatos, a ponto de sair correndo de casa e ficar horas num empurra-empurra na fila de um banco.
Sobre a origem dos boatos, a Polícia Federal investiga. Se mostrar que houve uma tentativa de uso político, não terá sido a primeira vez.
Há anos --e sem a reação dos gabinetes de Brasília-- o programa tem sido usado nas eleições municipais para sustentar um novo estilo de voto de cabresto no interior.
Funciona assim --como a base de dados do programa fica nas mãos dos municípios (o chamado Cadastro Único), candidatos a prefeito e a vereador usam o Bolsa Família como uma ameaça: se votar em mim, benefício mantido; caso contrário, exclusão do cadastro e fim dos repasses.
Essas ameaças podem voltar nas eleições municipais de 2016, mas antes disso há a disputa presidencial em 2014.
Chance para marqueteiros e coordenadores de campanha lançarem propostas para a criação de empregos e de geração de renda, e não mais uma vez simplificarem a disputa com promessas de ampliar o Bolsa Família e sobre a paternidade dos programas de transferência de renda.