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Análise
Com apoio federal, produtores levam vantagem na atual disputa com índios
EDUARDO SCOLESE COORDENADOR DA AGÊNCIA FOLHANão por acaso os conflitos entre fazendeiros e sem-terra, comuns no noticiário até meados da década passada, deram lugar a embates entre fazendeiros e indígenas.
Até o fim do primeiro mandato de Lula, o adversário da vez eram os sem-terra, que reuniam milhares em acampamentos, mantinham a pressão na porta das fazendas e as invadiam uma a uma.
O governo reagia a reboque, com a criação de novos assentamentos. Cada hectare para um sem-terra significava um hectare a menos para a expansão de cana e soja, por exemplo. Daí a tensão.
Mas o tempo virou. Quando o petista assumiu, 200 mil famílias sem terra estavam acampadas à beira de estradas, e o MST invadia, em média, uma área a cada três dias.
Hoje, esses acampamentos estão esvaziados, muito pela consolidação do Bolsa Família e pela lentidão do processo de reforma agrária.
Um símbolo dessa reviravolta foi a decisão de Lula, mantida por Dilma, de não atualizar os índices usados para medir a produtividade de uma fazenda passível de desapropriação. Os que valem hoje são de 1975.
O petista prometeu aos sem-terra essa canetada, mas sempre na última hora recuou para atender a exigências da bancada ruralista.
Fez isso de olho na economia e por pragmatismo.
Do lado econômico, viu no agronegócio a base do saldo positivo da balança comercial. Do lado pragmático, a influência dos ruralistas: voto no Congresso, dinheiro para campanha e, claro, na ponta, foco para expandir propriedades e ampliar os lucros.
Por essa expansão, pressionaram Lula a segurar as desapropriações de áreas para os sem-terra, tentaram em vão reduzir a área de reserva legal na votação do Código Florestal e agora, sob Dilma, buscam evitar a criação de novas terras indígenas.
De novo, a mesma lógica: cada hectare para uma terra indígena significa um hectare a menos para uma nova lavoura ou um novo pasto.
Em MS, por exemplo, a área de lavoura cresceu 70% de 2000 a 2011. No Sul, da mesma forma, o que levou o Planalto a suspender recentemente processos de demarcação de terras no PR e RS.
Atendeu a um pedido dos produtores rurais e foi além: prometeu reduzir os poderes da Funai nos processos de demarcação, alguns alvos de ações na Justiça, e incluir na discussão o Ministério da Agricultura e a Embrapa, braço de pesquisa da pasta.
Nesse cabo de guerra, tem levado vantagem o setor que cresce acima da média nacional e impede que o "pibinho" de Dilma vire um "pibizinho" às vésperas do ano eleitoral.
As tensões devem continuar, também porque projetos federais do PAC passam dentro ou próximos a terras indígenas e o atual governo, sem um Lula na mediação, não consegue apaziguar os dois lados ao mesmo tempo.