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O papa no Brasil

Evangelho dos excluídos

Ênfase de Francisco na defesa dos pobres e habilidade no emprego de símbolos religiosos explicam popularidade do novo papa

REINALDO JOSÉ LOPES COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Francisco pode não ser ainda um pop star como João Paulo 2º, mas é tão habilidoso no emprego de símbolos como seu antecessor polonês.

Seu cuidado em expressar um "programa de governo" --"uma Igreja pobre e para os pobres"-- começou nos primeiros minutos de seu papado com a escolha do nome e sua ênfase na humildade.

Nunca um pontífice tinha pedido a bênção ao povo reunido para aclamá-lo, nem feito tanta questão de se referir a si mesmo como bispo de Roma, e não como papa.

Até certo ponto essa ênfase foi uma surpresa porque Jorge Mario Bergoglio, quando arcebispo de Buenos Aires, se mostrara arredio diante da Teologia da Libertação, a corrente católica mais preocupada com a injustiça social.

Ex-subordinados de Bergoglio chegaram a acusá-lo de colaborar com a ditadura militar argentina nos anos 70, o que nunca ficou provado.

A preocupação de Francisco em transformar a imagem papal em algo menos principesco continuou com o anúncio de que não moraria no palácio papal, mas num quarto da Casa de Santa Marta, a "hospedaria" do Vaticano.

Para Moisés Sbardelotto, da Unisinos, a decisão é um exemplo da intenção do papa de parecer o mais próximo possível dos fiéis comuns.

Em seu primeiro compromisso oficial fora do Vaticano, o papa foi até a ilha de Lampedusa, palco de vários naufrágios de imigrantes ilegais tentando chegar à Europa. "Ele fez uma defesa muito radical de acolhimento a essas pessoas, e todos os paramentos litúrgicos, do altar ao báculo, foram feitos com madeira de destroços desses naufrágios", diz Sbardelotto.

O papa também mostrou certa despreocupação com o estilo tradicional do Vaticano ao anunciar a canonização conjunta de dois antecessores, João 23 e João Paulo 2º.

O primeiro é o herói da esquerda da igreja por ter convocado o Concílio Vaticano 2º, que abriu a hierarquia católica ao diálogo com o mundo moderno, e o segundo é visto como o pontífice que deteve essa abertura. "Com as canonizações, Francisco parece estar dizendo: todos vocês têm lugar aqui dentro", afirmou o vaticanista John Allen Jr.

O papa tem sido mais discreto sobre alterações na estrutura do Vaticano. Sua maior inovação foi nomear um grupo de cardeais para aconselhá-lo sobre a reforma da Cúria --o aparelho burocrático central que governa a igreja, sobre o qual pairam acusações de corrupção.

Francisco anunciou sua intenção de acabar com as irregularidades no Banco do Vaticano, mas o assunto rendeu o primeiro escândalo de seu papado. Para cuidar da faxina no banco, o papa nomeou Battista Ricca, o qual, segundo a revista "L'Espresso", teria sido frequentador de boates gays. O Vaticano nega.

O escândalo não parece ter arranhado a popularidade de Francisco. Mau sinal, para o vaticanista Sandro Magister: ele diz que o papa só continua com imagem positiva porque se esquiva de temas polêmicos e não tem "coragem" de atacar o aborto, a eutanásia e o casamento gay.


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