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'Não sou ditador e quero dialogar', diz Cabral
Governador reconhece que faltou 'humildade' nas negociações com manifestantes e anuncia pacote de bondades
Com a voz embargada, ele faz apelo a jovens que protestam na frente de sua casa: 'Tenho crianças pequenas"
Após quase dois meses de manifestações contra o seu governo que resultaram na queda de sua popularidade, o governador Sérgio Cabral (PMDB-RJ) mudou sua conduta ontem, em entrevista convocada para anunciar recuo em medidas antipopulares.
O peemedebista desistiu de demolir o parque aquático no entorno do Maracanã e já acena com a possibilidade de o Museu do Índio virar espaço para atividades indígenas.
Disse também que quer dialogar com os manifestantes que vêm ocupando a rua onde mora no Leblon e mandou retirar as grades que cercavam o Palácio Guanabara, sede do governo e palco de embates violentos entre ativistas e policiais.
Com a voz embargada, o governador fez um apelo aos jovens. "Tenho crianças pequenas, queria fazer um apelo para os manifestantes, estou totalmente aberto ao diálogo, não sou um ditador", disse ao lado do candidato à sua sucessão, o vice-governador, Luiz Fernando de Souza, o Pezão, e o secretário da Casa Civil, Régis Fichtner.
Ele afirmou que desde a denúncia sobre o uso de helicópteros por ele e sua família para ir à sua casa de veraneio em Mangaratiba, na Costa Verde, só utiliza o transporte para assuntos do trabalho.
Segundo ele, a não utilização dos helicópteros por sua família se manterá pelo menos até a conclusão de protocolo da Casa Civil para normatizar o uso das aeronaves por membros do governo.
"Eu dei uma resposta mal dada sobre isso, dei uma resposta horrível, mas a primeira coisa que eu fiz foi começar a vir de carro."
Cabral disse que o fato de ter sido o deputado mais votado e o governador reeleito com o maior percentual de votos talvez tenha sido a causa de seu comportamento autoritário. "Estava me faltando humildade e autocrítica", reforçou o governador.
INSPIRAÇÃO
Questionado sobre se a vista do papa Francisco influenciara a mudança de comportamento, voltou a fazer mea-culpa: "Eu estava precisando mesmo de uma dose de humildade, eu errei por não ouvir".
"Aprendi com a vinda do papa, a ouvir os outros lados, estou aberto a ouvir."
Cabral deu resposta a todas as perguntas, sempre olhando para os jornalistas e, ao contrário do que vinha fazendo, esperou as perguntas acabarem antes de ir embora.