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Comissão pretende confrontar coronel com vítima de tortura

Acusado de crimes de lesa-humanidade, Brilhante Ustra comandou DOI-Codi de São Paulo no auge da repressão

No 1º depoimento, em maio, oficial defendeu ditadura militar, negou crimes e afirmou que apenas cumpria ordens

LUCAS FERRAZ DE SÃO PAULO

A Comissão Nacional da Verdade quer um novo depoimento do coronel reformado do Exército Carlos Alberto Brilhante Ustra, 81, símbolo da tortura na ditadura militar (1964-1985).

O anúncio foi feito ontem por uma das integrantes do grupo, Rosa Cardoso, que participou em São Paulo de audiência conjunta com a Comissão Estadual da Verdade.

Oficial que comandou o DOI-Codi de São Paulo de 1970 a 1974, auge da repressão, Ustra é acusado de vários crimes de lesa-humanidade. Ontem, Rosa o chamou de "macabro herói tropical".

O coronel é o primeiro --e até agora único-- militar declarado torturador pela Justiça brasileira.

Ele prestou depoimento à Comissão da Verdade, em Brasília, em maio deste ano. Defendeu a ditadura, negou os crimes e afirmou que somente cumpria ordens.

A audiência foi criticada sobretudo pela passividade dos integrantes da comissão.

O resultado foi insatisfatório, reconheceu Rosa Cardoso. "Não tínhamos experiência, e à época ficou decidido não confrontá-lo com testemunhas para não se transformar numa sessão longa. Agora devemos fazer isso", afirmou, citando como exemplo as audiências que ocorreram no Rio na semana passada.

Além de acareações, o grupo quer usar novos documentos do período para inquirir o coronel sobre sessões de torturas e mortes no DOI-Codi --no período que Ustra chefiou o centro, a comissão contou 502 casos de maus-tratos e mais de 40 mortes.

Ontem, familiares de desaparecidos apresentaram informações sobre episódios --todos eles já conhecidos-- que teriam tido a participação direta de Ustra.

A ex-presa política Amélia Teles disse ter sido torturada pelo coronel, ao lado do companheiro e da irmã grávida. Também foram entregues papéis sobre o assassinato de Luiz Eduardo Merlino, em 1971, morte que embasou uma das condenações do coronel na Justiça.

Indagada sobre o motivo de a comissão voltar a Ustra, e não buscar generais ou outros oficiais da cúpula militar também suspeitos de crimes, Rosa Cardoso afirmou que é preciso focar os "símbolos da ditadura".

"Pegar os símbolos é importante para que a sociedade saiba o que aconteceu, podemos ter uma repercussão três vezes maior", disse.

Ustra nega os crimes. A mulher dele, Joseíta Ustra, afirmou à reportagem que não teria como localizar ontem o advogado Paulo Esteves, que fala pelo cliente.

DESFALCADA

Esta será a última semana de Rosa Cardoso como coordenadora da comissão. Ela disse que soube pelos jornais que José Carlos Dias foi designado para ocupar o posto.

Ela nega crise no grupo. Afirmou apenas que há "visões políticas diferenciadas".

Há dois meses a comissão atua com dois integrantes a menos. Gilson Dipp saiu por questões médicas. Cláudio Fonteles, a última baixa, por discordância política.

A presidente Dilma prometeu para breve, mas ainda não anunciou os substitutos.


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