Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria
Análise
Paz com o Congresso só ocorre porque presidente vai empurrada pelo PMDB
FERNANDO RODRIGUES DE BRASÍLIAA atual relação entre o Planalto e o Congresso está lastreada em concessões que Dilma Rousseff tem feito a senadores e a deputados, sobretudo aos do PMDB --que comandam o Legislativo.
Até o fim de 2012, Dilma fez carga contra as candidaturas dos peemedebistas Renan Calheiros e Henrique Alves, que postulavam presidir o Senado e a Câmara, respectivamente. No início deste ano, o Planalto recuou diante da vitória inevitável de ambos.
Mas a mágoa de Renan e de Alves ficou guardada. Quando eclodiram os protestos de junho, Dilma reagiu sem consultá-los e jogou para cima da Câmara e do Senado a responsabilidade de aprovar as medidas.
O ministro Aloizio Mercadante (Educação), principal articulador político dilmista, falou que se os congressistas não aprovassem um plebiscito para a reforma política os eleitores iriam cobrar caro.
O ambiente azedou. Renan e Alves começaram a se mexer aprovando diversas propostas contrárias ao desejo do governo. Dilma cedeu. Passou a fazer mais reuniões com os líderes partidários. Há grande expectativa de nomeações de indicados políticos nos próximos dias.
Mas agora o relacionamento já está com o sinal trocado. Enquanto Dilma tomava decisões retóricas e políticas, Renan e Alves armavam bombas de efeito retardado que reduzem o poder do Planalto.
Uma delas é a votação de todos os vetos presidenciais: a partir de agora, Dilma passará por uma sessão de genuflexão mensal. É que a cada mês o Congresso colocará os vetos em votação. Ela ficará obrigada a receber o presidente do Senado, que comanda esse processo. Será Dilma pedindo ajuda a Renan --o senador que ela tentou barrar.
Outras medidas em gestação no Congresso devem manietar ainda mais a margem de manobra da presidente. O Orçamento impositivo está a meio caminho de ser aprovado, e uma proposta de emenda com novo rito de tramitação de medidas provisórias começou a andar na Câmara.
Com tantas propostas que desidratam o seu poder, Dilma não tem como deixar de ir ao Congresso e posar para fotos sorrindo ao lado de Renan e de Alves. Mas não vai porque aprecia. Está indo empurrada pela conjuntura e pela articulação do PMDB.