Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria
Moradores de rua aderem a movimento
DO RIOA ocupação não nega abrigo a quem pede. A ordem é que todos sejam aceitos, desde que apresentem uma contrapartida de militância política. A lógica funciona, inclusive, para os moradores de rua.
Rodolfo "RD", 20, contou à Folha que vivia na Cinelândia antes mesmo de os manifestantes pensarem em montar ali o foco de resistência.
Nascido em Vigário Geral no dia da chacina de 9 de abril de 1993, ele passou a dormir na rua depois que seus pais morreram em um acidente de carro. Quando conheceu a turma do "Ocupa Câmara", "entrou de cabeça nos protestos", diz.
Já foi detido três vezes durante manifestações. A mais recente foi depois da aprovação da lei que proibiu máscaras nos protestos do Rio. De megafone na mão, "RD" provocou policiais. Um deles o levou para uma viatura. Foi solto.
"Eles [os políticos] tão loucos com a gente. Se a pressão for sempre assim, o país vai melhorar", diz.
Assim como "RD", outros moradores de rua fazem parte da ocupação. É o caso do artista plástico paraibano Moisés Lucas da Silva, 49. Em troca, ele canta e dança nas escadarias da Câmara, chamando a atenção de quem passa. "Um dia me deram R$ 50. Se eu tivesse R$ 200 eu iria visitar minha mãe na Paraíba no Natal. Mas ficar aqui é melhor do que catar latinha", disse.
Uma terceira moradora de rua da ocupação é Cláudia Aparecida, que ficou conhecida após policiais arrancarem-lhe a roupa na repressão a um protesto no Largo do Machado. Dias depois ela protagonizou outra cena célebre. Numa sessão da CPI dos Ônibus, atirou o sapato em direção ao vereador Professor Uóston (PMDB): "Se eu pudesse faria de novo. Os políticos mereciam uma granada ao invés de um sapato".