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Contra tudo, grupo acampa há 52 dias no Rio

Após fim da onda de protestos nas ruas, ativistas se revezam em 34 barracas em frente à Câmara com pauta difusa

Depois do 'Fora Cabral', manifestantes transformam praça central em espaço de debates políticos

LUCAS VETTORAZZO DO RIO

A sala de estar tem dois sofás. No quarto, o lençol está desarrumado sobre o colchão de casal. Da cozinha, sai feijão na hora do almoço.

É uma casa muito engraçada. Não tem teto, nem nada. Ninguém dorme na rede, porque a casa não tem parede. Banheiro não existe ali.

Essa "casa" tem nome: "Ocupa Câmara". Ela fica aos pés da escadaria do Palácio Pedro Ernesto, prédio centenário que abriga a Câmara Municipal do Rio, na praça da Cinelândia, palco de manifestações históricas.

Há 52 dias, entre 30 e 50 ativistas se revezam e dividem 34 barracas. O perfil do grupo é difuso. Há jovens de classe média, gente que vive em favela, aposentados e moradores de rua.

O movimento, que começou com o objetivo de combater a CPI dos Ônibus se expandiu. Com a redução do tamanho dos demais protestos de rua no Rio, o "Ocupa Câmara" virou o principal foco de resistência dos descontentes com o status quo.

E a pauta dos "ocupantes" se diversificou, como fica claro pelos cartazes pendurados na fachada do prédio: "fora Cabral, vá com Paes e Dilma (de uma) vez", "cadê o Amarildo", "petróleo 100% estatal" e "saúde pede socorro".

No alto dos 15 degraus da escadaria fica a cozinha, uma biblioteca e uma espécie de quarto. Todo dia, uma colaboradora traz um balde de feijão já cozido. É um complemento às 65 quentinhas que chegam diariamente ao acampamento, doação do Sindicado dos Petroleiros.

Ontem, o cardápio oferecia duas opções: peixe frito ou frango com quiabo. Só come quem faz parte da ocupação. Na porta da cozinha, um recado: "respeite as quantidades".

A rotina dos manifestantes é típica de um acampamento. Eles fazem as refeições juntos. O banheiro fica a cargo da boa vontade de bares e restaurantes das redondezas. Há uma sala de leitura, com títulos doados que vão de Noites Tropicais, do jornalista Nelson Motta, a um livro em alemão de Arthur Schopenhauer.

CRONOLOGIA

O acampamento começou com 16 barracas no dia 8 de agosto, dia em que a CPI dos Ônibus fez sua primeira sessão. Hoje, a CPI está suspensa por decisão judicial, mas antes disso, o interesse dos manifestantes pela discussão sobre os contratos com empresas de ônibus na cidade já parecia ter arrefecido.

Nas últimas sessões, poucos acompanharam as discussões.

Hoje, seus integrantes dizem que o "Ocupa Câmara" virou "espaço de conscientização e debate sobre modelos possíveis para a política". Alguns dos manifestantes deixaram empregos e os estudos para participar da ocupação.

É o caso da produtora de cinema Sininho, 28. No primeiro ano do governo Lula, desfiliou-se do PT, incomodada com as alianças do partido. Diz que já foi anarquista, mas hoje "está mais para comunista". Deixou o emprego há três meses para ir para a rua.

O estudante de direito, que se identificou apenas como João Amarildo, estagiava no escritório de um advogado ligado ao PMDB. Quando seu patrão soube que ele estava participando de manifestações, o colocou na berlinda. Ele escolheu a rua.

"O brasileiro sempre foi acostumado a implorar por direitos. Eu não poderia ficar de fora justamente agora que estamos começando a exigir o que é nosso por direito", diz.


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