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Parlamentares trocam ofensas diante de crianças
Deputado reage com palavrão ao se sentir insultado pelo líder do governo
Coordenadora da escola disse que alunos que visitavam o Congresso ficaram 'espantados' com briga dos políticos
Crianças do ensino fundamental que visitavam ontem a Câmara dos Deputados receberam uma lição involuntária acerca do decoro parlamentar --ou da falta dele.
Mesmo diante de uma galeria repleta com estudantes de uma escola do Mato Grosso, dois deputados trocaram insultos pelos microfones que incluíram termos como "vagabundo" e "filho da puta".
O primeiro brigão, Sebastião Bala Rocha (SDD-AP), subiu o tom da discussão quando Arlindo Chinaglia (PT-SP), líder do governo, o provocou com uma insinuação sobre sua prisão em uma operação da Polícia Federal em 2004.
"Só tenho a dizer uma coisa: graças à minha formação nunca fui algemado na minha vida", discursou Chinaglia, que manifestava contrariedade pelo fato de Bala Rocha ter impedido a votação de um projeto sobre a exploração ilegal de ouro.
"Eu fui injustiçado, seu porra! Seu filho da puta", disparou Bala Rocha no microfone. O áudio foi cortado.
Mesmo assim, o deputado começou a gritar que o líder do governo era um "grande vagabundo" e que ele deveria lembrar que políticos do PT condenados no mensalão como José Dirceu e José Genoino é que foram algemados e estão presos no Complexo Penitenciário da Papuda.
Bala Rocha chegou a encarar Chinaglia enquanto seguranças da Câmara e deputados --como Jair Bolsonaro (PP-RJ) e o líder do DEM, Ronaldo Caiado (GO)-- se colocaram entre os dois para evitar qualquer contato físico.
Mesmo com a confusão, os estudantes não se manifestaram nas galerias. Coordenadora pedagógica do Centro Integrado de Ensino Cremilda Oliveira Viana, Gecionete Bravo, 44, disse à Folha que os alunos ficaram "espantados" com a briga no plenário.
A escola promove um concurso para os alunos conhecerem a capital federal. Estavam na Câmara 33 alunos de 10 a 12 anos. "Eles questionaram se aquilo ocorre sempre e tivemos que explicar que foi uma coisa do momento, mas é claro que marcou o mau exemplo. A sorte é que o passeio está maravilhoso, e espero que isso seja só um fato isolado", completou.
O deputado Chico Alencar (PSOL-RJ) disse que o espírito "antinatalino" tomou conta do plenário. "As crianças da escola tiveram que ouvir tudo. Nunca tinha presenciado, nos microfones, alguém xingar com tanta veemência", disse o congressista.
Após os ânimos se acalmarem, e longe das crianças, os dois brigões adotaram um tom mais ameno. Questionado se vai apresentar queixa contra o colega no Conselho de Ética, o líder do governo na Câmara disse que "tende a perdoar" Bala Rocha.
Bala Rocha solicitou que a área técnica da Câmara retire dos registros da Casa os impropérios que proferiu.
Ele disse, no entanto, que pedia desculpas à Câmara e que o palavrão foi uma "reação instantânea à agressão" que sofreu de Chinaglia, que citou o episódio "em que fui injustamente algemado pela Polícia Federal e que até hoje me faz sofrer e a toda minha família". (MÁRCIO FALCÃO)