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Jango ganharia em caso de eleição, diz FHC

Durante debate em São Paulo, ex-presidente mesclou recordações pessoais sobre o golpe de 64 e análises políticas

Presidencialismo hoje no país é de 'cooptação', afirmou tucano, que criticou número de ministérios e partidos

DO COLUNISTA DA FOLHA

Se tivessem feito eleições em março de 1964, João Goulart "provavelmente ganharia". A avaliação foi feita ontem pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em seminário sobre os 50 anos do golpe de 1964, no Sesc Consolação, em São Paulo.

FHC ressalvou não saber se foram realizadas pesquisas de opinião. A sociedade, de todo modo, "estava dividida". Ao longo da sua intervenção, em que misturou recordações pessoais e análise política, FHC ressaltou as incertezas que marcaram os dias anteriores ao golpe militar.

No dia 13 de março, quando Jango anunciou seu programa de reformas num comício na Central do Brasil, havia velas acesas em quase todas as janelas da zona sul do Rio, lembra FHC: sinal das apreensões da classe média frente ao "perigo vermelho".

Ele se preparava para viajar de trem a São Paulo; passaria pela imensa concentração de pessoas reunidas em apoio a Jango. O comício "pelas diretas", disse num curioso ato falho, "foi enorme".

No trem, FHC encontrou-se com personalidades da esquerda. A confusão era tanta que muitos acreditavam que o golpe seria dado por Jango, e não pelos militares. Em São Paulo, ele veria professores de esquerda da USP articulando manifesto contra Goulart.

Nem os militares estavam certos de seu sucesso. A posição de Amaury Kruel, comandante do 2º Exército, era desconhecida; Castello Branco era tido como legalista.

CENÁRIO

Avaliações equivocadas não faltavam. O Partido Comunista julgava que os industriais se opunham ao capitalismo americano. O sociólogo Hélio Jaguaribe julgava que o regime tinha como objetivo a desindustrialização. Previsões como a do economista Celso Furtado, julgando que o regime duraria "dois anos", eram descartadas como absurdamente pessimistas.

Demorou-se, concluiu FHC, para entender o que tinha acontecido. E, se é possível dizer que a imagem dos militares como "salvadores da pátria" desapareceu, ele não se sente tranquilo com relação à saúde institucional do país.

O princípio de que todos são iguais perante a lei mal se estabeleceu. Formou-se um presidencialismo de "cooptação", com mais de 30 partidos e 39 ministérios, sem debate de uma agenda nacional. As classes estão fragmentadas, num sistema em que o eleitor real não é o cidadão, mas instituições como empresas, igrejas e clubes de futebol.

Podemos entrar numa "anomia", alertou o filósofo José Arthur Giannotti, seu interlocutor. O que significa falsa democracia, falso Congresso e falso governo. "Não vejo como continuarmos sem reformas institucionais", disse.

Ausente o sociólogo Francisco de Oliveira, por razões de saúde, o debate --organizado pelo Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento), com patrocínio do BNDES e do governo federal-- terminou com os aplausos do público, que ocupava pouco mais da metade do teatro.


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