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Dados dos EUA frustram Comissão da Verdade

Documentos trazidos pelo vice Joe Biden nada revelam sobre crimes ou fatos do período

DE SÃO PAULO

O primeiro lote de documentos enviados ao Brasil pelo governo dos EUA sobre a ditadura militar (1964-1985) não faz nenhuma nova revelação sobre o período.

Anunciada com pompa pela Casa Branca como um gesto para tentar melhorar a relação entre os dois países, estremecida após a crise de espionagem, a entrega dos documentos foi feita pelo vice-presidente Joe Biden em visita ao país no mês passado.

Biden trouxe 43 relatórios, repassados ao Itamaraty, mas cujo destino final era a Comissão Nacional da Verdade --eles abrangem um período de dez anos, de 1967 a 1977.

Nessa quarta-feira (2), o grupo abriu toda a papelada na internet (www.cnv.gov.br).

O vice-presidente norte-americano afirmou que o "projeto especial", como chamou a desclassificação dos papéis, tinha o objetivo de "jogar luz" sobre fatos da ditadura, mas 25 dos 43 documentos trazidos por ele já estavam na internet pelo menos desde 2009.

Somente 18 deles foram desclassificados em maio deste ano e são referentes a episódios ocorridos entre 1967 e 1974, período de maior violência da repressão nos 21 anos de ditadura. Mas não há qualquer informe relevante.

A maioria das informações e telegramas foi elaborada pelos diplomatas americanos que serviam no Brasil à época. Os dados eram enviados ao Departamento de Estado, em Washington.

Num relato de 1973, produzido pela embaixada norte-americana, há detalhes sobre os "interrogatórios psicofísicos", eufemismo utilizado para se referir à tortura.

Aquele foi um ano crucial no enfrentamento entre a ditadura militar e as organizações da esquerda armada, com um grande número de mortos e desaparecidos e prisões de opositores.

O documento elenca os métodos usados pelos agentes da repressão para "extrair informações", como choques elétricos e o pau de arara.

Durante o funcionamento de outras Comissões da Verdade na América Latina, como no Chile, os EUA fizeram acordos semelhantes para a liberação de documentos.

Em relação ao Brasil, é a primeira vez, desde que a Comissão da Verdade foi instalada em maio de 2012, que chega a Brasília papéis americanos sobre o período. Espera-se outros lotes, como o próprio Joe Biden anunciou.

"Os documentos de um país estrangeiro atestam a ocorrência de tortura, coisa que as Forças Armadas, ainda hoje, têm dificuldade de reconhecer", disse Pedro Dallari, coordenador do grupo, referindo-se às recentes sindicâncias de Exército, Marinha e Aeronáutica que concluíram não ter havido "abusos" ou "torturas" em sete unidades militares.

A Comissão da Verdade divulgou nota nesta quarta "lamentando profundamente" as conclusões das Forças Armadas.


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