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Velório de Oscar Niemeyer reúne políticos e provoca fila em Brasília

Cerca de 4.500 pessoas foram ao Palácio do Planalto ver o corpo do arquiteto-símbolo da cidade

Seguido por acenos e palmas de centenas de admiradores, cortejo percorreu os principais pontos da capital

Pedro Ladeira/Folhapress
Observados pela viúva de Niemeyer e pela presidente Dilma Rousseff, soldados carregam caixão com o corpo do arquiteto no Palácio do Planalto
Observados pela viúva de Niemeyer e pela presidente Dilma Rousseff, soldados carregam caixão com o corpo do arquiteto no Palácio do Planalto
DE BRASÍLIA DO RIO

Brasília prestou, na tarde de ontem, as últimas homenagens ao arquiteto-símbolo da cidade. A convite da presidente Dilma Rousseff, a família decidiu velar o corpo de Oscar Niemeyer no Palácio do Planalto, uma de suas obras-primas.

Além de Dilma e de seus ministros, senadores, governadores e os presidentes da Câmara, do Senado e do Supremo Tribunal Federal prestaram homenagem ao arquiteto comunista que projetou edificações-chave da capital.

"Talvez o último comunista, o mais fiel", declarou o neto Carlos Oscar Niemeyer.

A sessão do Senado foi suspensa. O presidente do STF, Joaquim Barbosa, fez pausa no julgamento do mensalão para ir ao velório.

A presidente Dilma puxou as palmas que receberam o corpo do arquiteto no palácio e amparou a viúva, Vera Lúcia, que se emocionou diante do caixão. A presidente ainda decretou luto de sete dias pela morte de Niemeyer.

Até 18h30, cerca de 4.500 pessoas, segundo os cálculos da Polícia Militar, fizeram fila sob o sol forte para ver de perto o homem que criou os monumentos de Brasília.

Na fila esteve Tomé Mendes, 76, que participou da construção da cidade. Seus olhos marejaram quando ele lembrou a visita de Niemeyer às obras da capital, com o então presidente Juscelino Kubitschek (1902-1976).

"Estava passando massa quando ele me disse: 'E aí, meu irmão, fica pronto para o dia 21 [de abril, inauguração da capital]?'"

Representantes do MST (Movimento dos Sem-Terra) cantaram um hino em homenagem ao comunista que, segundo eles, compartilhava os valores do movimento.

Para o ministro Celso Amorim (Defesa), que disse ter conhecido o arquiteto no metrô de Londres, nos anos 1960, ele "é essencial no panteão dos heróis nacionais".

Até chegar ao Palácio do Planalto, o cortejo de Niemeyer atravessou os principais eixos de Brasília. Centenas de pessoas estacionaram os carros nas margens do Eixão, avenida que compõe as asas do "avião" -formato do Plano Piloto da cidade.

Lenços, acenos, palmas e muitas fotos marcaram o cortejo e emocionaram os familiares do arquiteto que acompanhavam o caminhão do Corpo de Bombeiros com o corpo de Niemeyer.

Quando o carro alcançou a catedral, uma das mais distintas obras de Niemeyer na cidade, os sinos badalaram.

No começo da noite, o corpo foi levado de volta ao Rio, onde aconteceria uma cerimônia fechada no Palácio da Cidade, sede da prefeitura. O local seria aberto ao público pela manhã. O enterro estava previsto para ocorrer à tarde, no cemitério São João Batista, em Botafogo.

PASTEL E TRABALHO

Nos últimos dias internado, o arquiteto Oscar Niemeyer pediu pastel e café, além de revelar o desejo de compor mais um samba com enfermeiro Caio Almeida.

Muito emocionada, a mulher do arquiteto, Vera Lúcia, disse que ele vinha apresentando melhoras na última semana. "Ele teve uma reação boa, mas daí começou a ficar quietinho, quietinho. Perdi a pessoa que eu mais gostava no mundo. Vai ser difícil, mas o tempo passa. Não saí de perto dele. Assisti às melhoras e às pioras."

Vera contou que ele permaneceu lúcido até anteontem. Segundo ela, ele tratava muito de trabalho.

"Na segunda, falou: 'Quero comer pastel e tomar café'. Eu disse: 'Tá bom'. Ele falava: 'Tenho que ir embora porque meus trabalhos estão atrasados'. Ele também falava para o enfermeiro: 'Temos que fazer o nosso samba'", lembra a viúva.

"Ele via comigo a revista ['Nosso Caminho', dirigida pelo casal]. Chamava o diagramador para saber como estava ficando", contou ela.

Niemeyer era um paciente irrequieto, para desespero dos enfermeiros que o seguiam havia três anos. "Queria trabalhar o tempo todo", revelou o enfermeiro Uellington Campos da Silva, 32.

Além do trabalho, o arquiteto tinha outro pedido frequente: queria cafunés -que costumava chamar de "cosquinha".


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