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Mulher é cobrada pela aparência, diz bispa

A uma semana da 21ª Marcha para Jesus, Sonia Hernandes, líder da igreja Renascer, fala sobre preconceito e até UFC

'Minha missão é pregar, não julgar', afirma ela, uma das primeiras mulheres a se destacar no meio evangélico

ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER DE SÃO PAULO

"Vitor Belfort, né?" A bispa Sonia Hernandes, 54, é fã de UFC. "Minotauro, Pezão, Anderson Silva... Tudo de bom!", lista mais lutadores que admira --olhos amendoados brilhando; o colar com pingente de pomba (símbolo do Espírito Santo) cravejado de brilhantes, idem.

A Renascer em Cristo, igreja que lidera com o marido, criou até o URF (Ultimate Reborn Fight, ou "a melhor luta do renascido", na qual promove a modalidade entre fiéis). De briga, afinal, ela entende.

Os últimos anos foram uma sucessão de pequenos nocautes: em 2012, foi julgada (e absolvida) pelo Supremo Tribunal Federal por lavagem de dinheiro; em 2011, perdeu seu seguidor mais importante, o jogador Kaká (de quem diz continuar amiga).

Além disso, viu seu primogênito, o bispo Tid, 34, nunca mais sair do hospital após uma malsucedida cirurgia de redução de estômago, em 2009; e no mesmo ano enfrentou o desabamento do teto de uma Renascer na Vila Mariana, na zona sul de São Paulo (com mortos e feridos).

Acha que, por ser evangélica, apanhou muito --fala dos "anos da inquisição no Brasil, quando a gente saía na rua e quase era apedrejado".

IMPÉRIO EVANGÉLICO

O revide veio na forma do império evangélico que montou ao lado do apóstolo Estevam Hernandes, com quem casou aos 19 anos.

A Renascer nasceu no salão alugado de uma pizzaria, em 1986: são, hoje, 810 igrejas no Brasil --242 em São Paulo. Veio do casal a ideia de botar o bloco gospel na rua, com a primeira Marcha para Jesus, em 1993.

Vinte anos depois, espera "milhões" na 21ª edição do evento (foram 335 mil pessoas em 2012, segundo o Datafolha). Será no sábado, na zona norte paulistana, com trios elétricos e atrações musicais.

"A cidade precisa ser mais evangelizada", afirma a bispa, que adotou para si o lema "de bem com a vida".

As 13 letrinhas viraram o nome de seu programa na Rede Gospel (o canal de TV da igreja), de uma Bíblia para mulheres com sua assinatura e de um perfume que lançou.

Na terça passada, Sonia recebeu a Folha na sede da Rede Gospel, em rara entrevista à mídia "secular" (como não evangélicos são chamados).

Para ela, é Deus no céu e o quadro de Romero Britto na parede do número 1.410 da avenida Lins de Vasconcelos, no Cambuci (região central). Encara a tela com uma flor multicolorida: "Nada mais brasileiro do que o Romero".

"Só Carmen Miranda", emenda a religiosa que, tal qual a Pequena Notável e o pintor pernambucano, não passa despercebida.

Agora mesmo reluzem o dourado de suas joias (cinco anéis, brinco com pérola e o colar da pomba) e as lantejoulas azul e verde de sua baby-look, com a palavra "JESUS".

PRECONCEITO

Homem fosse, aposta que o preconceito seria menor. "Eles não têm cabelo pixaim. Se usarem a mesma roupa, ninguém vai falar que o programa é repetido", diz uma das primeiras mulheres a se destacar no meio evangélico, nos anos 1990.

A bispa define como "machismo" apelidos como "perua de Deus". E diz sem embaraço ter sido patrocinada por estilistas como Fause Haten, o casal Glória Coelho e Reinaldo Lourenço e pela joalheria H. Stern.

Ser feminina está em seu sangue árabe --ela é Sonia Haddad Morais Hernandes e compartilha, além de um sobrenome, a origem libanesa com o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad.

Já na juventude, formou-se nutricionista, abandonou um estágio no Hospital das Clínicas em menos de uma semana por não aguentar o baque da ala de queimados.

No dia da entrevista, um projeto que autoriza psicólogos a promoverem a "cura gay" foi aprovado em comissão na Câmara dos Deputados.

Poucas horas antes, ela discorria: "A igreja é aberta. Jesus veio para os doentes. Quero nem falar que é doença. Se falar doença comportamental, então mulher que toma bola pra emagrecer também é". "Minha missão é pregar o evangelho, não é julgar".


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