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Além da redução da tarifa
Integrantes de grupos que protestam na região listam motivos que os levaram às ruas
A queda no preço da tarifa de ônibus não foi o único motivo a levar milhares de manifestantes às ruas das principais cidades da região nas últimas duas semanas. A falta de representatividade nas decisões dos políticos e a ação da Polícia Militar nos eventos na capital foram catalisadores dos movimentos.
A Folha ouviu integrantes dos movimentos que lideraram os protestos em Ribeirão Preto, São Carlos e Araraquara sobre os motivos que os levaram às ruas. Relataram as manifestações como uma forma de buscar direitos que estavam esquecidos pela população e seus representantes.
"O contexto do Brasil é diferente do do resto do mundo", afirmou Jonas Paschoalick, 31, dos movimentos Panelaço e Se Vira Ribeirão. "Aqui a gente passa por uma crise política, de representatividade, e não de crise econômica como na Europa."
Professor de história e sociologia, ele acabou de se demitir do cargo na rede estadual por não concordar com o ensino oferecido. "Não concordo com a escola, desde sua arquitetura até a relação entre professor e aluno."
Para ele, as escolas não podem ser hostis quanto à produção de conhecimento. "Temos que oferecer grandes possibilidades de conhecimento e isso não inclui divisão por salas ou séries."
Ele disse ainda que os protestos são resultados de uma geração "pós-terror", que nasceu na democracia e que não aceita a repressão como a enfrentada pela geração anterior, da ditadura militar.
"Os jovens de agora não aceitam a repressão da PM. E o que aconteceu [depredações] não pode ser considerado vandalismo. É uma resposta à opressão", disse.
Cursando o terceiro ano de medicina na USP (Universidade de São Paulo) Ribeirão Preto, André Correa de Almeida, 22, afirmou que busca sempre inserir os colegas nas discussões políticas.
"Existe uma resistência à política que precisa ser quebrada", disse ele, presidente do centro acadêmico da faculdade e que organizou dois ônibus com alunos para participar de atos na capital.
"A porteira foi aberta e todo mundo saiu protestando pelos seus direitos", disse.
Para Almeida, muitos dos manifestantes poderiam não entender de política, mas o fato de irem para as ruas já significou um avanço.
"Eles se preocupam com um futuro melhor", disse.
Sobre a polêmica decisão do governo brasileiro de trazer médicos do exterior para atuar no SUS (Sistema Único de Saúde), o estudante não vê problemas. "O que precisa ser feito é melhorar onde eles vão atuar", disse.
Em São Carlos, o estudante do último ano de engenharia ambiental da USP Pedro Mattos, 22, disse que o pano de fundo dos protestos é a vontade das pessoas de se tornarem protagonistas.
Na cidade, eles defendem a municipalização do transporte coletivo e a tarifa zero.
"Porém, como isso ainda é um objetivo distante, queremos a redução da tarifa para R$ 2,50", disse. Em São Carlos, o preço da passagem caiu de R$ 2,75 para R$ 2,65.
Para Lucas Ferreira, 22, do terceiro ano de economia da Unesp de Araraquara, os protestos também foram resultado da violência da polícia e da falta de representatividade. "Os políticos não têm cumprido seu papel e a truculência ficou marcada."