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UFSCar abriga maior acervo de pegadas fósseis do país

Professor visitou pedreira por 7 anos em busca de vestígios pré-históricos

Pedras guardam registros de espécies de mamíferos primitivos, dinossauros e até besouros e aranhas

REINALDO JOSÉ LOPES COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE SÃO CARLOS

Uma sala simples e espaçosa da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos) abriga o maior acervo de pegadas fósseis do país, montado com paciência e doses consideráveis de improvisação por um paleontólogo nascido em Araraquara.

Entre 1998 e 2005, Marcelo Fernandes, com a ajuda da mulher, visitou uma pedreira de sua cidade, conseguindo doações e, depois, pagando do bolso por 800 lajes de pedra.

Elas guardam o registro da passagem de diversas espécies de dinossauros, mamíferos primitivos e até besouros e aranhas pelo deserto que recobria o interior do Brasil há 140 milhões de anos.

Com mais de 1 milhão de km2, o chamado paleodeserto Botucatu era relativamente escasso em formas de vida, mas tudo indica que uma das bordas, com oásis e outras fontes de água, ficava em Araraquara, o que possibilitou a preservação dos vestígios.

Fernandes, hoje professor da UFSCar, conta que soube das pegadas aos 16 anos, quando viu menções a dinossauros do interior numa edição da revista "Ciência Hoje".

Ocorre que o calçamento de Araraquara e até as colunas da catedral de São Carlos foram feitos com pedras nas quais pegadas pré-históricas foram preservadas.

Um dos primeiros a estudá-las foi o padre e paleontólogo italiano Giuseppe Leonardi. "Lembro de ter pensado: tem dinossauro na minha cidade? Que legal!"

Fernandes coletou material nas pedreiras locais com amigos na juventude ""uma laje ficou anos e anos sob uma laranjeira da casa dele. O interesse ficou mais sério quando ingressou em biologia da UFSCar, nos anos 1990.

Fazendo doutorado em paleontologia, passou a visitar a pedreira São Bento,hoje desativada. Primeiro, os funcionários cediam o material.

"Mas, pelo fato de eu ir muito, o dono não quis mais que eu simplesmente coletasse a laje, que já estava separada para venda, para calçamento", diz. "Aí ele começou a cobrar uns R$ 50 pelo metro quadrado da laje bruta."

O proprietário chamava as pegadas de "defeitos". Em geral, eram viradas para baixo na montagem do calçamento, para evitar que as pessoas se atrapalhassem ao pisar.

Diz não saber quanto gastou, mas as maiores pegadas, retratando o andar de um dinossauro herbívoro do tamanho de um elefante, estão numa laje de R$ 500. No fim, sua casa estava com corredores tão cheios de pegadas fósseis que ele tinha dificuldade para passar com sua moto.

DE CASA PARA O CAMPUS

O fim da situação um tanto mambembe veio quando ele foi aprovado em concurso na UFSCar em 2006 --pouco a pouco, o caminhão da universidade levou a coleção para a sala onde está hoje.

A rigor, ele não poderia ter comprados os fósseis --por lei, são bens da União. "Mas eu sempre tive o respaldo da Prefeitura de Araraquara, por exemplo, com a intenção de transferir os fósseis para uma instituição pública, o que acabou ocorrendo no caso da universidade", ponderou.

Fernandes disse que a preservação das pegadas depende de fatores como a presença de umidade sob as dunas pelas quais os bichos caminhavam e a direção do vento.

Se areia estivese depositada sobre o trecho da duna por onde os bichos tinham passado, havia mais chance de preservação. A própria pedreira é uma duna pré-histórica, com 100 m de comprimento por 20 m de altura.

A coleta já rendeu descobertas importantes, como o primeiro urólito --"xixi fossilizado"-- de dinossauro. "A laje já estava no caminhão, pronta para virar calçada de uma fazenda em Campinas."


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