Vivências inspiram ator em 'Treze Dias Longe do Sol', que estreia na Globo

Crédito: Reinaldo Marques/Globo O ator baiano Fabrício Boliveira viverá Marco Antônio, chefe de equipe de bombeiros na série 'Treze Dias Longe do Sol'
Fabrício Boliveira vive Marco Antônio, chefe de equipe de bombeiros na série 'Treze Dias Longe do Sol'

GUSTAVO FIORATTI
DE SÃO PAULO

Fabrício Boliveira se viu em uma situação nada usual no fim do ano passado: acabou preso em uma confusão envolvendo torcedores e a polícia, que interveio usando gás lacrimogêneo, antes de um jogo do Flamengo.

O ator cumpria uma pesquisa para um filme de Eryk Rocha centrado na figura de taxistas cariocas. O exercício consistia em circular pelas ruas do entorno do Maracanã em um táxi, ao volante.

"Foi dantesco", diz, "de uma violência que eu nunca presenciei". "Vi muitas famílias, gente de cadeira de rodas, de muletas, crianças, todos tomando bombas de gás lacrimogêneo da polícia. Vi um cara ser espancado. Pessoas quebrando carros. Muita gente pedindo ajuda. E a gente tentava ajudar."

A passagem do ator pela multidão formada após a partida fazia parte de uma série de "missões". Registradas com câmera, elas estabelecem uma espécie de jogo de cena, com um protagonista fictício, o Paulo, que deixa o terreno do drama para interferir em situação reais.

Durante o trabalho, ele recolhe depoimentos de outros taxistas e executa tarefas da profissão.

O laboratório integra um fase de pré-roteirização e, diferentemente de laboratórios que servem apenas para construções psicológicas, pode render material a ser editado no longa-metragem.

Boliveira não sabe qual será o resultado, ainda em discussão. O filme não tem data de estreia definida.

Uma ideia, porém, está fechada. Mais do que falar do taxista velho de guerra, Boliveira e Rocha querem retratar um tipo de profissional que foi empurrado pela crise econômica para a atividade.

Ele os chama de "novos taxistas": "É o cara que tinha uma outra carreira, mas que, com a crise do país, fica sem emprego, sem perspectiva, e vai para a rua".

Em entrevista à Folha, o ator descreve, inclusive em trabalhos mais convencionais, atividades que se aproximam da reportagem.

Crédito: Reinaldo Marques/Globo O ator baiano Fabrício Boliveira viverá Marco Antônio, chefe de equipe de bombeiros na série 'Treze Dias Longe do Sol'
Fabrício Boliveira vive Marco Antônio, chefe de equipe de bombeiros na série 'Treze Dias Longe do Sol'

Foi assim que compôs Marco Antônio, o bombeiro da série "Treze Dias Longe do Sol", que tem atores como Selton Mello, Débora Bloch e Paulo Vilhena no elenco.

A série da Globo estreia nesta segunda (8), depois de ter sido lançada, em novembro, no site Globo Play.

A imersão de Boliveira no Corpo de Bombeiros foi para forjar Marco Antônio, o sujeito que, na série, comanda o resgate de soterrados após a queda de um edifício.

Um dos depoimentos recolhidos pelo ator veio de uma mulher que assume, na corporação, a função de dialogar com pessoas que estão prestes a cometer suicídio.

"Ela contou histórias muito delicadas, de pessoas que não conseguiu resgatar. Contou isso chorando. E é uma profissional que faz isso com frequência, imagina como o trabalho mexe com ela", diz.

INQUIETO

Nascido em Salvador, o quinto de quatro irmãos, Boliveira tem perfil inquieto; na infância, sua mãe punha uma meia em uma das suas mãos durante a refeição, porque a ansiedade fazia com que ele comesse com as duas.

Começou sua carreira antes de se formar, na peça "Capitães de Areia", junto à Cia Baiana de Patifaria, tradicional grupo de comédias.

Deslanchou como ator múltiplo em participações no cinema (protagonizou "Faroeste Caboclo", 2013, e fez "Vazante", 2017, entre tantos) e na TV ("Cidade dos Homens" e, como Saci, no "Sítio do Picapau Amarelo").

O sucesso não o desviou de um circuito bastante experimental de um outro campo de expressão, a dança. Atualmente, faz trabalhos com a Demolition Incorporadora, companhia do coreógrafo piauiense Marcelo Evelin, criador de "Batucada".

Nela, 50 intérpretes mascarados ocupam um espaço sem cadeiras —o espectador fica em pé. A pequena multidão de atores penetra a audiência em fluxos contínuos, assumindo formas de passeata, de arrastões, de bandas de percussão.

Boliveira costuma estar bem ali, na aglomeração.

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.