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23/04/2012 - 19h13

Relatório destaca influência britânica sobre grupos que inspiraram Breivik

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MARK TOWNSEND
DO "GUARDIAN"

A rede internacional de grupos de combate à Jihad que inspirou Anders Behring Breivik está ganhando alcance e influência, de acordo com um relatório divulgado na véspera da abertura do julgamento do norueguês.

Heiko Junge/Reuters
Anders Behring Breivik ergue o punho em sua chegada à sala da corte na segunda (16), em Oslo, na Noruega
Anders Behring Breivik ergue o punho em sua chegada à sala da corte na segunda (16), em Oslo, na Noruega

As organizações de extrema direita estão se tornando mais coesas, à medida que formam alianças pela Europa e nos Estados Unidos, diz o estudo, que identifica 190 grupos como proponentes de uma agenda de antagonismo ao Islã.

Breivik está sendo julgado em Oslo, depois de ter confessado o homicídio de 77 pessoas na Noruega em julho passado, em uma chacina que ele justificou como parte de uma "guerra" entre o Ocidente e os extremistas islâmicos.

O relatório, produzido pelo grupo Hope Not Hate de combate ao racismo, afirma que, desde o morticínio na Noruega, o movimento de combate à Jihad --uma rede de fundações, blogs, ativistas políticos e gangues de rua-- continua a proliferar.

Os ativistas mencionam a formação do grupo Sion (Stop the Islamization of Nations), três meses atrás, cujo objetivo é coordenar as ações de organizações de combate à Jihad na Europa e nos Estados Unidos, como indicação de uma evolução internacional.

A primeira conferência de líderes do movimento Sion está marcada para Nova York, este ano, e coincidirá com o aniversário dos ataques do 11 de setembro. Os palestrantes devem incluir Paul Weston, presidente do conselho do Partido da Liberdade Britânica (BFP), adversário do islamismo, que recentemente anunciou um acordo com a Liga de Defesa Inglesa (EDL). No manifesto que Breivik postou na internet 90 minutos antes de seus ataques, ele mencionou posts no blog de Weston nos quais este discutia uma "guerra civil europeia" entre o Islã e o Ocidente.

POLO EUROPEU

Os pesquisadores do Hope Not Hate apontam para o Reino Unido como um dos mais ativos polos europeus de extremismo contra a Jihad, com 22 grupos anti-islâmicos atualmente em operação.

Na Europa como um todo, 133 organizações foram identificadas pelo relatório, entre as quais sete na Noruega; outras 47 foram identificadas nos Estados Unidos, onde uma rede de organizações neoconservadoras, evangélicas e conservadoras está tentando difundir percepções negativas sobre o Islã, as minorias muçulmanas e a cultura islâmica.

Nick Lowles, diretor da Hope Not Hate, afirmou que "Breivik agiu sozinho, mas foi a ideologia contra o Jihad que o inspirou e ofereceu a ele um arrazoado que justificasse seu atroz ataque. Todos os olhares esta semana estarão voltados ao que Breivik fez em julho do ano passado, mas é imprudente ignorar as pessoas que o inspiraram".

Andreas Mammone, historiador na Universidade Kingston, em Londres, e especialista em fascismo europeu, afirmou que fatores mais amplos ajudaram o movimento de oposição à Jihad a consolidar seu apoio. "A crise econômica continua promovendo o nacionalismo e a necessidade de um inimigo comum. Há um medo do islamismo radical em desenvolvimento, uma ideia de que isso representa ameaça à nossa liberdade", disse.

O relatório também identifica os nomes mais influentes da rede antijihad, entre os quais o de Stephen Yaxley-Lennon (ou Tommy Robinson), o líder da EDL, mas também o da magnata imobiliária londrina Ann Marchini, que tem seu nome em uma lista de doadores de fundos à EDL que teria patrocinado conferências antijihad na Escandinávia, Bruxelas, Zurique e Londres.

Marchini participou de uma reunião recente na qual a EDL e o BFP fecharam um acordo eleitoral, e ao que se sabe também está envolvida com a ala britânica do Centro pela Liberdade Vigilante (CVF), e com um grupo norte-americano dotado de amplo capital e que recentemente adotou o nome de Aliança Internacional pelas Liberdades Civis (Icla), sediado em Fairfax, Virgínia, e envolvido na coordenação de atividades de ações individuais e coletivas em 20 países.

A Icla também opera o site Counter-Jihad Europa, que funciona como "central de troca de informações entre as iniciativas nacionais de oposição à islamização da Europa". Três meses depois dos ataques de Breivik, a Icla organizou uma conferência de oposição à Jihad em Londres com a ajuda de seu coordenador europeu, Christopher Knowles, outro cofundador da EDL e diretor do ramo britânico da CVF, registrado em Wakefield.

NOVOS GRUPOS

Novos grupos anti-islâmicos continuam a emergir. Duas semanas atrás, na Dinamarca, Yaxley-Lennon conduziu a reunião inicial de uma rede europeia de ligas de defesa. Outro novo grupo, fundado na Bélgica no mês passado, é o Mulheres contra a Islamização, uma rede pan-europeia cuja reunião inaugural contou com discurso de Jackie Cook, mulher de Nick Griffin, o presidente do Partido Nacional Britânico (BNP).

Na Grécia, pesquisas de opinião pública indicam que o Aurora Dourada, um movimento ultranacionalista, pode conquistar o mínimo de 3% dos votos necessário a garantir assentos no Legislativo, na eleição do mês que vem.

Outro desdobramento é o estabelecimento de elos mais firmes entre organizações anti-islâmicas europeias e norte-americanas. A blogueira norte-americana Pamela Geller é uma das figuras chaves nessa aproximação transcontinental. Geller, a presidente da Sion, foi mencionada no manifesto de Breivik e foi uma das mais veementes opositoras ao projeto de construção de uma mesquita no marco zero de Manhattan, em 2010.

O cofundador do Sion é o dinamarquês Anders Gravers, organizador do Stop Islamisation of Europe. Gravers se reuniu com Yaxley-Lennon na Dinamarca um mês atrás.

Os ativistas estão preocupados com a possibilidade de que grupos neoconservadores evangélicos dos Estados Unidos comecem a fornecer recursos a essas organizações. Imagens de manifestações da EDL já estão sendo usadas nos eventos de arrecadação de verbas do movimento Tea Party, e dirigentes de grupos como Rede de Ação Cristã se reuniram com ativistas do EDL.

Outras conexões entre os Estados Unidos e o Reino Unido incluem o Gates of Vienna, um blog anti-islâmico da Virgínia com o qual Breivik colaborava. À medida que as atenções se voltam para a Noruega, os especialistas apontam para o fato de que o país não tem é o único a apresentar nível semelhante de penetração de movimentos de combate à Jihad. Entre os fóruns on-line com os quais Breivik tinha conexões, estão blog nacionalista document.no, no qual Breivik postou mais de cem comentários.

Breivik, um admirador da EDL, também defendia na rede a Liga de Defesa Norueguesa, que tem elos estreitos com sua organização irmã na Inglaterra.

Tradução de PAULO MIGLIACCI.

 

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