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20/08/2012 - 16h37

Ativistas planejam guerrilha contra pesca ilegal de atum no Mediterrâneo

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JOHN VIDAL
DO "GUARDIAN"

O Black Fish, no momento, é um pequeno grupo de ativistas cuja proposta é ação direta no mar. Mas, se tudo sair como planejado, o grupo, no final do ano, pode estar conquistando manchetes com uma campanha em modo de guerrilha contra a pesca ilegal em águas europeias.

Com um nome que se refere ao termo usado para designar peixes pescados ilegalmente, o grupo com sede em Amsterdã tem orçamento de apenas alguns milhares de libras ao ano e não paga salários aos seus integrantes, mas conta com contatos e ativistas em toda a Europa, o que inclui o Reino Unido. Dentro de algumas semanas, espera ter arrecadado £ 500 mil em doações de simpatizantes europeus para comprar seu primeiro barco, uma embarcação antes usada pela guarda costeira.

O objetivo será promover confrontos escancarados em alto mar. A primeira ação do Greenpeace foi navegar às ilhas Aleutas para impedir testes com armas nucleares. Os 12 tripulantes da embarcação do Black Fish viajarão ao Mediterrâneo, onde planejam passar três anos enfrentando os pescadores ilegais, e esperam causar embaraços às companhias comerciais e persuadir as autoridades europeias a proibir completamente a pesca de espécies ameaçadas de peixes, como o atum-rabilho. O grupo libertou peixes dessa espécie que estavam sendo criados em confinamento ao largo da Croácia.

A cada ano, de 30 mil a 40 mil toneladas de atuns são pescados legalmente no Mediterrâneo e conduzidos em redes para criações no mar da Croácia e em outras áreas. Os peixes muitas vezes passam por diversos meses de engorda até que atinjam o peso pretendido, de cerca de 250 quilos, e então são vendidos, principalmente para o Japão, onde um atum de 269 quilos foi comprado este ano pelo preço recorde de quase meio milhão de libras.

ALERTA DE COLAPSO

A maior parte das criações de atuns do Mediterrâneo opera de maneira responsável, mas a disparada nos preços encoraja as traineiras a exceder consideravelmente suas cotas e a pescar muitos atuns jovens. O resultado, de acordo com o grupo ecológico WWF, é que até 20 mil toneladas de atuns são pescados ilegalmente a cada ano. O número de peixes repostos despencou nos cinco últimos anos, o que sugere que todo esse setor pode entrar em colapso dentro de cinco anos, talvez sem chance de recuperação.

O comércio do atum será o alvo primário do Black Fish. "Já encontramos o barco --estamos a ponto de comprá-lo. A tripulação já se preparou para abrir mão de suas vidas pessoais, e estamos prontos para partir", diz Wietse van der Werf, ativista ambiental holandês que viveu em Nottingham por seis anos, trabalhando com a organização Earth First!. Ele foi um dos co-fundadores do grupo de mídia comunitária Notts Indymedia.
O Black Fish se vê como organização jovem e ágil, e a maior parte de seus fundadores e integrantes tem menos de 30 anos; isso significa que não precisam enfrentar as desvantagens causadas pela burocracia das organizações maiores.

A FUGA DOS ATUNS

No mês passado, o grupo libertou milhares de atuns confinados, em valor de milhões de libras no mercado japonês, depois que os ativistas identificaram diversas áreas ao largo da Croácia nas quais os peixes passavam por engorda. Apesar da presença de barcos de patrulha e uma torre de vigilância, membros do grupo cortaram uma das redes e puderam assistir à fuga de uma torrente prateada do mais caro peixe do mundo, escapando rumo ao Adriático. De acordo com o grupo, milhares de atuns de todas as idades e tamanhos escaparam.

Em outra ação bem-sucedida, um pequeno grupo de mergulhadores do Black Fish foi ao Japão e cortou as redes de seis áreas de confinamento em Taiji que abrigavam golfinhos destinados a parques temáticos internacionais. O grupo também venceu uma batalha pelo fechamento de um aquário alemão cuja especialidade eram os golfinhos.

Van der Werf, que é vegan e diz ter conhecido Mark Kennedy, o espião da polícia, quando este infiltrou seu grupo em Nottingham, viajou duas vezes à Antártida com o Sea Shepherd, grupo conservacionista dirigido por Paul Watson, para combater os baleeiros japoneses. Em 2010, ele ajudou Watson a libertar 800 atuns ao largo da costa da Líbia, ação que conduziu a um processo judicial encerrado alguns meses atrás.

"Saí sem nada do Sea Shepherd. Tomei £ 500 emprestadas ao desembarcar, para estabelecer meu novo grupo, e não demorei a gastar £ 450. Ninguém está sendo pago, mas podemos contar com web designers, escritórios de advocacia e especialistas em pesca", disse van der Werf, que estudou para ser luthier.

"Descobrimos que não é preciso ser grande como o Greenpeace ou o Sea Shepherd, com milhões de libras em orçamento e grandes equipes. É possível começar pequeno, ser flexível. Queremos deixar para trás o complexo de heroísmo e encorajar as pessoas comuns a defender os oceanos", afirma.

"O Greenpeace e o Sea Shepherd nos inspiraram, mas não precisamos de mais uma organização parecida, agora. O necessário é um movimento mais social de pessoas dispostas a trabalhar pela proteção do mar. Os grupos ecológicos falam o idioma dos políticos e dos parlamentares. Há uma distância cada vez maior entre eles e o público. Tenho dificuldade para compreender seus relatórios. Queremos inspirar outras iniciativas locais", diz.

AÇÕES DIRETAS

O Black Fish se posiciona firmemente entre os grupos ecológicos que não aceitam compromissos. "Não queremos ser testemunhas; queremos impor o cumprimento da lei. Queremos provas de ações ilegais, e estamos preparados para conduzir ações diretas. Não queremos só conscientizar, mas promover a mudança. Queremos ser julgados por nossas ações e agir de modo efetivo", diz van der Werf.

"Contamos com apoio crescente do público --agentes de alfândega, maquinistas de metrô, toda espécie de pessoa", diz.

Ele alega contar com apoio tácito da maioria dos grupos ecológicos europeus, mas seu grupo certamente entrará em conflito com aqueles que defendem a reforma das práticas de pesca e não um corte absoluto no volume pescado. A campanha de Hugh Fearnley-Whittingstall e Jamie Oliver para proibir o descarte de peixes jovens que não podem ser vendidos nos mercados da União Europeia e por isso são devolvidos ao mar conquistou destaque, mas é insuficiente, na opinião de van der Werf. "Na prática, eles querem dizer que isso é um desperdício de peixe; melhor consumir os animais em vez de descartá-los", afirma.

A "pesca sustentável" promovida por supermercados e alguns grupos conservacionistas é totalmente insustentável, diz van der Werf. "É uma opção sentimental, mas sem sentido prático. A pesca sustentável não ajudou a reduzir o excesso de pesca. Serve só para legitimar a pesca destrutiva".

O grupo está desafiando o sistema a mudar. "Governos e algumas das grandes organizações ambientais dizem que a 'aquacultura', ou seja, a criação e pesca de peixes em cativeiro, é o caminho para o futuro, e que o setor só precisa 'limpar suas atividades'. Mas uma indústria como essa seria capaz de limpar suas atividades? Os governos fracassaram ao permitir que esse lucrativo setor escapasse ao controle", o grupo afirma em seu site.

Van der Werf acrescenta que "o fato é que 85% das espécies estão sujeitas a pesca excessiva. A corrupção domina os oceanos. Se nada for feito, não restarão peixes".

Tradução de Paulo Migliacci

 

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