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01/09/2012 - 09h00

Pais mais velhos transmitem mais mutações genéticas, mostra estudo

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ALOK JHA
DO "GUARDIAN"

A alta na idade de paternidade pode estar influenciando a incidência aumentada de condições como a esquizofrenia e o autismo, apontaram cientistas como resultado de novas pesquisas segundo as quais pais mais velhos transmitem mais mutações genéticas a seus filhos.

Uma criança normalmente tem 60 novas mutações transmitidas por seus pais em sua sequência genética (de um total de mais de três bilhões de letras de ADN). A despeito de constituírem fração ínfima da sequência, essas diferenças são a raiz de boa parte da diversidade nos genomas humanos e, em períodos prolongados de tempo, representam força significativa na evolução humana.

"A maioria dessas mutações parece ser neutra", disse Kari Stefansson, presidente-executivo da deCODE Genetics, da Islândia, que dirigiu as mais recentes pesquisas, publicadas na edição de quarta-feira da revista "Nature".

"Ocasionalmente o efeito será adverso, e conduzirá a doenças. Com baixíssima frequência, uma dessas mutações conferirá ao portador uma vantagem seletiva. Demonstramos que algumas dessas mutações ocorrem em genes que foram indicados em doenças como o autismo e a esquizofrenia", ele afirma.

TROCANDO LETRAS

Uma mudança de uma única letra em um gene chamado APP pode conferir proteção contra o Mal de Alzheimer, e ajudar as pessoas a viver mais tempo, por exemplo, enquanto uma mudança em uma única letra no gene CFTR causa fibrose cística. Mudanças de letra única semelhantes em diversos genes são responsáveis pela anemia de células falciformes e até mesmo pelo daltonismo.

Stefansson diz que um pai de 40 anos tem probabilidade aproximadamente duas vezes maior de conceber um filho que desenvolva de autismo, se comparado a um pai de 20 anos, ainda que o risco geral seja baixo em ambos os casos. A elevação no fator de risco para a esquizofrenia é semelhante. "E incrivelmente importante reconhecer que, mesmo que o risco de conceber um filho portador de esquizofrenia seja duas vezes maior para um pai de 40 anos do que para um pai de 20 anos, em ambos os casos esse risco não ultrapassa o 1%"., disse Stefansson.

Ele insta os pais a não se preocuparem quanto a ter filhos quando mais velhos. "Isso é um fato da vida há séculos - nada muda com essa descoberta. Ela apenas nos oferece a oportunidade de quantificar as mudanças que acontecem nos genomas", disse.

Stefansson espera que seu trabalho gere uma mudança de foco, do aumento na idade de maternidade para o aumento da idade de paternidade, no que tange aos distúrbios de desenvolvimento infantis.
Alexey Kondrashov, do departamento de ecologia e biologia evolutiva da Universidade do Michigan, afirma em artigo analítico paralelo para a "Nature" que "nos seres humanos, até 10% das mutações pontuais são adversas, e por isso as constatações [de Stefansson] sugerem que cada bebê porte seis variações adversas. Ainda que a maioria dessas mutações tenha efeitos amenos, elas podem, coletivamente, exercer impacto de saúde considerável".

A equipe de Stefansson estudou os índices de mutação em 78 trios de pais e filhos na Islândia e constatou que um pai de 20 anos transmite, em média, 25 mutações a seu filho, enquanto um pai de 40 anos transmite cerca de 65.

UM ANO QUE PASSA

Cada ano adicional na idade do pai significa duas mutações adicionais para a criança. Em comparação, o número de mutações transmitidas pela mãe é sempre de cerca de 15, não importa sua idade.
Na Islândia, onde o estudo foi conduzido, a idade média dos pais na concepção de um bebê subiu de 27,9 anos em 1980 para 33 anos em 2011, principalmente devido à elevação no nível educacional e ao uso mais frequente de anticoncepcionais.

No Reino Unido, a idade média dos pais era de 32,4 anos em 2008, ante 31,5 uma década antes.

Os distúrbios do espectro do autismo têm certos gatilhos genéticos, ao que se sabe, e uma incidência maior de mutações transmitidas pelo pai pode ser um fator.

Kondrashov disse que não é surpresa que distúrbios nas funções cerebrais, tais como autismo, esquizofrenia, dislexia e inteligência reduzida pareçam ser afetados de maneira especial pela idade do pai. "Isso é compatível com o fato de que mais genes são expressados no cérebro do que em qualquer outro órgão, o que significa que a fração de mutações novas que afetarão suas funções é a mais alta".

PRODUÇÃO CONTÍNUA

Ele acrescentou que a razão para que pais mais velhos transmitam mais mutações pode ser explicada facilmente pelo fato de que, "nos mamíferos, as células germinais masculinas (espermatozoides) são produzidas continuamente, e por isso passam por muito mais divisões celulares no curso de uma geração do que as células germinais femininas (óvulos), que não se dividem ativamente em indivíduos em idade de reprodução".
Darren Griffin, professor de genética na Universidade de Kent, disse que ainda que os efeitos observados por Stefansson sejam significativos, não deveriam necessariamente causar preocupação séria entre os homens mais velhos que querem ser pais. "Esse estudo considera apenas as mudanças de letra única no ADN. No entanto, os danos gerais no ADN do espermatozoide e grandes mudanças genômicas (ou seja, de cromossomos) relacionadas à idade nos óvulos precisam ser consideradas. O efeito da idade materna sobre as anomalias cromossômicas é muito mais forte e mensurável".

Allan Pacey, andrologista da Universidade de Sheffield e presidente da Sociedade Britânica de Fertilidade, disse que havia sido uma surpresa constatar que homens transmitiam maior número de mutações a seus filhos do que as mulheres.

"Embora não desejemos assustar os filhos de pais mais velhos, informações como essas são importantes para a nossa compreensão e deveriam nos lembrar que a natureza nos projetou para ter filhos o mais jovens que pudermos, e que homens e mulheres não deveriam postergar a procriação, se isso for possível para eles".

Tradução de Paulo Migliacci.

 

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