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20/10/2012 - 15h00

Por que Netanyahu está tão perto da reeleição

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HARRIET SHERWOOD
DO "OBSERVER", Em JERUSALÉM

Numa ponta, do outro lado da Linha Verde, fica um assentamento judaico; a outra extremidade está próxima do lúgubre memorial às vítimas do Holocausto, o Yad Vashem. Entre ambas, o VLT (veículo leve sobre trilhos) atravessa bairros palestinos, contorna enclaves ultraortodoxos, roça os muros da Cidade Velha, vira na histórica rua Jaffa, passa pelo caótico e colorido shuk (mercado), cruza a deslumbrante ponte das Cordas, na entrada da cidade, e sobe o monte Herzl, onde repousam os soldados caídos de Israel. É uma jornada emblemática, e também literal, por Jerusalém.

Dentro dos seus eficientes vagões viaja um microcosmo da complexa população da cidade: todos os graus de judaísmo --do laico de cabeça descoberta ao ultraortodoxo de chapéu preto--, palestinos, soldados de farda cáqui, imigrantes russos recém-chegados, turistas e peregrinos. Parece adequado, depois do anúncio na semana passada de que Israel terá eleições gerais em janeiro, tomar o pulso político da cidade ao longo da artéria do VLT.

Abir Sultan/Efe
Netanyahu, em discurso no Parlamento, afirma que o programa nuclear do Irã é desafio à segurança de Israel
Netanyahu, em discurso no Parlamento, afirma que o programa nuclear do Irã é desafio à segurança de Israel

"Bibi vai ganhar", diz com desdém Ran Huri, chamando o atual primeiro-ministro, Binyamin Netanyahu, por seu apelido. "Ele é carismático, e tem coragem de dizer o que pensa. E a maioria das pessoas em Israel é direitista." Huri, 26, que está esperando um trem para o assentamento de Pisgat Ze'ev, pretende votar no pequeno partido Lar Judaico, pró-colonos, mas a exemplo de outros considera a vitória de Netanyahu inevitável.

"Não há ninguém melhor do que ele", diz Shmuel Moshe, tomando conta da sua pitzutzia --lojinha de cigarros, bebidas e loterias-- perto dos trilhos do VLT. "Não há ninguém que possa batê-lo. Todos os demais vão destruir o país."

"O Bibi está com 33%, e Shelly Yacimovich [sua adversária mais próxima] está com 20%. É difícil acreditar que essa diferença mude", diz o soldado Mishael Kinkulkin, 20, tomando café no shuk com seu rifle de assalto atravessado sobre as pernas. "Vou votar nos trabalhistas porque acredito em ajudar a parte mais fraca da sociedade, mas no fim das contas a questão mais importante é sempre segurança. E é por isso que o Bibi vai ganhar."

"Com certeza o Likud [partido de Netanyahu] vai levar. Não tem mais ninguém. Só Netanyahu. Bibi é um bom economista, e é duro na segurança", disse Yaakov Halima, 79, um judeu de origem iraquiana que há 60 anos vota no Likud em todas as eleições. "A segurança é a questão mais importante. Não tem ninguém morrendo de fome aqui, todo mundo tem um pouco."

A imigrante russa Ivgenia Istavski, 56, diz que não entende de política e não decidiu seu voto. "Mas o Bibi vai ganhar", diz ela, entrando no trem com um carrinho de feira, a caminho do mercado.

LÍDER NO HORIZONTE

As pesquisas reforçam as opiniões desses hierosolimitas aleatórios. O "Israel Hayom", jornal gratuito pertencente a Sheldon Adelson, magnata dos cassinos nos EUA (e também principal financiador do candidato republicano Mitt Romney), previu que o Likud terá 29 das 120 vagas no Parlamento. O Partido Trabalhista, seu rival mais próximo, tem previsão de conquistar 20 vagas. O Yisrael Beiteinu, de Avigdor Lieberman, ficaria com 15, e outros partidos comporiam o restante. Uma pesquisa do "Haaretz" deu 68 vagas ao bloco direitista. Nas avaliações pessoais, Netanyahu teve o apoio de 57% dos eleitores --mais do que o dobro da sua rival mais próxima.

De acordo com Tamar Hermann, da Universidade Aberta de Israel, "Netanyahu é o único líder no horizonte --não há outra figura na cena política de Israel que se iguale a ele em experiência, capacidade e clareza de opiniões". Além disso, acrescenta ela, ele é um linha-dura em questões de segurança.

Parece quase certeza que ele irá liderar outro governo de coalizão, como resultado do sistema eleitoral israelense de representação proporcional. "O equilíbrio entre os blocos de esquerda e de direita vai continuar mais ou menos o mesmo, não há um movimento real", afirma Avraham Diskin, cientista político da Universidade Hebraica de Jerusalém.

À esquerda, o Partido Trabalhista tem se recuperado parcialmente após uma década de disputas internas, mas sua líder, a ex-jornalista Shelly Yacimovich, é vista como inexperiente, especialmente em matéria de segurança, defesa e política externa. Ela transferiu o foco do partido do processo de paz com os palestinos para questões econômicas e sociais, que eleitores colocam entre suas maiores preocupações. As pesquisas preveem que os trabalhistas podem passar dos seus atuais oito deputados para 17. O Meretz, à esquerda do Partido Trabalhista, e o Hadash, um partido da comunidade árabe-israelense, têm previsão de elegerem três ou quatro deputados.

O declínio da esquerda, que dominou os governos de Israel durante 30 anos após a criação do Estado, se deve a uma "pletora de razões", segundo Hermann. Ela cita o colapso do processo de paz, a identificação da esquerda com a "velha elite" dos judeus de origem europeia, o afluxo de imigrantes russos que "desgostam de qualquer coisa 'rosada'", e os ressentimentos dos judeus "mizrahi" --oriundos do Oriente Médio e norte da África-- que "veem a esquerda como responsável por seu isolamento socioeconômico". Para Anshel Pfeffer, em artigo no "Haaretz", a esquerda "moribunda" também se isolou. "Suas vozes de consciência, como os escritores Amos Oz e David Grossman, não têm influência além das suas pequenas bolhas dos já convertidos."

O campo centrista da política israelense também sofre para fazer frente à hegemonia de Netanyahu. O Kadima --partido fundado pelo ex-primeiro-ministro Ariel Sharon depois de romper com o Likud-- entrou em queda livre. Na eleição de 2009, ele emergiu como o maior partido, com 28 cadeiras, mas não conseguiu formar uma coalizão para governar. Na semana passada, pesquisas previam que ele provavelmente decairá para catastróficas sete vagas após a eleição de janeiro.

Um novo partido, o Yesh Atid, liderado pelo ex-apresentador de TV Yair Lapid, pode crescer, elegendo cerca de 17 deputados. Suas políticas são praticamente desconhecidas, mas é provável que se posicione na centro-direita, e alguns preveem que se junte a Netanyahu como parceiro da coalizão.

Seu lugar nas pesquisas é atribuído ao carisma do seu afável dirigente. "Agora o líder de um partido político é de primordial importância", diz Hermann. "No passado, costumava ser a ideologia e a lealdade partidária. Esse é um processo de americanização da política israelense nos últimos dez anos aproximadamente."

Dois assuntos devem dominar os três meses de campanha eleitoral: economia e segurança. Há poucos meses, houve protestos em Israel por causa dos preços dos alimentos, da moradia e do sustento familiar como um todo. "No passado, a segurança estava no topo da lista", diz Hermann. "As questões socioeconômicas estavam mais para baixo. Agora elas estão em pé de igualdade com a segurança."

Segurança, para Netanyahu, significa primariamente o programa nuclear do Irã. O conflito com os palestinos não deve ser um fator significativo. Muitos israelenses estão satisfeitos com a atual situação de relativa calma, e não se preocupam muito com a ocupação iniciada há 45 anos. Diskin diz que o Irã irá pisotear todas as outras questões. "Netanyahu acredita que há uma ameaça real. E, quando há uma ameaça externa, as pessoas se unem e se deslocam para a direita."

No mercado Mahané Yehuda, o comerciante Abraham Levy, 63, leva em conta as realizações de Netanyahu. "É um bom primeiro-ministro? Não 100% na economia. As partes mais baixas da sociedade têm sofrido muito... As pessoas esperam o final do dia para comprar, quando os preços baixam. Mas, na segurança, ele é ótimo. Ele é duro com os palestinos, e é a pessoa certa para lidar com o Irã. Sempre votei no Likud, e vou votar neles de novo."

Tradução de RODRIGO LEITE.

 

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