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19/12/2012 - 15h00

Ativista pede proibição de vendas de marfim para salvar elefantes africanos da extinção

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JOHN VIDAL
DO "OBSERVER"

Jane Goodall, uma das mais conhecidas ativistas mundiais na causa da preservação de espécies, fez um apelo apaixonado por uma proibição mundial à venda de marfim, com o objetivo de impedir a extinção dos elefantes africanos.

O apelo dela surgiu depois da apreensão de 24 toneladas de marfim comerciado ilegalmente, uma semana atrás na Malásia, e de um relatório de conservacionistas alertando para o fato de que o comércio ilegal de marfim agora ameaça governos, porque grupos rebeldes vendem presas para financiar suas guerras.

Jean-Marc Bouju - 6.dez.97/Associated Press
A primatologista Jane Goodall beija a chimpanzé Tess em reserva perto de Nanyuki, no Quênia
A primatologista Jane Goodall beija a chimpanzé Tess em reserva perto de Nanyuki, no Quênia

"Há uma imensa tragédia em curso em algumas partes da África. A situação é desesperadamente séria, e sem precedentes", disse Goodall. "Acreditamos que a Tanzânia tenha perdido metade de seus elefantes nos últimos três anos. Aviões militares de Uganda foram vistos no território da República Democrática do Congo, atirando em elefantes. Milícias armadas agora também caçam elefantes".

Goodall acusou a China de responsabilidade primária pela situação, porque a maior parte do marfim obtido é exportado ao país, onde é usado na fabricação de ornamentos. "O principal mercado está na China e Oriente. O marfim parece estar sendo contrabandeado em malas diplomáticas ou em aviões sem identificação, ou enviado através da fronteira para a República Democrática do Congo. Grupos armados e guardas florestais estão aderindo ao tráfico ou sendo assassinados. Temo que estejamos perdendo a batalha, em alguns países. É chocante", ela diz.

A crescente presença chinesa na África vem sendo responsabilizada por uma alta sem precedentes na caça ilegal. A descoberta na semana passada pela alfândega malásia de 1,5 mil presas de elefantes ocultas em compartimentos secretos de 10 contêineres que supostamente transportavam pisos de madeira foi a maior apreensão de marfim ilegal já realizada, e equivale a todo o marfim ilegal apreendido no ano passado.

Os contêineres estavam supostamente a caminho da China, via Espanha, e provinham do Togo, um destino popular para as quadrilhas armadas que promovem o contrabando de marfim. Em outubro, as autoridades de Hong Kong já haviam apreendido quase mil presas de marfim provenientes da Tanzânia, e na Tanzânia mesma outras 200 presas foram confiscadas.

Goodall, que ganhou fama por seu trabalho como primatologista envolvida em pesquisas sobre chimpanzés na África, comparou a deteriorada situação dos elefantes ao drástico declínio na população mundial de primatas, nos últimos 40 anos. "Estamos vendo a devastação das populações de elefantes de muitos países. A situação é semelhante à dos grandes símios. Todos deveriam se preocupar. Estamos lutando por uma proibição mundial completa à venda de todas as formas de marfim".

Ela disse que conduziria uma campanha com David Attenborough para persuadir a ONU a proibir as vendas de marfim. "O mundo precisa acordar. Os governos precisam agir com mais seriedade. Todos deveriam deixar de comprar marfim, não importa onde vivam. Os países precisam ser ajudados, a fim de reforçar seu controle sobre a exploração ilegal", disse Goodall.

Um relatório apresentado à ONU na semana passada pela organização conservacionista WWF International alerta que o comércio ilegal de marfim é ameaça aos governos africanos, porque grupos rebeldes usam os proventos das vendas das presas para bancar suas guerras. "A questão vai além da fauna. A crise ameaça a estabilidade dos governos. Tornou-se ameaça profunda à segurança nacional", disse Jim Leape, diretor geral da WWF International.

A caça ilegal aparentemente escapou a todo controle, em alguns países, No sul do Sudão, a população de elefantes, estimada em 130 mil animais em 1986, caiu a cinco mil, de acordo com Paul Elkan, diretor da World Conservation Society. "Nos próximos cinco anos, eles podem terminar extintos, dado o nível atual de caça ilegal. Há até forças nacionais de segurança envolvidas no tráfico", diz.

FORA DE CONTROLE

Os conservacionistas culpam as autoridades tanzanianas por não controlarem a caçada ilegal de elefantes e o contrabando de marfim. "Há um enorme massacre de elefantes em curso na Tanzânia, agora. As coisas escaparam ao controle", diz Iain Douglas-Hamilton, um veterano da conservação da fauna. "O fato de que o número de elefantes na região seja grande não constitui proteção para eles, da mesma forma que não constitui para os bisões que foram praticamente exterminados na América um século atrás. As pessoas não devem se iludir".

A Tanzânia, que tinha entre 70 mil e 80 mil elefantes em 2009, abriga cerca de um quarto dos elefantes da África, de acordo com as estimativas. Mas Peter Msigwa, legislador tanzaniano, disse na semana passada que a caça ilegal estava "fora de controle", com uma média de 30 elefantes abatidos a cada dia por conta de seu marfim.

"Isso significa 10 mil elefantes mortos ao ano", diz James Lembeli, presidente do comitê de recursos naturais da Tanzânia. "Se você viajar pelas regiões do país onde vivem elefantes, verá carcaças em toda parte", afirmou.

No ano passado, a polícia tanzaniana apreendeu mil presas de marfim ocultas em sacas de peixe seco no porto de Zanzibar.

Em junho, a Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas descreveu a situação dos elefantes africanos como "crítica", e afirmou que a caça ilegal de elefantes estava em sua marca mais alta em uma década, com dezenas de milhares animais abatidos a cada ano por conta do marfim de suas presas.

Tradução de PAULO MIGLIACCI.

 

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