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28/12/2012 - 15h00

Por que dei as costas para Hollywood

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TOM LAMONT
DO "OBSERVER"

Alan Moore passeia pelo centro da cidade de Northampton carregando uma bengala esculpida para parecer uma cobra perigosa, e uma escova de cabelo. O escritor, de 59 anos, caminha com o passo ligeiramente trôpego, daí a bengala, e mantém a escova à mão porque não visita um barbeiro desde que era adolescente. Há décadas Moore mantém sua tremenda juba e sua barba de mago, penteando-se em agressivos rompantes. "Desse jeito elas tendem a se arrumar sozinhas."

BBC
O quadrinista Alan Moore durante entrevista ao programa de televisão "Hard Talk", da BBC
O quadrinista Alan Moore durante entrevista ao programa de televisão "Hard Talk", da BBC

A garotada de um centro comercial próximo às vezes zoa, diz Moore, chamando-o de Deus, ou de Jesus, "o que eu aceito, porque Jesus morreu aos 33 anos, e eles obviamente me confundem com um homem muito mais jovem". Mas para os fãs das marcantes histórias em quadrinhos que Moore escreveu ao longo dos anos (o mistério policial com super-heróis de "Watchmen"; a gélida distopia de "V de Vingança"), o endeusamento poderia ser realmente justificado. Moore é um dos mais reverenciados e influentes escritores da Grã-Bretanha. É também um dos mais enganadores --perverso e difícil de compreender.

O trabalho que ele fez na década de 1980 com "Watchmen" e "V de Vingança", por exemplo, fez toda uma indústria mudar seu foco, com os editores direcionando as HQs não só para crianças e adolescentes esbanjadores de mesada, mas também para os adultos. Mais tarde, quando um público mais amplo passou a acompanhar sua escrita, Moore se afastou do "mainstream", desenvolvendo tamanha aversão à América corporativa a ponto de declinar de enormes pagamentos por adaptações hollywoodianas da sua obra.

Cinco filmes de sucesso, no entanto, foram feitos a partir de histórias de Moore, mas só no mês passado foi lançado um filme que ele realmente gosta e aprova --um curta de baixo orçamento que Moore roteirizou, atualmente disponível para ser visto gratuitamente pela internet [http://jimmysend.com] Além desse roteiro e de décadas de HQs, Moore já escreveu ficção em prosa, história, canções de protesto e pornografia. Ele é o único entre os autores britânicos de maior vendagem que se descreve como mágico praticante.

Moore é um quebra-cabeças, e um dos fatos mais surpreendentes a seu respeito é ele ter passado a vida toda em Northampton, 73ª. maior cidade do Reino Unido, rica em termos de história local, e carente na maioria dos demais sentidos. "Muitas das lojas estão indo para o brejo. As únicas pessoas prosperando são os fabricantes de placas de reboco."

Mas ele espera nunca deixar a cidade, embora o entusiasmo pela sua ficção cresça no resto do mundo. "Watchmen - O Filme" foi um grande sucesso há quatro anos, faturando cerca de US$ 230 milhões nas bilheterias. E o filme feito a partir de "V de Vingança", em 2005, difundiu aquelas enervantes máscaras de Guy Fawkes, habitualmente usadas por grupos de protesto como o Ocupe. As máscaras se tornaram um símbolo tão potente de rebelião que no mês passado foram proibidas nos Emirados Árabes Unidos.

"Mas não quero levar crédito", diz Moore. "São esses manifestantes realizando seus esforços individuais que estão fazendo o trabalho." Além do mais ele reluta, sempre, em permitir que suas atenções se afastem demais de Northampton. Quando em 2007 ele foi convidado a aparecer em um episódio de "Os Simpsons", um produtor viajou de Los Angeles para [a região britânica de] Midlands, para que Moore pudesse gravar seu diálogo em um precário estúdio perto da sua casa.

"Este é um bom lugar para mim, me mantém focado. A vida não é fácil; não é enormemente difícil. Há uma gravidade em Northampton que me agrada."

O curta que Moore roteirizou, e que estreou no mês passado na internet, se chama "Jimmy's End", uma história sobre o submundo, perturbadora e finamente realizada, dirigida por um conterrâneo de Northampton, Mitch Jenkins. O filme foi rodado em um clube proletário da cidade, e tem uma rápida aparição de Moore.

Por que fazer um filme agora, após tantos anos contorcendo-se de tanto resistir? "Minhas principais experiências no passado haviam sido daquele tipo de Hollywood, as quais foram em muitos níveis repulsivas para mim. Cada filme é um 'remake' de um filme anterior, ou um 'remake' de uma série de TV que todo mundo adorava na década de 60, ou um 'remake' de uma série de TV que todo mundo odiava na década de 60. Ou é um brinquedo de parque temático; logo vai se chegar às mascotes de cereais matinais."

"Mas eu sempre achei que gostava da ideia de um filme pequeno e realmente barato. Se você quiser ser um escritor ou um artista, só precisa de uma esferográfica e de um bloco de anotações da Woolworths; é um meio democrático. Adoro filmes que são feitos quase sem orçamento."

Moore tem uma relação complicada com o dinheiro. "Puro vodu", diz ele agora. "Só está lá enquanto acreditamos nele." Desafiado, durante uma entrevista de TV neste ano, sobre por que ceder os direitos cinematográficos de uma HQ como "Watchmen" se ele não queria que virasse filme, Moore disse que ofereceu os direitos porque não esperava que nenhuma adaptação fosse acontecer; ele disse que seria ganhar dinheiro com corda velha [expressão inglesa que se refere a um lucro fácil e inesperado].

Mas aí os filmes saíram, e em algum momento Moore desenvolveu tamanha aversão pelo que viu na tela, e pelos rendimentos resultantes daquilo, que pediu para que seu nome fosse tirado dos créditos; aí ele começou a rejeitar o dinheiro da produção. Moore deu sua parcela no cachê de "Watchmen" para Dave Gibbons, o artista com quem ele concebeu a série.

Além de "Jimmy's End", Moore e Jenkins filmaram recentemente um curta relacionado, chamado "Act of Faith", ambientado na mesma Northampton fictícia. Custou £ 11 mil [US$ 17,8 mil], o que no set de "Watchmen" pagaria...? "Ah, o café. É isso aí: fico horrorizado com os orçamentos desses filmes, quase tanto quanto com os filmes em si."

"Desenvolvi uma teoria de que há uma relação inversa entre dinheiro e imaginação. Que, se você tem muita imaginação, não precisa realmente de muito dinheiro, e se você tem muito dinheiro então não vai se preocupar em ter muita imaginação."

"Você precisa ser capaz de pagar suas contas, caso contrário não vai dormir à noite. Mas, exceto por isso, o mundo dentro da minha cabeça sempre foi um lugar muito mais rico do que o mundo do lado de fora. Suponho que grande parte da minha arte e da minha escrita se destine a unir as duas coisas."

No Museu de Belas Artes de Charleroi, na Bélgica, um dos velhos teclados de computador de Moore está em exibição permanente. Esse pareceria um improvável desenlace quando, em 1969, ele foi arrastado pelo subdiretor para fora de uma aula de artes da Escola para Meninos de Northampton.

Com seu cabelo recém-crescido, longo o suficiente para formar um primeiro cacho e parecer "um pedaço de calha" sobre cada orelha, o menino de 16 anos foi levado para o gabinete do diretor, onde encontrou um agente do esquadrão antidrogas local. A conversa subsequente poderia ter sido ainda mais tensa se no caminho Moore não tivesse discretamente esvaziado seus bolsos de uma maconha de baixa qualidade. "Eu achava que me portava bastante bem", lembra ele. "Obviamente, eles pensavam o contrário."

Contar aos pais que ele havia sido expulso "parecia o fim do mundo". Sua família morava numa área chamada Boroughs, um bairro pobre da zona oeste de Northampton, geralmente evitado, segundo Moore, pelos demais moradores da cidade. Ele era excepcionalmente brilhante.

"Sendo criado no Boroughs, eu achava que deveria ser o menino mais inteligente do mundo, uma ilusão que eu consegui manter até ir para a escola secundária." Como um dos cerca de dez meninos proletários matriculados ali, ele se viu como parte de uma minoria que não havia passado pela escola preparatória, e que ainda não era capaz de declinar em latim. "Minha posição na classe despencou."

VÁLVULA DE ESCAPE

As HQs americanas eram "uma bem-vinda válvula de escape, um portal para a imaginação desenfreada". Moore começou a escrever e desenhar suas próprias tiras, inventando um primeiro super-herói, chamado Ray Gun (identidade secreta: Raymond Gunn), e emprestando seus esforços para amigos mediante uma pequena taxa. Os lucros iam para o Unicef, ou o Save the Children. Ele não lembra. "Achei que pareceria meio nobre. Como alguém poderia resistir --uma mal desenhada história em quadrinhos infantil, em prol da caridade?"

Após sua expulsão aos 16 anos, que ele atribui ao fato de "os anos 60 estarem acontecendo, uma época eufórica e expansiva", Moore pensou em se candidatar à escola de artes, mas logo começou a produzir tiras cômicas. Ser cartunista era coisa de família. Seu bisavô paterno, um lendário boa-vida de Northampton chamado Ginger Vernon, costumava trocar caricaturas por cervejas no pub (Moore acrescenta que ele era um alcoólatra terrível).

Divulgação/Divulgação
O quadrinista Alan Moore, autor de HQs como "V de Vingança" e "Watchmen"
O quadrinista Alan Moore, autor de HQs como "V de Vingança" e "Watchmen"

Moore começou a escrever e desenhar uma tira regular no jornal local, e aí outra para a revista musical "Sounds". Quando já havia arrumado trabalho em uma linha de títulos da série "Doctor Who" feitos na Grã-Bretanha, Moore parou de desenhar ("Eu não conseguia fazer suficientemente rápido, nem suficientemente bem") para se dedicar a escrever.

A essa altura ele estava casado, e morava com a esposa, Phyllis, e a filha, Leah, num imóvel nos limites da cidade. Na época em que nasceu sua segunda filha, Amber, eles já estavam em uma deteriorada moradia social mais próxima do centro, e lá Moore trabalhava no quarto, com seu longo corpo dobrado sobre uma máquina de escrever apoiada numa banqueta. "Ao escrever 'V de Vingança', eu sabia que estava fazendo um troço bom. Mas só depois de eu ser descoberto pelos quadrinhos americanos houve uma grande mudança nas minhas circunstâncias."

Moore foi convidado para trabalhar no título americano "Swamp Thing" ["a coisa do pântano"], que falava de um super-herói que também era um legume humano. Era um território ideal, um título idiossincrático, meia-boca, que não era propriamente o carro-chefe da editora, o que significava que Moore teria a chance de introduzir notas mais sombrias. "Eu não percebi que o incesto e a necrofilia ainda eram recriminados socialmente por aqui", disse Moore, com o semblante impassível, a um entrevistador americano em 1985, depois de ser criticado por suas tramas polêmicas.

A essa altura sua série "V de Vingança" estava sendo publicada, e Moore estava preparando "Watchmen", uma incomum fusão de gêneros, abordando um grupo de justiceiros aposentados sob a ameaça de um "serial killer". Na superfície, "Watchmen" era uma ficção de super-heróis --poderes, capas, queixos--, mas estava ambientada em algo mais parecido com o mundo real, meio "noir", patentemente destinada aos adultos. Foi inovador, e continua sendo imitado.

Moore ainda escreveria "Do Inferno", uma trama de terror histórico (transformada em um insatisfatório filme de Johnny Depp em 2001), e uma ruidosa série de aventura chamada "A Liga Extraordinária" (que se tornou um fracasso cinematográfico para Sean Connery em 2003). Na década de 1990, ele começou a trabalhar em "Garotas Perdidas", HQ pornô concebida com a artista americana Melinda Gebbie.

Na época em que ela foi publicada na íntegra, em 2006, Moore já havia se separado da primeira mulher, e ele e Gebbie estavam juntos. Casaram-se em 2007, usando trajes nas cores "verde e azul iridescente", que os deixaram, nas palavras da filha mais velha de Moore, com o aspecto de um par de moscas varejeiras.

Nada na sua variada produção jamais eclipsou "Watchmen" (citado pela "Time" como um dos cem melhores romances em inglês da era moderna), mas Moore, em 2012, nem mantém um exemplar na sua casa. Ele há muito tempo se desentende com seu cocriador, Gibbons, sobre permitir que a editora retome a série para uma linha de "prequelas", ou sobre dar aval a um jogo de computador inspirado na série. Moore já disse que a dupla teve atritos por causa de "Watchmen" até no dia do seu casamento. Seja como for, uma série de HQs chamada "Before Watchmen" ("antes de Watchmen") já foi posta à venda, e sem dúvida haverá mais filmes pela frente.

Moore desautorizou tudo isso --a um custo pessoal, calcula ele, de mais de £ 1 milhão [US$ 1,6 milhão]. Ele odeia ser coagido, não importa qual seja o incentivo financeiro, e talvez isso seja algo de sangue. Seu bisavô Ginger, o cartunista beberrão, teve na virada do século 20 a chance de se tornar diretor de uma fábrica de vidros na cidade, diz Moore. Disseram a ele: "Você vai ganhar milhões! A única condição é que você fique longe do pub por duas semanas". A resposta, inevitavelmente, foi "não"; e Vernon pelo resto da vida passou em frente à mansão do homem que pegou o emprego.

"Mas fico imensamente orgulhoso disso. Rejeitar algo porque não era o que você queria fazer. Esse troço... está provavelmente nos genes."

A imaginação, diz Moore, é como um músculo. "Se você trabalha nele, ele fica maior." Após quatro décadas, porém, ela pode ter sido sobrecarregada. Moore praticamente não sabe mais onde colocar suas ideias.

Não satisfeito em ter feito "Jimmy's End" e seu prólogo "Act of Faith", ele concebeu todo tipo de fantasia superavitária que possa vir a temperar futuros episódios ambientados no mesmo mundo.

Ele dedicou tempo a escrever um programa de rádio fictício que poderá aparecer em algum momento, e, com sua filha Amber, inventou um jogo de computador digno de ser mencionado. Ele criou uma linha de bebidas energéticas. E também uma rede social.

"Eu extrapolo. Poderia ter algo a ver com ser o menino mais inteligente do mundo aos 10 anos. Mas o que eu quero fazer é borrar as linhas entre o que é real e o que é imaginado."

Há, naturalmente, um borrão a respeito do que é real e do que é imaginado acerca do próprio Moore: que ele é recluso, que ele é um mágico. Você desce do trem em Northampton esperando ir atrás de uma pessoa azeda, tipo um Salinger, ou então encontrar uma figura semelhante ao [ocultista britânico] Aleister Crowley, desenhando com giz pentagramas sobre a plataforma.

Em vez disso, você encontra um homem afável, prestativo, e que usa um suéter roxo com capuz. Moore está patentemente ávido por mostrar Northampton e explicar o que ela significa para ele, e não se constrange em arrumar sua vasta cabeleira diante de uma plateia --uma produção extraordinária, aliás, em que a coisa toda é reunida num toldo sobre o rosto para ser penteada, uma partição ao meio é encontrada, e o cabelo é então afastado como pesadas cortinas.

Ele fala continuamente, sobre homeopatia e Lemsip [um remédio contra gripe]; sobre "CSI: Miami" e sobre o Alfie Rouse, o assassino do carro incendiado ("um favorito local"). "Eu me acho bastante gregário", diz ele com aproximadamente cem minutos de conversa, acanhando-se com isso e encolhendo o queixo de uma forma que faz sua barba se dobrar sobre seu peito. Ele usa um anel comprido e pesado, que de relance parece relacionado com algo mágico; na verdade, é sua aliança, criada por ele mesmo e incrustada com duas lágrimas de opala.

TRUQUES

O negócio de ser mágico praticante ele anunciou pela primeira vez na década de 1990 (mais ou menos na época em que sua barba começou a ficar grisalha e ele arrumou a bengala em forma de cobra). É de verdade ou ele está brincando? "É uma parte importante de como eu vejo o mundo. Com a aparência que eu tenho, a meio caminho de virar Gandalf antes mesmo de eu por um pé porta afora, você precisa difundir..." E, pela primeira vez, Moore não consegue encontrar um final eloquente para a sua frase. Ele tenta de novo: "Há um elemento de brincadeira. Mas o que está por trás é muito sério."

Escolha uma carta, qualquer carta? Não, diz Moore, não se trata de truques. Para ele, trata-se de consciência --e rapidamente ele sai pela tangente falando dos limites da mente, passando por Freud, Alan Turing, Paracelso e "Noite de Reis", antes de chegar a uma explicação que faz um sentido razoável. Moore vê a mágica como uma forma de meditação, um escape para a sua imaginação seriamente vívida.

"Será que eu acredito, por exemplo, que usando a mágica eu posso voar? Não. Como você iria evitar a gravidade? Impossível. Mas eu acredito que seria capaz de projetar minha consciência para uma simulação de voo muitíssimo vívida? Pois é. Sim, já fiz isso. Sim, funciona."

Isso exige que você tome... "Às vezes você precisa tomar drogas, sim. Às vezes você pode fazer isso com os sonhos. Às vezes você pode fazer isso com um ato criativo. Escrever é uma forma muito focada de meditação. Tão bom quanto sentar numa posição de lótus."

Quando mais um velho teclado de computador de Moore foi oferecido em leilão no eBay, no ano passado, o vendedor se arriscou a dizer que ele "pode conter poderes sobrenaturais". Ele saiu por £ 461 [R$ 1.500], apesar de ter uma tecla Z defeituosa. Caminhando por Northampton, Moore explica que seus teclados velhos têm ido parar no eBay, ou naquele museu de Charleroi, porque ele já precisou se desfazer de muitos.

Ele atualmente escreve em um teclado metálico de resistência industrial, geralmente destinado ao uso em fundições e zonas de conflito. A variedade de plástico costumava durar poucos meses com ele antes de derreter sob a constante chuva de cinzas de cigarro, ou então quebrar por excesso de uso.

Ele diz estar tocando um romance que, a exemplo dos seus curtas-metragens, se passa em Northampton. Quase concluído, chama-se "Jerusalem", e soma umas 600 mil palavras --mais longo que a Bíblia, diz ele, deleitando-se, embora um pouco preocupado, com o fato de que digitá-lo inteiro com apenas dois dedos tenha desgastado as pontas dos seus indicadores.

Conforme Moore passeia, ele deixa sua imaginação passear também --pensando alto sobre os crimes que alguém na sua posição poderia agora cometer sem medo de ser apanhado. Poderia haver um homicídio envolvendo dois dedos rijos na têmpora das vítimas, por exemplo...

Moore lamenta que nem seu pai nem sua mãe tenham lido suas melhores coisas antes de morrerem, na década de 1990 (embora sua mãe tenha certa vez encarado "Swamp Thing", "que eu acho que foi provavelmente o segundo livro que ela havia lido na vida, depois da romantização de 'A Noviça Rebelde'").

É aos seus pais que ele credita a convicção de que o dinheiro é um valor secundário na vida. "Foi a minha classe. A única coisa da qual a gente podia se orgulhar, no Boroughs, era de sermos gente decente. De resistirmos aos valentões. Isso ficou muito fortemente impresso em mim quando garoto, e não é uma forma ruim de conduzir sua vida."

Sua filha Leah recentemente teve gêmeos, e Moore é quatro vezes avô. Isso lhe fez parar para pensar em todo o dinheiro que ele recusou? "Não. Cuido das minhas filhas o máximo que posso, e para os netos nunca falta nada. Mas não quero instalá-los em mansões, assim como não queria que Ginger Vernon tivesse aceitado aquele emprego cem anos atrás."

É de se suspeitar que Moore, daqui a um século, assumirá seu lugar ao lado de Vernon na lenda familiar. O excêntrico ancestral que recusou uma fortuna, por teimosia, ou por outras razões mais nebulosas, mas essencialmente bastante decentes.

Enquanto caminha, Moore aponta marcos locais: a Câmara Municipal, onde ele se casou; uma estátua que marca o papel da cidade na descoberta do DNA; e o local da antiga Woolworths, onde ele costumava comprar seus blocos de anotações. Agora, ele faz uma pausa na praça da antiga feira de Northampton, uma das mais antigas do país. A feira recebeu seu alvará de Ricardo 1º., em 18 de novembro de 1189. "E 18 de novembro por acaso é o meu aniversário", diz o escritor, cheio de satisfação. "Então, sob muitos aspectos, 'je suis' Northampton. Sim... Eu de fato me identifico com esta cidade."

Tradução de RODRIGO LEITE.

 

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