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01/05/2011 - 08h28

O Enigma dos ETs

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DE SÃO PAULO

A seguir, Leon Cakoff compartilha um sonho que teve durante o seu combate contra a doença.

Veja imagens que registram a rotina de Cakoff
Leia o relato que o codiretor da Mostra relata esse período

*

"Se me dissessem: restam-lhe 20 anos de vida, o que quer fazer com as 24 horas de cada um dos dias que vai viver?, eu responderia: dê-me duas horas de vida produtiva e 22 horas de sonho, com a condição de que eu seja capaz de me lembrar deles --pois o sonho só existe pela memória que o cultiva". ("Meu Último Suspiro", Luis Buñuel, Edição CosacNaify/ Mostra).

Estava morto quando acordei! Saio da anestesia de uma delicada cirurgia no cérebro. Acordo na UTI do hospital Santa Isabel, Santa Casa de Misericórdia. Tenho um médico ao pé da cama. Não é um neurologista e sim oftalmologista. É meu sogro. Está lá preocupado. Quer saber logo se fiquei com sequelas neurológicas como se previu antes da cirurgia...
Sei que os sonhos devem ser contados logo, senão evaporam. Estou justamente saindo de um sonho e parece bem complexo. Preciso contar antes que, antes que...
O sogro pode até achar que estou delirando, sintomático do meu quadro clínico, mais o coquetel de drogas para aliviar as dores da cirurgia.

A urgência do relato importa mais do que o constrangimento da sua análise. Não faz mal! Viajava pelo infinito a uma velocidade extraordinária. Logo estava atravessando milhares de estrelas. Partilhava a viagem com outras almas mortas, todas defuntas da mesma hora que a minha. Via o que acontecia com elas. Ofereciam um espetáculo quase indescritível se já não as conhecêssemos pelas imagens do telescópio Hubble. Vi a formação das nebulosas e galáxias. Vi a separação das almas parceiras, ocupando espaços novos e eclodindo em novas e deslumbrantes nebulosas.

Aí eu perguntei e não me perguntem quem era meu interlocutor... Eu continuava viajando, certamente esperando também o momento de eclodir. Presumia o final da história ainda vivo. Todos os mortos viram estrelinhas. É o que se diz para confortar crianças órfãs. Mas viram astros sem nome ou identidade. Sem vida. É o que sabemos... Perguntei por que os planetas são estéreis e não repetem os ciclos de vida como na Terra? Por que somos únicos no universo? Que exemplo estaremos dando, qual é o recado e a quem se destina?

As respostas eram visíveis na angústia do infinito. As almas que se perdiam no universo e soltavam seus casulos corporais não eram boas sementes... Nenhuma delas, desde o princípio dos tempos. As nebulosas registravam o conflito entre o ser e a bondade, o limbo, a espera eterna da bem-aventurança, o céu de cima, o inferno de baixo, o humanismo todo dos ensinamentos de todas as escrituras.

Perguntei neste crescente e vertiginoso vácuo, onde pararíamos, qual seria o cais... Mas a viagem continuava atravessando desertos sem luz. Corpos celestes imensos e vazios, agora as via por inteiro, tristes, secos, com órbitas sem rumo, melancolicamente silenciosas; dava-me mesmo ao luxo de orbitar em torno delas. Tinha, afinal, todo o tempo do mundo. Não sabia ainda o que me esperava.

O tempo não existia embora a urgência do sonho pedisse velocidade, talvez pela impaciência de um fim. Ousei imaginar um planeta para germinar minha semente, deitar raízes. A luta inconsciente do pesadelo com um final feliz.

Não, não!! Estava sendo contemplado com o privilegiado espetáculo da criação. A do primeiro dia! Estava diante de enigmas do universo e as respostas que me chegavam era como se fossem de autocomiseração. Era presunçoso por imaginar um final redentor. A viagem sem fim e agora sem mais respostas explicava-me isto. Estava só.

Deu-se então uma luz no vácuo da escura angústia. O alguém que tivera como interlocutor, voltou a me fornecer eurecas que pareciam continuar saindo da mesma cabeça que tivera em vida. Supus que era mesmo eu me nutrindo com perguntas e respostas. Mais um delírio de presunção.

Veio então o pesadelo. Parecia ter perdido o paraíso. Passei aos rituais pagãos e altares sangrentos. Buscava-se o ser mais correto e sem pecados... Para salvá-los sei de quê. A histeria coletiva previa o fim do planeta e outro precisava ser colonizado... Para dar continuidade à espécie rejeitada por todos os deuses. E encontraram este ser ou assim o pensavam... Pediram-lhe o sacrifício em nome de todos. Afinal, era para salvar-nos em caso de uma grande evacuação. Vi também o previsível. Não havia tecnologia para a grande viagem cósmica. Nem espaço para tanta gente, nem eleitos, nem combustível, nem direção, nem matéria. A única possibilidade imaginável de viagens remotas ainda era pela força do pensamento. Ao menos um, ao menos um, pensavam todos... Entre os habitantes do planeta prestes a se extinguir, bastava um ser puro para germinar o futuro, dos bons ou dos maus, de culpados ou inocentes.

O ser bondoso ficou de pensar e pensou mais do que logo. Disse que não podia aceitar a oferta. Pois morto deixaria de praticar a bondade que tanto amava fazer. Preferia acreditar na salvação, na redenção e no poder regenerador da sua fé. Não haveria outro planeta habitado! Seguia deslumbrado com as nebulosas que se formavam a minha volta, por milhares de séculos condenados a este purgatório silencioso. Abandonei a contagem do tempo, o peso das coisas materiais, as incertezas, o pesadelo.

Sigo viajando com este sonho. Já tenho decifrado o enigma dos ETs e sei agora porque não há no universo sequer um planeta habitado... e porque estamos assim tão sós. Falta humanidade no planeta das coisas terrenas e materiais. Da corrente que passei aos amigos nos dias de hospital, guardo esta frase para seguir viagem. É puro combustível... Ela foi enviada justamente pelo cineasta espírita Oceano Vieira, o salvador de nossas melhores memórias (ao menos cinematográficas) com seus DVDs. Foi tirada de Chico Xavier:

"Quem trabalha para o bem das pessoas, recebe do Alto, o bem que lhe é merecido".

No imaginário, é preciso dizer, resiste quem desperto está.
Estou convencido: vou eu povoar um novo planeta!

 

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