Moody's melhora perspectiva do Brasil de negativa para estável 

Agência de risco reduz chance de rebaixamento da nota de crédito do país no curto prazo

Logo da Moody's em Nova York
Logo da Moody's em Nova York - Brendan McDermid/Reuters
Brasília e São Paulo

A agência de classificação de risco Moody's revisou a perspectiva da nota de crédito do Brasil de negativa para estável nesta segunda-feira (9), o que reduz a chance de novo rebaixamento do país no curto prazo. 

A nota atual do Brasil na Moody's é "Ba2", dois degraus abaixo do grau de investimento, espécie de selo de bom pagador dos países.

A agência lista dois fatores para a mudança da perspectiva da nota. O primeiro é a expectativa de que reformas para preservar a sustentabilidade fiscal e estabilizar a dívida no médio prazo serão aprovadas pelo próximo governo.

O segundo é a perspectiva de crescimento econômico mais forte que o esperado no curto e médio prazo, sustentado por reformas estruturais prévias, que, na análise da agência, dará suporte aos esforços de consolidação fiscal.

"A Moody’s acredita, em resumo, que os riscos negativos para o crescimento e as incertezas relacionadas ao ímpeto para reformas, que levaram à atribuição da perspectiva negativa para o rating Ba2 em maio do ano passado, diminuíram", disse a agência em comunicado.

O anúncio da agência acontece dois dias após a prisão do ex-presidente Lula, cuja possibilidade de uma candidatura à Presidência nas eleições deste ano fica mais distante. A Moody's não cita em seu relatório, no entanto, a prisão de Lula. 

A leitura otimista da Moody's vem na contramão do entendimento do mercado, que piorou sua percepção de risco do Brasil com incertezas sobre o papel do ex-presidente em uma possível transferência de votos e o esboço de uma pulverização que dificultaria a ida de um candidato reformista ao segundo turno.

O dólar subiu 1,57% nesta segunda, para R$ 3,42, e fechou no maior patamar desde dezembro de 2016. 

No comunicado, a agência diz esperar que o governo eleito em outubro retome esforços para aprovar reformas fiscais e destaca a da Previdência. 

"Há consenso entre líderes políticos de que os custos políticos e econômicos do não cumprimento com o teto de gastos são muito elevados para serem ignorados", afirma. 

Em caso de descumprimento do teto de gastos, a Moody's entende que os esforços de consolidação fiscal seriam enfraquecidos. Isso, na análise da agência, abalaria a confiança do mercado na capacidade das instituições do país de resolver o desequilíbrio fiscal estrutural, o que atrapalharia a recuperação econômica. 

"A Moody’s, portanto, espera que o próximo governo trabalhe efetivamente com o Congresso para aprovar uma reforma da Previdência que seja suficientemente abrangente, de forma a conter o crescimento de despesas obrigatórias  e assegurar o cumprimento do teto constitucional", afirma.  

RISCO

O Ministério da Fazenda atribuiu a melhora na perspectiva da nota brasileira às ações da pasta, mas lembrou que ainda há necessidade de avanços na agenda de reformas, como a da Previdência.

"O Ministério da Fazenda atribui a melhora na avaliação às ações realizadas pela equipe econômica desde maio de 2016. Além do trabalho para restabelecer o equilíbrio fiscal, tem papel fundamental a ampla agenda de reformas em curso. Em particular, o sucesso na aprovação do teto de gastos, a reforma trabalhista, o programa de recuperação fiscal dos Estados, a reabertura do setor de óleo e gás e a reformulação das políticas de crédito do BNDES e a Taxa de Longo Prazo (TLP).

"De acordo com o texto, a agência ressaltou que a recuperação da economia ajudará na dinâmica da dívida pública. 

"A agência enfatiza, no entanto, que um fator de risco que poderia levar à reavaliação negativa da nota de crédito brasileira seria um cenário político no qual não se verifiquem avanços na agenda de reformas para a consolidação fiscal e cumprimento do teto de gastos, como maior postergação na reforma da previdência", disse a pasta. "A evolução dos debates em torno de reformas estruturais que promovam esses objetivos é essencial para o país."

CONTRAMÃO

A revisão da perspectiva da Moody's contraria também o que foi feito pelas outras duas agências de risco, a Fitch e a S&P Global.

A agência de classificação de risco Fitch cortou em 23 de fevereiro a nota de crédito do Brasil, com perspectiva estável.

A nota foi reduzida de "BB" para "BB-", três níveis abaixo do grau de investimento, mantendo o Brasil dentro do grupo de países considerados maus pagadores de suas dívidas.

A perspectiva melhorou de negativa para estável, o que reduz o risco de novos rebaixamentos nos próximos meses.

Antes, em 11 de janeiro, a  S&P cortou o rating brasileiro de "BB" para "BB-", no primeiro rebaixamento por uma agência no governo do presidente Michel Temer.

O atraso nas reformas e as incertezas sobre a eleição presidenciável deste ano estão entre os principais fatores que pesaram na decisão da S&P.

REVISÃO

A Moody's já voltou atrás antes na decisão de melhorar a perspectiva brasileira.

Em 15 de março de 2017, a agência alterou a nota de negativa para estável, apoiando a decisão na perspectiva de que a melhora observada nas condições macroeconômicas persistiriam. 

Em maio daquele ano, no entanto, voltou a classificar a perspectiva como negativa. A razão para a mudança foi o aumento da incerteza em relação à aprovação das reformas após a crise política.

Daniel Camargos, Anaïs Fernandes e Maeli Prado

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