Apoio de líderes republicanos a Ted Cruz é apenas estratégico

MICHAEL KEPP
COLABORAÇÃO PARA FOLHA

Líderes republicanos que se esforçam desesperadamente para impedir Donald Trump de se tornar o candidato presidencial por seu partido estão lentamente e a contragosto unindo-se em torno do senador Ted Cruz, uma alternativa menos divisiva e que hoje está atrás de Trump nas primárias.

Assustada, a elite do partido espera que Cruz saia à frente na primária de 5 de abril, no Wisconsin (como apontam as pesquisas), para que possa conseguir o ímpeto necessário para vencer as primárias de final de abril em alguns dos seis Estados do nordeste do país, que são um campo ideologicamente mais favorável ao nova-iorquino Trump.

Diferentemente de Cruz, Donald Trump representa uma quebra enorme com a tradição do Partido Republicano, dedicada aos livres mercados, ao livre comércio, ao conservadorismo social, a uma política externa intervencionista e à disciplina fiscal.

Além disso, Trump é xenófobo – ele defende a deportação de todos os 12 milhões de imigrantes ilegais no país e a proibição temporária de ingresso de muçulmanos nos EUA – e defende posições altamente incoerentes. E, embora tenha dito que o Estado Islâmico (EI) deva ser derrotado por tropas do Oriente Médio, não por soldados americanos, ele não exclui o uso de uma bomba nuclear contra esse grupo terrorista. Além disso, defende que terroristas capturados sejam submetidos a técnicas de tortura muito piores que o "waterboarding" (falso afogamento, em português).

Os líderes republicanos também estão se unindo em torno de Cruz em um momento em que a impopularidade de Trump entre as mulheres é crescente, segundo pesquisa recente CNN/ORC (Opinion Research Corporation). Segundo ela, 73% das eleitoras mulheres têm visão negativa de Trump, contra 59% alguns meses atrás, e que 39% das eleitoras republicanas hoje têm opinião desfavorável em relação ao candidato, contra 29% em dezembro.

Embora o hábito de Trump de insultar seus críticos tenha revolucionado a etiqueta da campanha presidencial, suas calúnias gratuitas às mulheres devem tornar esses números negativos irreversíveis. Durante um debate presidencial republicano em agosto, Trump sugeriu que uma moderadora o estava interrogando de modo agressivo porque estaria menstruada.

O mais recente alvo feminino de Trump foi a esposa de Ted Cruz, Heidi. No final de março, Trump retuitou uma imagem pouco lisonjeira dela ao lado de uma foto glamorosa de sua própria esposa, zombando da aparência da esposa de Cruz. Nove dias mais tarde Trump descreveu o que tinha feito como "um equívoco", numa rara admissão de culpa.

Na semana passada Trump ridicularizou uma repórter depois de seu diretor de campanha ter sido acusado de agressão física por ter agarrado o braço da repórter quando ela se aproximou do candidato. Dias depois disso, Trump disse que, se o aborto for proibido, as mulheres que procuram abortos deveriam sofrer punição criminal. Horas mais tarde ele retirou o que tinha dito.

Esse tipo de tropeço sexista faz seu difícil percurso até a Casa Branca parecer verdadeiramente prometeico. Afinal, as eleitoras, responsáveis por pouco mais de metade dos votos a serem dados na eleição presidencial, provavelmente poderão optar entre ele e uma mulher.

MICHAEL KEPP, jornalista americano radicado há 33 anos no Brasil, é autor do livro "Um pé em cada país" (Tomo Editorial).

TRADUÇÃO DE CLARA ALLAIN

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