Muçulmanos nos EUA dizem ter apoio de vizinhos, mas Trump como inimigo

DA ASSOCIATED PRESS, EM NOVA YORK

Muçulmanos americanos dizem que sua religião os levou a ser alvos de desconfiança ampla nos primeiros meses da Presidência de Donald Trump, mas, ao mesmo tempo, que receberam mais apoio dos cidadãos americanos e continuam a ter a esperança de serem plenamente aceitos na sociedade. A informação é de uma pesquisa do Pew Research Center divulgada na quarta-feira (26).

Segundo a pesquisa, quase três quartos dos muçulmanos americanos veem Trump como sendo hostil a eles. Desde a eleição presidencial, acompanhada por um aumento da hostilidade em relação a muçulmanos e imigrantes, 62% dos muçulmanos americanos dizem que os americanos não enxergam o islamismo como parte da sociedade maior americana.

Ao mesmo tempo, quase metade dos muçulmanos disse que recebeu manifestações de apoio de não muçulmanos nos últimos 12 meses, um aumento em relação a sondagens anteriores.

E os muçulmanos continuam a visualizar seu futuro com otimismo. Setenta por cento deles acham que o trabalho duro pode conduzir ao sucesso na América. Essa cifra se mantém mais ou menos igual há dez anos.

"Entre a população muçulmana americana há a impressão de que outras pessoas estão começando a entendê-la e solidarizar-se com ela", disse Amaney Jamal, cientista política da Universidade Princeton e assessora do Centro Pew. O preconceito contra os muçulmanos "levou o americano mediano a dizer 'isso realmente não é justo. Vou bater na porta do meu vizinho para ver se ele está bem'."

A pesquisa Pew é a terceira sobre muçulmanos americanos feita desde 2007 e a primeira desde que Trump chegou ao poder, em 20 de janeiro. Ele prometeu combater o terrorismo, submetendo refugiados a processos de exame e avaliação extrema, e tinha um plano para barrar temporariamente a entrada nos EUA de pessoas de seis países de maioria muçulmana.

A pesquisa mais recente com 1.001 adultos foi conduzida pelo telefone fixo e por celulares, entre 23 de janeiro e 2 de maio, em inglês, árabe, farsi e urdu, e tem margem de erro de 5,8 pontos percentuais para mais ou para menos.

Nos últimos meses os casos de assédio a muçulmanos vêm aumentando, incluindo incêndios criminosos, vandalismo em mesquitas e bullying de alunos muçulmanos em escolas.

Segundo a pesquisa Pew, quase metade dos muçulmanos americanos disse que enfrentou alguma discriminação nos últimos 12 meses, incluindo desconfiança, ameaças ou xingamentos. Essa porcentagem representa um aumento apenas pequeno em relação às sondagens anteriores.

Mas essa cifra é muito mais alta no caso de entrevistados que disseram ser mais visivelmente identificados como muçulmanos, por exemplo, no caso de mulheres, por usarem hijab, ou véu cobrindo a cabeça. Sessenta e quatro por cento dos entrevistados com identidade muçulmana mais visível relatou ter sofrido algum tipo de discriminação recentemente.

PERTENCIMENTO

Mesmo assim, a pesquisa encontrou evidências de um sentimento crescente de pertencimento de muçulmanos nos Estados Unidos. Entre os entrevistados, 89% disseram que se orgulham de ser muçulmanos e americanos, enquanto quase dois terços acham que não há conflito entre o islamismo e a democracia.

Uma porcentagem maior de muçulmanos americanos disse ao Pew que se cadastrou para votar e de fato votou. Quarenta e quatro por cento dos muçulmanos aptos a votar o fizeram na eleição presidencial do ano passado, contra 37% em 2008. A título de comparação, 60% de todos os eleitores aptos a votar foram às urnas em 2016.

Preocupados com o discurso antimuçulmano ouvido na campanha, lideranças muçulmanas nos EUA lançaram um esforço inédito para registrar eleitores em mesquitas e eventos da comunidade islâmica. A participação dos eleitores muçulmanos foi maior após a campanha altamente contestada de 2016.

A grande maioria dos muçulmanos que foram às urnas votou na candidata democrata Hillary Clinton, que atraiu 78% do voto deles, contra 8% que votaram em Trump.

Acompanhando uma tendência verificada entre seguidores de outras religiões nos EUA, hoje uma pequena maioria dos muçulmanos aceita a homossexualidade. É uma inversão dramática em relação a uma década atrás, quando 61% deles disseram que os relacionamentos homossexuais deviam ser desencorajados.

Os pesquisadores do Centro Pew estimam que o número de muçulmanos americanos vem aumentando em 100 mil por ano, chegando hoje a 3,35 milhões, ou 1% da população dos Estados Unidos. Um pouco mais da metade se identifica como sunita, enquanto 16% se dizem xiitas. Quase seis em cada dez muçulmanos americanos adultos nasceram fora do país.

A maior parte dos imigrantes vem de países do sul da Ásia, como Paquistão, Índia e Bangladesh. Outros vieram do Iraque, Irã, África subsaariana e Europa. Negros nascidos nos Estados Unidos compõem 13% de todos os muçulmanos no país, mas essa parcela vem diminuindo. Ao todo, oito em cada dez são cidadãos americanos, segundo a pesquisa.

Oito em cada dez muçulmanos americanos se disseram preocupados com o extremismo islâmico, e mais de 70% disseram estar muito ou um pouco preocupados com o extremismo islâmico nos EUA.

Mas três em cada dez disseram que a maioria dos detidos recentemente por suspeita de planejar um ataque terrorista foram ludibriados pelas autoridades policiais ou não representavam uma ameaça real.

Tradução de CLARA ALLAIN

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