DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS

Nos episódios mais violentos desde que tiveram início os protestos no Irã contra o governo de Hasan Rowhani, na última quinta (28), pelo menos dez pessoas morreram na noite de domingo (31), em duas cidades do país.

Segundo fontes oficiais, são 13 as mortes registradas nos últimos cinco dias –entre elas, a de um policial. Cerca de 200 pessoas também foram presas nesta que é a maior onda de manifestações no Irã desde 2009, quando milhões protestaram contra a reeleição do então presidente Mahmoud Ahmadinejad.

Agora, foram as altas taxas de desemprego e inflação, além da corrupção, que levaram os iranianos às ruas.

Os protestos –que não têm liderança clara – começaram em Mashhad (nordeste), reduto conservador, incentivados por religiosos contrários ao moderado Rowhani.

Nos dias seguintes, eles se estenderam a outras cidades, inclusive a capital, Teerã, e os manifestantes se voltaram também contra o líder supremo, o aiatolá Ali Khamenei, erguendo faixas com dizeres "Morte ao ditador!" e "Abaixo à República Islâmica".

Fora do país, o levante tem sido estimulado por líderes contrários a Teerã, como o presidente americano, Donald Trump, e o premiê israelense, Binyamin Netanyahu.

Nesta segunda (1º), Trump disse que o país tem fracassado em todos os níveis e que é "hora de mudança". "O grande povo iraniano foi reprimido durante muitos anos. Tem fome de comida e de liberdade. Assim como os direitos humanos, a riqueza do Irã está sendo confiscada."

Em vídeo, Netanyahu desejou aos "heroicos" manifestantes sucesso em sua "nobre busca por liberdade".

O governo iraniano, que tinha proibido as redes de TV de exibirem os protestos, contra-atacou. Rowhani disse que Trump, que chama os iranianos de terroristas não tem por que simpatizar com seu país.

Em reunião com parlamentares nesta segunda, o presidente iraniano minimizou os protestos –realizados, segundo ele, por um "grupo pequeno e minoritário". "Nossa grande nação já testemunhou incidentes similares no passado e lidou confortavelmente com eles. Isto não é nada."

No domingo, Rowhani havia reconhecido o descontentamento da população, mas o governo avisou que não hesitaria em punir quem violasse as leis.

Rowhani dissera, em reunião com seu gabinete, que os iranianos têm o direito de protestar e de criticar o governo, mas que suas ações não podem levar à violência.

"Aqueles que destroem a propriedade pública, criam desordem e agem em ilegalidade devem responder por suas ações e pagar o preço, agiremos contra a violência e contra aqueles que provocam medo e terror", disse o ministro do Interior, Abdolreza Rahmani Fazli.

MORTES

Segundo a TV estatal, os confrontos de domingo ocorreram quando forças de segurança tentaram impedir os manifestantes de tomar postos militares e policiais. Não foi possível confirmar a informação de forma independente.

A emissora exibia imagens de edifícios em chamas, uma equipe de ambulâncias tentando auxiliar uma pessoa ferida em meio a uma multidão de pessoas gritando e um caminhão de bombeiros que parecia ter sido atacado e queimado.

Seis pessoas morreram em Tuyserkan (noroeste) e outras três em Shahinshahr (centro). A TV não informou onde ocorreu a outra morte. Na noite de sábado (30), duas pessoas haviam sido mortas a tiros na cidade de Dorud, quando os manifestantes atacaram bancos e edifícios do governo e queimaram uma moto da polícia.

Nesta segunda, um porta-voz da polícia informou que um policial foi morto a tiros e três ficaram feridos durante as manifestações em Najafabad (centro). Não está claro quando isso ocorreu.

O governo alemão disse, na segunda, estar "muito preocupado" com as mortes e instou o Irã a permitir manifestações pacíficas.

Para especialistas, é clara a decepção de parte da população com o fato de a vida no país não ter melhorado mesmo após o acordo feito com potências em 2015, que afrouxou as sanções.

Segundo dados oficiais, a taxa de desemprego subiu de 10,4% em 2008 para 12,5% em 2017, a inflação está hoje em 11,8%.

Tópicos relacionados

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.