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05/02/2012 - 10h43

Quem quer ser "Mulheres Ricas"?

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BARBARA GANCIA
COLUNISTA DA sãopaulo

Enfrento um problemão: minha carteira da entidade de classe das Mulheres Ricas expirou, preciso renovar e não consigo lembrar o endereço da sede do sindicato. Alguém pode ajudar? Ficava ali em Higienópolis, ao lado do Sion, bem pertinho do casarão da TFP, não ficava?

Só sei ao certo que as Mulheres Ricas são uma categoria estabelecida que dispensa aferição por qualidade, caráter ou qualquer outra forma de atributo. A única medida que serve para nos classificar é dinheiro, simples assim.

Ilustração Alex Cerveny/Folhapress

E não gostamos que venham pisotear nossos Louboutins e distorcer as coisas, como ousam? Feito as lambisgoias desse programete agora da Band, que história é essa? Deus que me livre e me guarde, já rezei dois terços para Sainte Marie Antoinette, na Nossa Senhora do Brasil ajoelhada ao lado da grande dama da sociedade, dona Maricy Trussardi.

Eu tinha avisado que ia dar nhaca desde o início. Não deu dois minutos depois de o "Mulheres Ricas" estrear na Band e eu logo tuitei: "Já pegou esse 'A Fazenda' de ricas! AbFab Brazil! Dá-lhe, Narcisa, I love you!". Álvaro Leme, editor da "Veja São Paulo", retuitou na mesma hora. Também percebeu o perigo que essa infâmia representava para a categoria.

Imagine a brutalidade de juntar num mesmo programa: 1) uma senhorinha que passeava de mãos dadas com Santos Dumont sob o viaduto do Chá quando o pianinho da Barbie caiu de lá de cima e afundou-lhe o crânio; 2) uma odalisca com senso de humor inspirado no Terceiro Reich (ai, que saudades da Odile!); 3) uma fofíssima que parece sempre ter terminado de sair do lavabo depois de fumar o carpete e, por fim, a Calamity Jane.

Se ainda fosse para trazer uma vesga linda e chamar de "Manhattan Connection", não é mesmo? Mas "Mulheres Ricas"? O que essas senhoras cheias de dentes têm em comum com minhas amigas hidratadas e de pernas bem drenadas?

Quero dizer ao Brasil que nunca vi essa mulherada de Frigoboi mais gorda. Tem nada desse negócio de juntar um monte de miúdo e fazer ensopado. O nosso negócio é empresa familiar: Sadia, Bordon, Perdigão, Swift, da família do Jonathan Swift, chiquérrima, nada como dinheiro velho, instituição e tradição, não é?

Queria dizer também que contribuo com várias caridades (dois orfanatos para queimados na enchente, uma instituição para mordidos pela inveja e outra para desabrigados pelos ventos da mudança) e faço questão de frisar que trago presentes da Europa para todos os meus empregados, inclusive o piscineiro e a babá da folga. Não sou de comprar nada de última hora no Duty Free na chegada em Guarulhos, não.

Para mim, dar gorjeta é um gesto automático, como é norma sorrir ao manobrista do "day spa". E queria aproveitar a ocasião para reiterar que meu carro é blindado de última geração e que meu marido foi instruído a jogar na privada o bilhete exigindo dinheiro de resgate caso eu seja sequestrada.

Sou de bem com a vida, faço ioga (nunca na Índia porque tenho nojo) e não odeio ninguém. Vim para desfazer mal-entendidos. Estava justamente comentando com as amigas da cabala (também faço) sobre "Mulheres Ricas". Vai que o pessoal do ponto de ônibus me confunde com uma delas ao me ver no meu Land Rover e sai gritando: "Olha a rica do programa! Pega ela!".

Depois ainda acusam a gente de passar por cima e causar crime doloso quando foi culposo, um transtorno terrível, já pensou? E somos nós que pagamos o pato enquanto as do programa da Band ficam em casa lépidas. O mundo realmente está de ponta-cabeça, não?

 

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