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20/05/2012 - 08h45

Desafio à TV Cinq

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BARBARA GANCIA
COLUNISTA DA sãopaulo

O dever acenou e eu despenquei na direção do Rio atrás de uma entrevista com a Narcisa para o "TV Folha", o programa que o jornal está apresentando aos domingos na TV Cultura.

Nos instalamos, com meu cinegrafista megafofo Cecconello e a produtora Giuliana, que é uma espécie de Helena Pêra (a Mulher-Elástica do desenho animado "Os Incríveis"), no sexto andar do Copacabana Palace, aquele a que só supercelebs como princesa Diana, Madonna, Bill Clinton, Lula, Mick Jagger e Michael Jackson tiveram acesso acionando uma chave nojenta de tão exclusiva no elevador.

Ligamos para a versão carioca do Coringa do Batman: "Oiiiiiiiiiii, que saudade!", "Tudo!", "Você?", e aquelas coisas todas. Nem mesmo a Hebe saindo da joalheria demonstra tamanha animação. Dá a impressão de que o esmalte da Narcisa nunca lasca, de que ela jamais passa pelo temor de estar com um negão na arquibancada (aquela salsinha que estaciona entre os dentes depois do almoço, sabe?), nada a afeta.

Marcamos o encontro e ela me fez um pedido: "Olha só, vou levar uma equipe da TV francesa que está fazendo um documentário a meu respeito, pode ser?". Na hora não entendi nada, mas, como ela já me fez pedidos muito mais estranhos nos 30 anos desde que nos conhecemos, nem levei em conta.

Quando a campainha da minha suíte semipresidencial tocou, o Cecconello já estava posicionado para iniciar a gravação. Mas, assim que abri a porta, minha visão foi ofuscada pelas luzes da câmera da TV Cinq, um dos canais de TV mais importantes da França e eu mal vi aquela que se autodenomina "the face of Rio". Uma repórter começou a me bombardear de perguntas: "Qu'est ce que vous pensez de Narcisá?". Peraí, minha senhora, quem está entrevistando aqui sou eu.

Improvisamos uma linha Maginot com o carrinho do serviço de quarto e acabamos conseguindo negociar uma trégua. A mulher me explicou que o "Mulheres Ricas" tinha sido exibido na França e ela viera ao Brasil-bola-da-vez conhecer as divas do programa.

Flashes de documentários da Imelda Marcos, das mulheres do Bokassa e do Idi Amin e da primeira-dama de Camarões, Chantal Biya, começaram a invadir minha mente. Europeu adora simplificar o mundo. A Índia é diferente porque é exótica, a África por ser selvagem e agora chegou a vez do Brasil com sua disparidade social.

Mas as "Mulheres Ricas" da França não serão tão extravagantes quanto as nossas? Tome Stephanie de Mônaco. A princesa que nasceu para chocar fugiu com uma espécie de engolidor de fogo do circo e depois se casou com um de seus seguranças, que acabou sendo flagrado em atividade aerobicorgástica com a ex. Outra herdeira, terceira colocada nas últimas eleições presidenciais francesas, Marine Le Pen, qualificou as câmaras de gás como "um detalhe da história da Segunda Guerra Mundial" e prega o retorno à pena de morte.

Com muita tranquilidade, fui explicando à TV francesa que é difícil para um europeu compreender a mobilidade social no Brasil. E que o programa que a trouxe até aqui fez uma caricatura da vida das ricas, que não é um tratado sociológico e deve ser encarado como entretenimento.

Não peguei pesado porque estava diante de nossa embaixatriz da gentileza, em um dos hotéis mais charmosos do mundo. Mas bem que tive vontade de colocar as mãos nas ancas e dizer alto e claro: "Você tem é medo de perceber que, de perto, a humanidade que há em você é a mesma que existe na Carla Bruni ou na Sarah Palin".

É fácil ver a diferença entre a rica vulgar do Terceiro Mundo e os cultos europeus. Quero ver a TV Cinq vir fazer um documentário mostrando nossas semelhanças.

 

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