Fique em casa: veja dicas de livros, CDs e filmes para não sair do lar

Seria interessante saber o que o crítico norte-americano Alex Ross diria sobre "Jequibau", que celebra os 20 anos do quarteto de violões Quaternaglia. Em ensaios de "O Resto É Ruído" e "Escuta Só" (ambos pela Companhia das Letras) e em artigos para a revista "The New Yorker", Ross vem apontando a "arte da fusão" como ponte sobre o abismo, aberto pelas vanguardas do século 20, entre o repertório erudito e os gêneros populares.

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O crítico dissolve esquematismos e lembra não apenas as apropriações de danças folclóricas por Bach e Brahms ou o ritualismo buscado por Stravinsky e Bartók em ritmos telúricos, mas também o modo como compositores atuais utilizam essas matrizes.

	Gal Oppido/Divulgação
	Quarteto Quaternaglia, que celebra 20 anos, Disco "Jequibau" mistura ritmos eruditos e populares

Ross cita os argentinos Astor Piazzolla e Osvaldo Golijov e os brasileiros Hermeto Paschoal e Egberto Gismonti --sublinhando algo que nunca foi estranho ao universo latino-americano. "Jequibau", porém, traz a forma particular de fusão promovida pelo Quaternaglia, que se acentuou a partir de "Forrobodó".

Esse disco de 2000 trazia peças feitas especialmente para o quarteto por Gismonti e Paulo Bellinati (antes disso, o repertório do grupo incidiu sobre renascentistas, barrocos e transcrições de Villa-Lobos ou Stravinksy). E eles reaparecem em "Jequibau" ao lado de composições de Paulo Tiné e Marco Pereira.

Diferentemente das citações (não raro ingênuas) de temas clássicos em improvisos jazzísticos ou da metamorfose (no limite da desaparição) de compassos populares em obras camerísticas e sinfônicas, temos aqui contrapontos desentranhando complexidades que hibernavam em ritmos tradicionais --como em "Frevo e Fuga" (Bach no Recife!).

Uma sequência dodecafônica se insinua na valsa "Sibéria", um "bepop" inicial deriva para o samba em "Sambadalu" (homenagem à cantora Luciana Souza, intérprete de peças de Golijov) --e tudo soa como uma necessidade lógica, graças às transições precisas e à nova bossa da fusão realizada pelo Quaternaglia.

DISCO
JEQUIBAU * * * *
Artista: Quaternaglia
Gravadora: Tratore (R$ 20)

CONEXÕES

DISCO
ESTAMPAS * * * *
Disco anterior do quarteto traz peças de Villa-Lobos, do argentino Ginastera e do espanhol Torroba, entre outros.
Artista: Quaternaglia
Gravadora: Tratore (2010, R$ 22,90)

LIVRO
FOLHA EXPLICA MÚSICA CLÁSSICA BRASILEIRA HOJE * * * *
Só o decoro impediu que Sidney Molina incluísse o Quaternaglia (do qual faz parte) nesse panorama da cena erudita.
Autor: Sidney Molina
Editora: Publifolha (2010, 216 págs., R$ 22)

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LIVROS

MARTINHA VERSUS LUCRÉCIA * * * *
Roberto Schwarz (Companhia das Letras, 320 págs., R$ 44)
O novo livro do crítico ficou eclipsado pela polêmica, na Folha, em torno do ensaio sobre "Verdade Tropical", aguda análise da autobiografia de Caetano Veloso. Mas o volume também é, à sua maneira, autobiográfico, com perfis intelectuais de interlocutores como Bento Prado Jr. e Michael Löwy e entrevistas com o próprio Schwarz, além de textos sobre literatura.

O CANTO DAS MUSAS * * * *
Org. de Zélia Cavalcanti (Cia. das Letras, 176 págs., R$ 42)
A análise formal, que muitas vezes esteriliza a poesia, não descura aqui da expressividade e do contexto literário. Poemas clássicos de autores como Camões, Bilac, Augusto dos Anjos e Fernando Pessoa são lidos verso a verso e acompanhados por CD com ousadas e inventivas versões musicais de Péricles Cavalcanti. Ótimos intérpretes: da poesia e da canção.

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FILME

OS VISITANTES DA NOITE * * *
Marcel Carné (Versátil, R$ 39,90)
Com roteiro do poeta Jacques Prévert, esse filme de 1942 (ambientado em 1485) narra a história de menestréis enviados pelo diabo para semear a desgraça no castelo de um nobre. Eles devem seduzir dois nubentes, mas a missão falha, provocando a intervenção do próprio demo. Nessa possível parábola do nazismo, Carné criou um retábulo medieval com belos contrastes de luz.