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26/07/2010 - 10h32

Clube cobra R$ 180 mil por título e está prestes a receber Fenômeno como sócio

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GIBA BERGAMIM JR.
DE SÃO PAULO

Em qualquer rodinha do Club Athletico Paulistano, o assunto inevitável é o futuro sócio: Ronaldo, ídolo do Corinthians e pentacampeão mundial de futebol. A ida do craque ao restaurante do clube, numa quarta-feira do ano passado, causou euforia e deixou alguns associados incomodados com a exceção aberta ao jogador.

Fernando Donasci/.
Clube Paulistano, tradicional clube de SP, localizado no bairro dos Jardins, é frequentado pela elite paulistana. na foto: Carolina Pedrosa.
Clube Paulistano, tradicional em São Paulo, localiza-se no bairro dos Jardins e é frequentado pela elite da cidade

Ronaldo entrou de bermuda para almoçar, o que não é permitido durante a semana. O clube, que completa 110 anos em dezembro, não costuma afrouxar o protocolo.

Frequentada pela elite paulistana, a instituição cobra R$ 180 mil dos interessados em fazer parte dos 25 mil frequentadores (os donos dos 9.500 títulos e seus dependentes) e escolhe a dedo os frequentadores.

Para entrar numa turma que inclui o publicitário Washington Olivetto, o ator Juca de Oliveira, a modelo Isabela Fiorentino e o tetracampeão de futebol Mauro Silva, o candidato precisa ser indicado por sócios e passar pelo crivo dos conselheiros. Uma sindicância analisa a documentação.

Ronaldo deve passar por todos esses trâmites, mas, se depender do presidente do clube, Antonio Carlos Vasconcellos Salem, o maior artilheiro de todas as copas já está aceito. "É um orgulho tê-lo aqui, mas ele ainda precisa apresentar todos os documentos", explica Salem, que já nasceu sócio.

Assim como o jogador, que pretende colocar os filhos de dois casamentos como dependentes, qualquer um que quiser comprar um título terá que ser indicado por dois sócios e conseguir referências favoráveis de outros cinco. Além de pagar R$ 5.000 pelo título (para o dono), é necessário desembolsar R$ 180 mil de taxa de transferência (para o clube).

O Paulistano ocupa uma área de 42 mil m2 no Jardim América, um dos bairros mais caros da capital. Tem grande parque aquático, 13 quadras de tênis e campo de futebol, além de escola infantil, salão de festas, danceteria, restaurantes, cinema, salas de jogos, academia e salão de beleza. A mensalidade custa R$ 429 (se o título for familiar) ou R$ 257 (individual).

Fundado por jovens que queriam um espaço genuinamente brasileiro --até 1900, os clubes eram de origem europeia--, o Paulistano tem tradição nos esportes amadores, como basquete e pólo aquático. Há espaço também para modalidades menos populares, como pelota basca, esgrima e badminton.

Para Salem, o Paulistano é um clube de classe média. Uma busca no site oficial, no entanto, deixa claro outro perfil. "O quadro de associados é composto por proprietários com alto poder aquisitivo", explica o texto de apresentação, que inclui ainda expressões do tipo "classe AA na categoria socioeconômica".

"Mas tem muita gente aqui que vive de aposentadoria", diz um sócio antigo. Não há casos de inadimplência. No dia em que atendeu a reportagem, Salem aprovaria seis novos sócios, entre eles proprietários de grandes redes varejistas.

Para garantir o fluxo de novos membros, há 110 títulos disponíveis --são os deixados por associados que decidiram abrir mão do benefício ou pelos que já morreram. Há também os títulos dos chamados sócios remidos: após 35 anos, eles param de pagar a mensalidade e podem continuar frequentando o clube, mas são obrigados pelo regulamento a vender o título para a entidade.

A cada ano são aceitos de 20 a 25 novos sócios. Segundo os diretores, são raros os casos de bola preta (quando o candidato é recusado).

Tradição

Quatro mil pessoas circulam por dia no Paulistano, que tem orçamento anual de R$ 85 milhões. Boa parte dos sócios mora nas imediações. Caso de Maria Cleo Vasconcellos Salem, 86, que vê a movimentação do clube da janela de seu apartamento. "É uma vista privilegiada da cidade", diz. Mãe do presidente, ela usa a parte social só aos finais de semana.

Aos domingos, os quatro restaurantes são a escolha de associados mais antigos que jogam conversa fora antes de uma tarde de carteado. O grupo formado por Terezinha de Jesus, a dona Teka, de 71, não tem outra programação: joga pif-paf das 14h às 22h. Para entrar, cada um desembolsa, no mínimo, R$ 1.000.

"Se eu não tivesse essa rotina, já teria morrido. Para uma viúva sem filhos, não tem coisa melhor", diz, enquanto distribui cartas na mesa de jogos, que inclui o empresário Basílio Scavarelli, que completará 100 anos em setembro --60 deles, como sócio.

A vocação para a tradição aparece fácil em um passeio pelo clube. Na porta do restaurante Terraço, aquele onde Ronaldo entrou de bermudão, o aviso é claro: nada de calções, agasalhos esportivos e bonés durante a semana -aos sábados e domingos abre-se exceção. Pouca exigência perto do que era obrigatório há alguns anos. "Só se entrava ali de terno", conta o presidente Salem.

Mais novos

Acompanhados pela babá --as profissionais só entram de uniforme--, os irmãos Guido, 2, e Gianluca Gionarelli, 1, se divertem no campo de futebol aos domingos. "É excelente para as crianças. E a escola infantil é muito boa", elogia a mãe, a dermatologista Gabriela Paes, sócia há quatro meses, desde que se mudou com a família do Rio para São Paulo.

Quando o assunto é Ronaldo, os sócios se dividem. Há quem ache que vai tirar a privacidade dos associados, já que o jogador vive cercado de seguranças e atrai jornalistas. Outros apostam que vai ser bom para a imagem do clube. Mas a hipótese de bola preta para o jogador é zero.

Sócio gay gera polêmica

O pedido de um sócio homossexual para incluir o companheiro como dependente é a mais recente polêmica do clube e tem deixado os conselheiros com a pulga atrás da orelha. O assunto é discussão frequente nas reuniões do conselho, já que o estatuto da entidade entende como união estável a relação entre homem e mulher, seguindo a Constituição brasileira.

O debate ganhou força depois que a Câmara dos Deputados da Argentina aprovou o casamento gay, colocando mais esse dado na discussão. "Temos essa solicitação. O estatuto do clube não é diferente da Constituição. Cabe ao conselho analisar se muda o estatuto ou não", defende o presidente Antonio Carlos Vasconcellos Salem.

Mas há conselheiros contrariados com a hipótese de rever as regras. Na opinião dos mais antigos, o certo seria o companheiro comprar um título individual. "Tudo vai depender do conselho. Se os conselheiros disserem que contradiz o estatuto, não há o que falar. Se o casal se sentir prejudicado, vai à Justiça. Mas se o estatuto for alterado, tudo bem, é a vontade dos sócios", resume Salem.

Aposta no esporte amador

A jogadora de polo aquático Camila Pedrosa, 35, é a chamada prata da casa. Sócia, ela é atleta do clube desde os 13 anos e faz parte de um grupo de esportistas amadores que recebem investimento do clube. O Paulistano nunca se aventurou nas modalidades profissionais, tanto que um grupo de ex-sócios se juntou e montou o São Paulo Futebol Clube para investir na profissionalização de seus atletas.

No ano passado, Camila, chamada de rainha no clube, foi vice-artilheira no mundial do Canadá, repetindo o feito de 2001, no Japão. Durante alguns anos, porém, defendeu o Pinheiros. "Mas cresci aqui no Paulistano. Comecei na natação", lembra Camila, que divide o dia entre a consultoria onde trabalha, os treinos e os cuidados com a filha de 5 anos.

O basquete também fez história ali. A equipe juvenil foi campeã estadual no ano passado. Para manter as equipes, o Paulistano conta com os chamados militantes, que não têm título de sócio mas atuam pelas equipes esportivas da instituição. São cerca de 150. O clube tem também um centro de treinamento em Osasco, na Grande São Paulo.

As quadras de tênis estão entre as mais disputadas. Por esse motivo, outro grupo de sócios decidiu sair e fundar um tênis clube, dando origem à Sociedade Harmonia de Tênis. Mas o Paulistano teve entre seus atletas alguns que fizeram história nessa modalidade. Caso de Armando Ferla, 80, tenista que foi capitão da equipe brasileira na Copa Davis, em 1969, e duas vezes vice-campeão universitário, na década de 50.

 

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