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02/08/2010 - 11h12

Concreto sufoca raízes das árvores em SP; veja slide show

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GIBA BERGAMIM JR.
DE SÃO PAULO

A figueira na calçada da rua Maria Cândida, na Vila Guilherme (zona norte), cresce quase sem nenhum espaço para suas raízes. A poucos metros dali, o alfeneiro-do-japão definha e já destrói toda a calçada. Os dois exemplos mostram o que um estudo da Prefeitura de São Paulo constatou: o concreto sufoca muitas árvores da capital. Pesquisa recente mostra que só num perímetro formado por 25 ruas em Perdizes (zona oeste), 42% das plantas estão em canteiros irregulares, onde há muito cimento e pouca terra. Ali foi iniciado o projeto Identidade Verde, um censo das árvores da capital. Hoje, estima-se que existam 2 milhões delas na cidade.

Jefferson Coppola/Folhapress
O engenheiro agrônomo Elder Antonio Rizk, 27, cataloga um ficus (ficus banjamina) na rua Maria Candido, em frente ao no 1937, na Vila Maria
Engenheiro agrônomo Elder Antonio Rizk cataloga um ficus (ficus banjamina) na rua Maria Cândida, em frente ao nº 1937

O programa, que começou em maio do ano passado, passou da pesquisa à fase de execução. E os resultados já mudam a cena do bairro. Levantamento obtido com exclusividade pela sãopaulo mostra que, de 1.239 árvores avaliadas em Perdizes, 219 (17%) tiveram de ser removidas, por estarem mortas ou doentes. Entre todas as avaliadas, 780 (63%) estão passando por poda e 528 (42%) têm canteiros inadequados. Neste último caso, os donos de imóveis ou responsáveis pelas calçadas são acionados para ampliação do espaço.

Engenheiros agrônomos chegaram à conclusão de que apenas 288 árvores (23%) estão em bom estado em Perdizes. As demais estão em situação considerada regular, ou seja, precisam de alguma intervenção como poda e ampliação de canteiros.

Para fazer a avaliação em toda a cidade, foram designados 97 especialistas. A pesquisa começou na subprefeitura da Lapa, que inclui Perdizes, onde havia o maior número de reclamações ou pedidos de poda. Hoje, os técnicos estão em outras seis regiões: Vila Mariana e Jabaquara (zona sul), Vila Maria/Vila Guilherme, Jaçanã e Pirituba (zona norte) e São Miguel (zona leste). Outros profissionais já estão sendo treinados em Ermelino Matarazzo (zona leste) e no Campo Limpo (zona sul). A previsão é que, até o fim do ano, engenheiros de todas as subprefeituras estejam nas ruas para ampliar o projeto.

Jefferson Coppola/Folhapress
Árvore na praça do Patriarca, no centro de São Paulo; projeto Identidade Verde faz um censo das árvores da capital
Árvore na praça do Patriarca, no centro de São Paulo; projeto Identidade Verde faz um censo das árvores da capital

Uma árvore estrangulada pelo concreto corre sérios riscos. O canteiro irregular prejudica tanto a planta que ela pode cair. As raízes recebem menos água e nutrientes, além de perderem a estabilidade, já que não acompanham o crescimento da copa. "É como um barco pequeno com vela grande. Ele tomba. Pode acontecer igual com a árvore. As pessoas que fazem as calçadas não enxergam que as árvores se alimentam pela raiz", explica o engenheiro agrônomo Tácito Lucio Toffolo dos Santos, que participa do projeto.

Sergio Brazolin, pesquisador do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas), diz que as más condições das árvores podem estar relacionada à falta de planejamento. "O problema dos canteiros é de condição urbana. São Paulo não foi planejada para ter árvores. A cidade precisa de arborização, mas muitas vezes as condições de plantio não são favoráveis. Por isso, encontramos árvores em canteiros inadequados. Tem morador que cimenta até o colo da árvore", diz Brazolin.

A simples ampliação do canteiro ajuda a tornar a planta mais saudável. Muitas das que têm problemas foram plantadas por moradores, num período em que isso era permitido, com poucas regras. Hoje, só funcionários da prefeitura podem plantar e podar. O ideal para manter a saúde das plantas é a chamada calçada verde, que mantém uma faixa gramada em toda a sua extensão.

Veja Vídeo

O plantio indiscriminado resulta em aberrações. A figueira, por exemplo, é uma espécie inviável nas áreas urbanas porque cresce muito. "É o dog alemão das árvores. Você compra pequeno e depois fica gigante", explica Santos. Além disso, como avança na rua, quase sempre é atingida por algum caminhão ou ônibus. Em caso de acidentes, as árvores feridas ficam mais suscetíveis à entrada de fungos e adoecem. Outro dado que pode ser visto com preocupação é o número de remoções --219 só no projeto piloto--, segundo Gregório Ceccantini, do Departamento de Botânica da USP. "A situação das árvores da cidade é alarmante", sentencia. Para o especialista, o número de espécies condenadas deve ser maior que o estimado, já que o município não dispõe de tecnologia moderna para avaliar o estado de saúde das plantas. Equipamentos de ultrassom, por exemplo, identificam doenças que não são detectadas a olho nu.

A pesquisa deixa claro o que é senso comum: faltam árvores na cidade. "Moro no Tatuapé e vejo que a arborização é medíocre ali", lamenta Brazolin. Segundo a Secretaria do Verde e do Meio Ambiente, 202.949 árvores foram plantadas em 2009.

"Algumas regiões precisam muito. A zona leste é muito carente", diz André Graziano, coordenador de áreas verdes da Secretaria das Subprefeituras. "Nossa ideia é identificar locais onde é possível plantar e pensar em outras políticas. Uma delas é incentivar o plantio nos quintais, já que a calçada é muito estreita e há muita fiação elétrica."

Entre os anos 1920 e 1950, era comum o plantio de árvores exóticas. Por isso, ainda hoje há, por exemplo, tipuanas, especialmente na região dos Jardins. Naquele período, o processo de arborização visava dar um caráter europeu aos bairros, por isso as plantas eram importadas. Na Lapa (zona oeste), foram plantados muitos alfeneiros, vindos da Ásia. "Árvore obedece à moda. Algumas áreas foram privilegiadas com certas espécies", explica Graziano.

Naquela época, não existia estudo que mostrasse qual era a espécie mais adequada a áreas urbanas de São Paulo. Assim, plantava-se a gosto, sem preocupação com o impacto na cidade. Segundo ele, à medida que foram sendo retiradas, elas deram espaço às nativas sibipirunas, ipês, quaresmeiras e paus-ferro. "Essas espécies são fruto de estudos brasileiros sobre arborização urbana. Têm florada exuberante, boa sombra e se comportam bem no meio urbano", afirma.

Mudas doentes na marginal
Mesmo no caso de plantios recentes, as árvores podem não se adaptar. O solo cheio de entulho foi um obstáculo para a arborização da marginal Tietê. Com as novas pistas, a meta era triplicar o número de árvores ao longo da via. Das mais de 17 mil mudas plantadas, 800 morreram. "Aquilo lá não é solo, é um tijolo. As margens do Tietê foram usadas como depósito de entulho", disse Daniel Salati Marcondes, gerente de Meio Ambiente da Dersa.

Antes das novas pistas, havia na marginal 5.118 árvores. Hoje são mais de 21 mil. As enchentes do início do ano também castigaram as plantas. Para escapar das cheias, muitos motoristas invadiram canteiros e derrubaram as árvores. O custo para plantar uma muda é de R$ 250.

Paris faz mapeamento desde 2001
O que São Paulo está começando a fazer existe em Paris desde 2001. E as informações estão na internet. No site da prefeitura, é possível saber onde estão os 484 mil exemplares, de 160 espécies. Os dados dão conta até das espécies plantadas nos cemitérios --são 34 mil árvores perto de túmulos. As demais estão nas vias públicas (96.500), nos parques e jardins (36.500), nas escolas (6.000) e em outros pontos. Os técnicos acompanham a evolução das árvores, que recebem uma etiqueta eletrônica. Com isso, é possível monitorá-las e saber se alguma foi vítima de maus tratos.

Sombra para taxistas
Em 1995, os taxistas da rua Wisard, na Vila Madalena (zona oeste), reuniram-se para salvar uma árvore doente. A figueira foi replantada pelos colegas de praça bem em frente ao ponto de táxi. Hoje, a planta chama a atenção de quem passa por ali, bem na esquina com a rua Fradique Coutinho. "Ela ficava num vaso, até que uma pessoa maldosa machucou a coitadinha. Aí plantamos aqui", lembra o taxista Rubens Mendes, 64 anos. A árvore virou o xodó dele.

Segundo Ricardo Cardim, fundador da ONG Amigos das Árvores de São Paulo, é comum taxistas plantarem árvores na cidade. Mas muitas delas, compradas em floriculturas, não são ideais para áreas urbanas, caso da figueira. "Se não escolher a árvore certa, causa mais transtornos do que benefícios", defende.

 

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