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14/08/2011 - 09h42

Homenagem

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FABRÍCIO CORSALETTI
COLUNISTA DA REVISTA sãopaulo

- Fabrício Corsaletti, pode falar?

- Ah, é você?! Posso, claro. Tô aqui no trabalho, mas tá tranquilo. Onde você tá?

- Não tô te ouvindo bem. Cê tá me ouvindo?

- Tô. Mas deixa eu mudar de lugar, então.

- Não entendi.

- Melhor agora?

- Bem melhor. Rapaz, vou te contar... eu tô aqui em Natal. É... vim pra cá pra ver o mar. Eu tava em São Lourenço me cuidando, trabalhando de lá... Pensei: eu já criei meus cinco filhos, já trabalhei muito, não devo pra ninguém. Por que eu não posso ir pra Natal ver o mar? Eu disse: vou pra Natal ver o mar! Eu conheci isso aqui uns 40 anos atrás, tá bem diferente, mas continua lindo. Cê pode falar mesmo?

- Posso. Continua. Quando cê chegou?

- Hoje cedo. Isso aqui é o paraíso. Vou te contar como é a vista do meu hotel. Ele fica uma quadra pra dentro da praia. Daqui eu vejo, ó, um hotel em construção, um terreno baldio, aí tem um hotel desses metidos a besta... e logo ali já é o mar. Um azul maravilhoso. Nosso Brasil é muito lindo. E tá soprando uma brisa campeã. O gerente do meu hotel é o Silas, um figura. Combinou que vai me levar pra comer lagosta num lugar campeão. E aí... o Silas... olha só como é a vida... o Silas é sobrinho de um músico com quem eu trabalhei nos anos 70, o Pé de Jaca. Ficamos amigos na hora. Rá rá, garoto! Eu tô impossível. Quero passar uns meses aqui. Já falei com o Nelsinho, do teatro, e ele disse pra eu ficar tranquilo, que eles vão continuar me pagando, que o que eu precisar é só pedir. Inclusive se eu precisar de internação...

- E como você tá de saúde, hein?

- Rapaz, eu tô travando uma luta bonita com essa doença. É uma luta difícil, mas é nessas horas que a gente entende aqueles gregos malucos. Conhece-te a ti mesmo. Agora eu tô começando a entender essa frase. Conhece-te a ti mesmo. Ah, guri, você se prepara que eu vou sair dessa!

- Claro que vai.

- É uma doença forte. Eu tô sentindo muita dor. Mas você não pense nunca o contrário: eu vou sair dessa e quando você menos esperar eu tô na área!

- Acredito! Que bom que você tá bem... Tá com uma voz boa. Cê não vem pra São Paulo tão cedo, né?

- Preciso me concentrar aqui. Ficar de frente pro mar, comer umas lagostas... A brisa aqui é um negócio que você não imagina. Eu tô relendo o João, manja? E o verbo se fez carne. Eu gosto muito do João. Ele é o poeta, né?

- Ele é demais.

- Bom, guri, vai trabalhar que senão cê perde o emprego. Cê continua na editora? Que que vocês tão editando?

- Tô revisando um livro do Tchekhov sensacional.

- O Tchekhov é campeão. O Mastroianni que adorava ele. Dizia: eu adoro aqueles meios-tons do Tchekhov. Fui, abraço!

- Fal...

 

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