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Pai do cinema espírita, Clery Cunha filma em Cidade Tiradentes
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JULIANA VAZ
DE SÃO PAULO
Com mais de cinco décadas de carreira, o cineasta Clery Cunha já circulou por quase todos os gêneros: policial, comédia de costumes, drama erótico, filme-catástrofe, filme espírita.
Agora, aos 72 anos, prepara-se para rodar um filme de episódios. "Tiradentes City - Zona Leste SP" reúne 13 histórias que se passam no maior complexo de conjuntos habitacionais da América Latina: Cidade Tiradentes.
O roteiro é adaptado de crônicas urbanas publicadas no jornal "Agora" por Voltaire de Souza, pseudônimo do colunista da Folha Marcelo Coelho. A trama é fictícia, mas Clery garante que trará uma "fauna de elementos reais" da região.
"Lá já foi muito barra pesada. Hoje, é uma cidade-dormitório", diz o diretor, que pesquisou locações com a ajuda de moradores do complexo.
Maria do Carmo/Folhapress | ||
O cineasta Clery Cunha em Cidade Tiradentes, zona leste de SP, onde se passará seu novo longa-metragem |
Também ator, Clery é um sobrevivente da Boca do Lixo, antigo polo de produção cinematográfica concentrado na rua do Triunfo, no centro de São Paulo, de onde saíram, entre meados da década de 1960 e final dos anos 1980, quase todos os filmes produzidos na cidade.
Já dirigiu Beth Goulart, Antonio Fagundes, José Lewgoy, Joana Fomm e outras estrelas que se tornaram muito mais famosas do que ele.
Com a explosão do filão espírita no cinema nacional nos últimos anos, viu seu "Joelma 23º Andar" (1980) virar uma peça cult. Meio melodrama, meio catástrofe, o longa sobre o incêndio no edifício paulistano que, em 1974, deixou quase 200 mortos, é baseado em um livro psicografado por Chico Xavier e conta com uma aparição do médium.
"O filme tem três aspectos que marcam o cinema atual: a narrativa ficcional inserida na documental, a mistura das estéticas televisiva e cinematográfica e a doutrina espírita", lembra Glauber Filho, diretor de "As Mães de Chico Xavier" e "Bezerra de Menezes: O Diário de um Espírito".
AUTODIDATA
Embora tenha sempre produzido em São Paulo, onde vive desde os nove anos, Clery é natural de Goiás. Autodidata da sétima arte, começou a carreira na TV Tupi, como caboman. Nesse meio, diz que aprendeu tudo. "Tenho a agilidade da TV e a carpintaria do cinema", gaba-se ele, que também foi diretor do jornalístico do SBT "Aqui Agora".
"Tiradentes City", em processo de captação de recursos, marca o retorno de sua parceria com a atriz Vida Alves, 83, protagonista do primeiro beijo da TV brasileira, há 60 anos. No filme, ela interpreta uma cartomante.
Resgata também a cooperação com Roberto Bonfim, que protagonizou o seu "O Rei da Boca" (1982), radiografia do submundo do crime paulistano. "Ali, usei como atores trombadinhas, trombadões, proxenetas e traficantes de verdade", lembra Clery, orgulhoso.
Na nova produção, voltará a dirigir personagens reais, mas a ideia é explorar outras faces do bairro além da criminalidade. "Quero falar do que Cidade Tiradentes tem de lazer, das figuras fantásticas, das creches excelentes", explica.
"As histórias envolvem aspectos da violência, do humor e do grotesco, três áreas que ele transa bem", resume Marcelo Coelho.
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