Mourão elogia delegado que criticou Salles e diz que madeireiras precisam apresentar documentos

Alexandre Saraiva disse à Folha que Polícia Federal não vai passar boiada, em referência à frase dita por ministro em reunião ministerial em 2020

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Brasília

O vice-presidente Hamilton Mourão elogiou nesta segunda (5) o chefe da Polícia Federal do Amazonas, Alexandre Saraiva, que está em atrito com o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, por causa da maior apreensão de madeira da história, realizada no Pará.

Em entrevista à Folha, Saraiva disse que na PF não vai passar boiada, em referência à frase dita por Salles em uma reunião ministerial em abril do ano passado, ao falar da mudança de normas ambientais aproveitando-se do foco da sociedade na pandemia de Covid-19.

“Precisa haver um esforço nosso aqui, enquanto estamos nesse momento de tranquilidade no aspecto de cobertura de imprensa, porque só fala de Covid, e ir passando a boiada e mudando todo o regramento e simplificando normas”, disse ele, como registrado em vídeo.

Salles foi ao Pará na semana passada fazer uma espécie de verificação da investigação, disse que viu erros na ação da polícia e que há elementos para acreditar que as empresas investigadas estão com a razão. O delegado, por outro lado, afirma que as madeireiras não entregaram os documentos requisitados e que todo o material apreendido é produto de crime.

“Saraiva é um grande batalhador contra as ilegalidades, principalmente a questão da madeira”, disse Mourão. “Hoje a gente tem um imbróglio ali no Pará, já os recebi três vezes aqui. A questão está clara, precisa apresentar a documentação correta, é só isso aí”, completou.

Auxiliares do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) se disseram surpresos com as declarações do delegado e afirmaram que uma eventual saída de Salles do comando do Meio Ambiente não está em discussão.

Parlamentares pressionavam pela demissão do ministro, mas o clima arrefeceu depois que o então chanceler Ernesto Araújo perdeu o posto nas trocas feitas na última semana.

Saraiva disse na entrevista que era a primeira vez que via um ministro do Meio Ambiente se manifestar de maneira contrária a uma ação que visa proteger a floresta amazônica.

"É o mesmo que um ministro do Trabalho se manifestar contrariamente a uma operação contra o trabalho escravo", afirmou.

Saraiva, que comanda a apuração do caso e hámais de dez anos ocupa cargos de superintendente na PF (Roraima, Maranhão e Amazonas, agora), diz que as investigadas na ação não podem nem ser chamadas de empresas. “Trata-se de uma organização criminosa.” Também que tudo que foi apreendido desde dezembro do ano passado, mais de 200 mil m3 de madeira, é produto de ação criminosa.

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