União e Ministério do Meio Ambiente são processados por 'pedalada climática'

Ação pede atualização do plano nacional do clima e aponta descumprimento de política da área

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São Paulo

A União e o Ministério do Meio Ambiente estão sendo processados pelo Observatório do Clima por causa do desatualizado plano climático nacional e, consequentemente, pelo descumprimento da PNMC (Política Nacional de Mudança do Clima).

A nova meta do Brasil, apresentada no fim de 2020, para redução de emissões é tida como uma "pedalada climática". A ação civil pública foi protocolada na terça-feira (26), na Justiça Federal do Amazonas.

O governo brasileiro, pela "pedalada climática" já está sendo processado por jovens ativistas brasileiros do Engajamundo e do Fridays for Future. ​

No Brasil, a principal fonte de emissões é o desmatamento, que cresceu vertiginosamente desde o início do governo Jair Bolsonaro (sem partido), mas que já apresentava tendências de crescimento desde 2012.

Desmatamento recente no município de Apui, no sul do Amazonas
Desmatamento recente no município de Apui, no sul do Amazonas - Lalo de Almeida/ Folhapress

O Observatório, formado por dezenas de entidades, aponta que o Estado brasileiro, sexto maior emissor mundial de gases-estufa, não está cumprindo as obrigações determinadas pela PNMC e pelo Plano Nacional sobre Mudança do Clima. "Com isso, o Estado está incorrendo em ilegalidade flagrante, cujas consequências têm sido drásticas", afirma a organização, na ação.

A entidade pede que a União e o ministério sejam condenados a apresentar uma atualização do plano climático, "em formato condizente com a urgente e necessária redução das emissões brasileiras, considerando todos os setores de nossa economia, em conformidade e estrito cumprimento" da política nacional sobre o tema e do Acordo de Paris.

Consta na ação que a ausência de um plano atualizado e conforme a PNMC viola uma série de direitos e garantias fundamentais, situação "ainda mais problemática com o quadro de emergência climática apontado claramente pelo relatório AR6 do IPCC".

Em agosto, o IPCC (Painel Intergovernamental de Mudança do Clima) mostrou a situação crítica e irreversível da crise climática provocada pelo ser humano e que já intensifica eventos extremos em todo o mundo. O relatório do painel também apontou que, até 2040, um aumento de média na Terra de 1,5°C —apontado como alvo preferível do Acordo de Paris— é provável para qualquer cenário de emissões de gases-estufa.

O Observatório do Clima cita, na ação, a "pedalada climática" presente na nova meta nacional de redução de emissões (chamada de NDC, sigla em inglês para Contribuição Nacionalmente Determinada), que o país teve que apresentar por fazer parte do Acordo de Paris.

Segundo a entidade, a nova NDC brasileira "viola o coração e o espírito do Acordo de Paris". Basicamente, o país atualizou e aumentou a base (emissões feitas em 2005) usada para calcular as reduções com as quais se comprometeu, mas não atualizou a meta estabelecida no acordo de 2015, que era de cortar 43% dos gases emitidos até 2030 e de 37% para 2025.

"Assim, a NDC de 2020 permitirá ao país chegar ao ano de 2030 emitindo 400 milhões de toneladas de CO2e [leia CO2 equivalente] a mais que o proposto em 2015. Tal redução da ambição climática do
Brasil é um inegável retrocesso do país em relação à sua NDC original", afirma a entidade.

Entre os países do G20, somente Brasil e México têm novas metas que levam a aumentos de emissões, como apontado pelo relatório da PNUMA (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente) que faz o balanço das estimativas e trajetórias de emissões dos países, focando no objetivo de conter o aquecimento global abaixo de 2°C e preferencialmente até 1,5°C.

Ações judiciais climáticas têm ocorrido com uma frequência maior nos últimos anos, conforme a crise do clima se mostra cada vez mais claramente e os países falham em reduzir as emissões a níveis aceitáveis.

A própria ação do Observatório do Clima cita alguns exemplos. Por exemplo, ainda em 2021, na Alemanha, foi julgado, pelo Tribunal Constitucional Federal, que a política climática não era suficiente para os cortes de emissões de gases-estufa e que violava os direitos humanos protegidos pela Lei Fundamental do país. Como resultado, o governo alemão afirmou que se ajustaria a lei climática nacional.

No início de outubro deste ano, a Justiça do México suspendeu a nova NDC do país —que, como citado anteriormente, também permite mais emissões, como a brasileira—, a partir de uma ação protocolada pelo Greenpeace.

Em 2020, a Suprema Corte da Irlanda também teve que lidar com um processo envolvendo o plano de mitigação do país. O programa foi anulado e o tribunal determinou que se fizesse um novo, por não haver detalhamento suficiente de ações para cumprir a Lei de Ação Climática e Desenvolvimento de Baixo Carbono.

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