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Fotógrafo Lalo de Almeida, da Folha, vence prêmio regional do World Press Photo

Trabalho reconhecido documenta ocupação da Amazônia e seu impacto para a floresta e os habitantes da região

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São Paulo

Lalo de Almeida, fotojornalista da Folha, venceu a categoria regional de projeto de longa duração do World Press Photo, a mais prestigiosa premiação de fotojornalismo do mundo, por seu trabalho na Amazônia.

Neste ano, o prêmio alterou a configuração do concurso anual e o seu julgamento e dividiu a premiação em duas etapas. Nesta quinta-feira (24), foram divulgados os vencedores regionais, de 23 países, e no dia 7 de abril serão anunciados os quatro vencedores globais.

O projeto premiado foi o Distopia Amazônica, escolhido como destaque entre os profissionais da América do Sul. O trabalho documenta a ocupação da Amazônia e o seu impacto na floresta e nos habitantes da região. As imagens foram publicadas pela Folha na série Amazônia sob Bolsonaro.

Jasson Oliveira do Nascimento, morador da Reserva Extrativista Arapixi, no Amazonas, corta a vegetação para abrir caminho para a canoa em igarapé que leva ao Projeto de Assentamento Extrativista Antimary, onde coletam castanhas - Lalo de Almeida - 18.mar.2020/Folhapress

As reportagens da série, que começaram a ser publicadas em 2020, contam os desafios para manter a floresta em pé, abordando temas como desmatamento, garimpo ilegal e comunidades quilombolas.

A maior parte do trabalho foi feita em parceria com outros dois repórteres, Fabiano Maisonnave e Marcelo Leite, e contou com o financiamento de Rainforest Foundation Norway e Climate Home News.

"Fiquei muito feliz de ganhar este prêmio porque é o reconhecimento de um trabalho que eu venho realizando há mais de dez anos e que começou acompanhando o processo de construção da hidrelétrica de Belo Monte, na região de Altamira", conta Lalo de Almeida.

Para ele, levar a questão da Amazônia para uma audiência global neste momento em que a floresta se vê ameaçada pelo atual governo é de extrema importância.

"Obviamente o projeto mostra que a questão da ocupação predatória da Amazônia não começou no governo Bolsonaro. É um processo histórico que vem dos tempos coloniais até os dias de hoje. Agora ela entrou em outro nível de ameaça com o atual governo", diz.

Segundo Lalo, o projeto Distopia Amazônica é de longa duração e não tem data para acabar. "Vou continuar fotografando a Amazônia enquanto eu tiver energia."

De acordo com o júri do prêmio, o projeto retrata a realidade social, política e ambiental do Brasil sob a presidência de Jair Bolsonaro (PL). "A linguagem visual de causa e efeito é bem equilibrada. Cada imagem é intencional e impactante, contribuindo para uma coleção de testemunhos que expõem os efeitos multifacetados da destruição de terras e pilhagem de recursos naturais, vivenciados pelas comunidades brasileiras", escreve o júri.

No ano passado, o fotógrafo já havia ganhado a categoria Meio Ambiente do World Press Photo com um trabalho sobre o Pantanal.

A série premiada, que ao longo de meses em 2020 retratou a destruição do Pantanal provocada pelo fogo, foi feita em parceria com o repórter Fabiano Maisonnave e ganhou força com o retrato de um bugio ajoelhado e carbonizado no meio de uma mata devastada.

Corpo de macaco completamente queimado, caído sobre as quatro patas
Corpo de um macaco bugio calcinado na fazenda Santa Tereza, na região da Serra do Amolar, no Pantanal, em 2020 - Lalo de Almeida - 4.out.2020/Folhapress

Outros vencedores

Em outras categorias e regiões, venceram trabalhos como o da fotógrafa argentina Irina Werning. Ela, que já é conhecida pelo ensaio intitulado "Back to the Future", venceu a categoria histórias na América do Sul ao registrar uma garota que, durante a pandemia, prometeu só cortar o cabelo quando pudesse retomar as aulas presenciais na escola.

"The Promise [nome do projeto premiado] oferece uma perspectiva alternativa e inovadora dos desafios das restrições da Covid-19 na América do Sul. As muitas camadas do projeto abordam os efeitos de longo prazo da pandemia nas crianças e questionam como as crianças podem se engajar na exigência de igualdade de acesso à educação", diz o júri do prêmio.

Na Europa, entre outros, venceu o trabalho do fotógrafo grego Konstantinos Tsakalidis. Ele foi homenageado por foto do incêndio florestal na ilha Evia, na Grécia.

"O júri sentiu que esta imagem maravilhosamente composta retrata uma conexão visceral e emocional entre a mulher e sua paisagem circundante", comenta o júri.

Na África, o fotógrafo nigeriano Sodiq Adelakun Adekola foi um dos premiados. Na categoria histórias, ele foi destaque com o retrato de uma mulher negra chorando um dia após suas duas filhas serem sequestradas.

"O fotógrafo abordou a complexa questão dos sequestros escolares na Nigéria de maneira respeitável. A história apresenta descrições evocativas de ausência, desespero e esperança minguante em comunidades sendo dilaceradas", justifica a comissão.

Também no continente africano, Faiz Abubakr Mohamed venceu a categoria "singles" com o registro do momento em que uma manifestante atira de volta uma bomba de gás lançada pelas forças de segurança durante um protesto pelo fim do regime militar no Sudão.

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