Paulistano amanhece com fumaça, mas relação com queimada da Amazônia é incerta

Ventos levam partículas em grande altitudes para regiões Norte e Centro-Oeste ao Sudeste do país, mas outros eventos em SP afetam o ar

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São Paulo

Moradores da cidade de São Paulo relataram cheiro de queimado e fumaça no ar em diversos pontos da cidade, no início da manhã desta sexta-feira (9). Havia reclamações da região central, do Butantã, na zona oeste, de Itaquera e Penha, na zona leste, e da Saúde, Jardim Aeroporto e Interlagos, na zona sul.

Segundo a agência Climatempo, boa parte do Sudeste e até do Sul do país têm registros de fumaça de queimadas oriundas do Amazonas e do Centro-Oeste do Brasil. Apesar disso, não é possível associar diretamente possíveis cheiros de fumaça no ar paulistano às queimadas amazônicas.

Há queimadas no próprio estado de São Paulo. Segundo dados do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), desde o início de setembro, 141 focos de calor foram identificados por imagens de satélite.

Amanhecer enevoado e visto ao longo do horizonte da cidade de São Paulo na manha desta sexta-feira (9). Imagens de radar mostram a fumaça de queimadas da Amazônia mais uma vez se movimentando para a região sudeste
Poluição do ar na manhã desta sexta-feira (9) na cidade de São Paulo; fumaça de queimada na Amazônia atinge a região sudeste do país - Bruno Rocha/Agência Enquadrar/Ag. O Globo

Além disso, na área metropolitana da cidade é comum encontrar pessoas fazendo pequenas fogueiras para se aquecer e cozinhar, além de também não ser incomum encontrar lixo sendo queimado. .

A Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo) também não relaciona o cheiro às queimadas na Amazônia. Em nota, a companhia afirma que o transporte da pluma de poluição vindo da Amazônia e dos focos de queimadas no Centro-Oeste geralmente ocorre em altitudes elevadas da atmosfera.

Parte desse material, porém, pode chegar a altitudes mais baixas, dependendo da situação.

"Diante dos dados, não é possível inferir qual parcela dos níveis observados [de material particulado] seria causada por uma eventual contribuição dessa pluma e qual está associada às fontes de emissão usuais da cidade, como veículos e indústrias, entre outros", afirma a Cetesb. "Vale destacar que os níveis de poluição observados no momento na cidade não destoam significativamente dos encontrados na época do inverno, em condições meteorológicas similares."

Para a meteorologista Carine Gama, da Climatempo, as queimadas que ocorrem de forma geral no Brasil podem refletir no estranhamento que as pessoas relatam em relação ao ar. "Toda essa circulação de ventos ajuda transportar essa fumaça toda para boa parte de MT, MS, PR e SP. Então sentimos, sim, esse reflexo todo", afirma.

Mesmo que não seja a responsável pelo cheiro, a nuvem de fumaça das queimadas na Amazônia já podia ser vista na quinta-feira (8) pelas imagens de satélite disponibilizadas pelo Inpe —são milhões de quilômetros quadrados afetados.

Conforme a Climatempo, partículas avançam para o estado do Paraná por causa de ventos a 1,5 km de altitude que vêm da região Norte e Centro-Oeste.

Até o início da semana que vem, a fumaça deve seguir em direção ao noroeste do Paraná e vai interagir com a chuva, que já provoca até queda de granizo em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul.

Um morador da capital paulista usou as redes sociais na manhã desta sexta para dizer que o centro de São Paulo estava sendo atravessado naquele momento pela fumaça "vinda da Amazônia em chamas".

"Acordei no susto com cheiro de queimado. O que fizeram com esse país?", questionou Patrícia Lima no Twitter.

Em 19 de agosto de 2019, o dia paulistano escureceu no meio da tarde, graças às intensas queimadas na Amazônia e também grandes incêndios no Paraguai.

A extensão da nuvem cinzenta também pode ser vista pelo serviço europeu de monitoramento atmosférico Copernicus.

Além das queimadas —associadas a elevados níveis de desmatamento— na Amazônia, áreas de queima na Bolívia também contribuem com a situação.

Em seis dias de setembro, a Amazônia já soma mais de 16 mil queimadas —praticamente o mesmo valor registrado em todo o mês de setembro de 2021.

Segundo do CGE (Centro de Gerenciamento de Emergências), da Prefeitura de São Paulo, a temperatura segue elevada e acima da média na cidade nesta sexta, com baixos índices de umidade do ar até este sábado (10), quando há expectativa de um pouco de chuva, o que pode amenizar a sensação do cheiro de fumaça.

"A passagem de uma frente fria pela costa de São Paulo, com rápido deslocamento e pequena atividade chuvosa neste fim de semana, muda a direção dos ventos e promove o declínio das temperaturas nos próximos dias", diz o órgão.

De acordo com o Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), a temperatura oscila entre 18°C e 32°C nesta sexta, mas cai para 12°C e 17°C no domingo, com chuvas isoladas. O frio deve seguir nos primeiros dias da próxima semana.

  Colaborou Phillippe Watannabe, de São Paulo

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