A escuridão tomou conta da tarde de São Paulo nesta segunda-feira (19), depois das 15h, e surpreendeu seus moradores. O fenômeno pode ser explicado pela soma da chegada de uma frente fria no leste do estado, com nuvens carregadas, e ventos que têm trazido material particulado originado de queimadas no Paraguai, na divisa com Mato Grosso do Sul.
É o que explica Franco Nadal Villela, meteorologista do Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia).
"O obscurecer do céu foi bastante intenso. É o efeito combinado de duas coisas. Primeiro, a frente fria no leste do estado, trazendo muita umidade do oceano. São ventos frios e úmidos que não são rasos. Essa frente fria está trazendo ar frio em níveis superiores também, que ajuda na formação dessas áreas de instabilidade na capital, com trovoadas, inclusive. Trovoadas a uma temperatura de 15°C, por exemplo, que são bem raras", diz Villela, que então fala da contribuição das queimadas.
"Há incêndios silvestres de grande magnitude acontecendo no Paraguai, na região do Pantanal. Desde o final de semana os ventos fortes estão favorecendo a vinda de elemento particulado por Mato Grosso do Sul, chegando a São Paulo. O material particulado ajuda na formação das nuvens, e quando se formam junto com ele, o céu fica ainda mais escuro", completa. Ele diz que incêndios na região da Bolívia também têm contribuído.
O Brasil vive o ano com maior número de queimadas desde 2013. Até domingo (18), 2019 acumulava 71.497 pontos de queimada no país. Até então, era de 2016 o recorde, com 66.622 pontos.
O mês de agosto, até o momento, também está batendo o recorde dos últimos sete anos, com 32.932 queimadas, um aumento de cerca de 264% em relação ao mesmo período de 2018. O valor também é cerca de 50% maior do que o registrado no mesmo mês de 2016, o agosto até então recordista de queimadas desde 2013.
Mato Grosso é o estado com o maior número de queimadas em 2019, com 13.641 pontos, um aumento de 88% em relação ao mesmo período do último ano.
"Juntou a fome com a vontade de comer: a chegada do ar frio bastante instável nos últimos dias, com uma temperatura muito fria e que prevê obscuridade do céu, e o material particulado sendo transportado desde o Paraguai."
Ao longo do dia, usuários de redes sociais especularam sobre as causas do escurecimento e vincularam-no a incêndios que ocorreram em Rondônia e na Amazônia nos últimos dias. No entanto, Villela explica que, pela aproximação da frente fria, os ventos estiveram mais favoráveis a trazer mais concentrações vindas dos focos de incêndios no Paraguai e na Bolívia e não tanto dos mais a norte do Brasil.
Após um fim de semana com sol e ar seco, toda a região da Grande São Paulo, o litoral, o Vale do Ribeira e o Vale do Paraíba deverão ter nebulosidade e condições de chuva até o final da semana, segundo informações da Climatempo.
Nesta segunda e na terça (20) o tempo fica mais instável, com chuva a qualquer hora e sensação de frio ao longo do dia. A partir de quarta-feira (21) ocorrem períodos com sol, mas permanece a sensação de frio e ainda pode chover fraco.
De acordo com o Centro de Gerenciamento de Emergências (CGE) da Prefeitura de São Paulo, o tempo fechado e chuvoso deve seguir até o final do dia.
"Por conta do tempo fechado, úmido e da entrada do ar de origem polar, a temperatura apresentou gradual declínio desde as primeiras horas da madrugada quando foi observada a máxima de 17,4°C", informou o órgão, em nota.
O assunto movimentou as redes sociais. No Instagram, usuários postaram imagens da escuridão às 15h e no Twitter "São 16h" virou um dos assuntos mais comentados no Brasil.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.