'Rebelião' de idosos pede que bancos parem de financiar grandes petroleiras

Autointitulado de Rebelião da Cadeira de Balanço, movimento promoveu mais de cem ações nos EUA nesta semana

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Cara Buckley
The New York Times

Eram pais, avós, tias e tios-avós, com idades entre 50 e 80 anos ou mais, e juntos enfrentaram temperaturas geladas para protestar —e se balançar— durante toda a noite.

Empacotados em ceroulas, casacos acolchoados, gorros de tricô em camadas, sacos de dormir, e fortalecidos por biscoitos enviados pelo correio por um simpatizante, dezenas de manifestantes grisalhos se sentaram em cadeiras de balanço diante de quatro bancos no centro de Washington durante 24 horas, num protesto nacional considerado a maior ação climática já realizada por pessoas mais velhas.

Chamando a si mesmos de Rebelião da Cadeira de Balanço, eles participaram de mais de cem ações climáticas realizadas em todos os Estados Unidos na terça-feira (21) pelo Third Act, grupo de protesto para pessoas de 60 anos ou mais, cofundado pelo autor e ativista climático Bill McKibben.

Idosos sentados com cobertores, edredons e cartazes na calçada em frente à fachada do banco
Idosos em protesto climático na calçada do Chase Bank, em Washington, na madrugada da terça (21) - Craig Hudson/The New York Times

Seus alvos eram o Chase, subsidiária do JPMorgan Chase, o Wells Fargo, o Citibank e o Bank of America, os maiores investidores em projetos de combustíveis fósseis, segundo um relatório de 2022 da Rainforest Action Network e outros grupos ambientais. Coletivamente, os quatro bancos investiram mais de US$ 1 trilhão entre 2016 e 2021 em petróleo e gás.

"Este é o mundo que ajudamos a criar", disse Katie Ries, 66, aposentada da Administração Oceânica e Atmosférica Nacional, sentada numa cadeira de balanço diante da filial do Chase no centro de Washington, logo após um amanhecer excepcionalmente frio na terça.

"Quando você coloca esse desconforto temporário em perspectiva, contra o motivo pelo qual estamos aqui, o que estamos enfrentando, ele empalidece, desaparece."

Formado em 2021, o Third Act tem cerca de 50 mil membros em sua lista de emails, segundo McKibben, incluindo alguns centenários.

Embora o grupo já tenha realizado protestos antes, às vezes com cartazes que diziam "fósseis contra combustíveis fósseis", eles disseram que as ações de terça-feira foram as maiores até agora, com os participantes motivados em parte pela convicção de que é injusto atribuir a responsabilidade por resolver a crise climática às gerações mais jovens que suportarão seu peso.

"Apesar de toda a sua energia, inteligência e idealismo, os jovens não têm poder estrutural para fazer mudanças na escala em que precisamos e no tempo que temos", disse McKibben, 62, conversando na manhã de terça antes de uma manifestação climática contra os grandes bancos no Franklin Park em Washington.

"Todos nós votamos, acabamos ficando com a maior parte dos recursos da nossa sociedade. Se quisermos que Washington e Wall Street mudem, serão necessárias algumas pessoas com cabelos ralos como o meu."

Os protestos ocorreram logo após o último relatório terrível do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), o qual prevê que na próxima década as temperaturas médias globais provavelmente aumentarão 1,5°C em comparação com os níveis pré-industriais, tornando os eventos climáticos catastróficos mais difíceis de suportar por seres humanos e outras formas de vida.

Para evitar o pior, os países devem cortar os gases de efeito estufa pela metade até 2030, disse o relatório, e parar de adicionar dióxido de carbono à atmosfera no início dos anos 2050.

No entanto, em 2022, as emissões de carbono atingiram recordes e os principais produtores de petróleo colheram lucros recordes de US$ 220 bilhões.

Embora os principais bancos que financiam o petróleo também estejam investindo em fontes de energia renováveis, vários manifestantes rejeitaram tais esforços como de "fachada verde".

"Elas estão exibindo anúncios na TV, muitas grandes empresas de petróleo, sobre estarem fazendo muitas coisas ecologicamente corretas, mas estão fazendo uma exploração recorde de petróleo", disse Fred Solowey, 71. "E tem essas falsas compensações que eles usam muito para fingir que vão ser neutros em carbono. É enganação."

O objetivo dos idosos era incitar as pessoas a sacar seu dinheiro dos bancos financiadores do petróleo e incitar a consciência dos executivos dos bancos.

"Acho que qualquer um que não esteja tentando fazer nada é cúmplice", disse Pam Murphy, 64, sentada diante da agência do Chase na terça-feira, em frente a uma placa que dizia "Este banco financia o caos climático".

Em uma cadeira de balanço estava Susan Flashman, 68, eletricista aposentada que mora em Mount Rainier, em Maryland. "Somos os ativistas, somos os boomers", disse Flashman. "As pessoas da nossa idade estão furiosas porque ninguém está fazendo nada. Então aqui estamos nós."

A maioria das cadeiras de balanço (eram cerca de 50 ao todo) foi reunida por Lisa Finn, 57, e seu marido, que mora nos arredores de Alexandria, na Virgínia, e organizou uma festa de pintura das cadeiras antes de carregá-las num caminhão alugado.

Junto com a manifestação no Franklin Park (entre os palestrantes estavam Ebony Twilley Martin, codiretora-executiva do Greenpeace EUA; e Ben Jealous, diretor-executivo do Sierra Club), houve marchas com faixas, bonecos gigantes e pelo menos um "shofar" (espécie de berrante kosher), e o bloqueio com mais cadeiras de balanço do Wells Fargo e do Chase. Um manifestante foi preso por usar tinta na rua, disseram os organizadores.

Antes de falar no comício, Jealous disse que a pressão de ativistas mais velhos deveria fazer os bancos tomarem conhecimento.

"Para os bancos, este é um sinal muito preocupante", disse ele. "Eles podem descartar os jovens, eles não os veem como tendo muito dinheiro agora. Eles sabem que estas pessoas têm."

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.