Descrição de chapéu mudança climática

Cientistas declaram início do El Niño, que pode causar calor recorde em 2024

Fenômeno climático contribui para aumento de temperaturas globais e influencia até na pesca

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São Paulo

Cientistas dos EUA declaram o início do El Niño nesta quinta-feira (8). Segundo a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA, na sigla em inglês), as condições de oceanos e atmosfera que caracterizam o fenômeno climático se confirmaram, e abrem caminho para possíveis recordes de temperatura em 2024.

O El Niño é marcado por um aquecimento acima da média no oceano Pacífico, perto da linha do Equador. Ele muda a circulação dos ventos alísios, que vão de leste a oeste, levando umidade e águas mais quentes da costa das Américas para Ásia e Oceania.

Apesar de acontecer no Pacífico, seus efeitos alcançam outras regiões do planeta. A Austrália, que sofre com incêndios florestais, já emitiu nesta semana um alerta de aumento de temperaturas.

pescador caminha sobre leito seco de rio, onde há gramíneas nascendo. carrega rede vazia
Pescador caminha sobre o rio Madalena, o mais importante da Colômbia, seco durante a ocorrência do El Niño - John Vizcaino - 14.jan.16/Reuters

As alterações vão das mais perceptíveis, como a elevação geral de temperaturas, aumento de chuvas ou seca em diferentes regiões, branqueamento de corais, a danos à economia.

Um exemplo é o impacto na falta de chuvas, que prejudica safras. Outro é na atividade pesqueira. Isso porque, com o deslocamento normal das águas quentes para o oeste, águas mais profundas e frias "sobem". Esse movimento é chamado de ressurgência, que renova nutrientes e é fundamental para a fauna marinha na costa da América do Sul. Com o El Niño, isso não acontece.

As perdas previstas para este ano por causa dos efeitos do fenômeno estão estimadas em 3 trilhões de dólares, cerca de R$ 14,76 trilhões. O PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro em 2022, para comparação, foi de R$ 9,9 trilhões.

O El Niño ocorre a cada dois ou sete anos, e é um fenômeno antigo, com referências desde o século 19, e não tem relação com a atividade humana. Mas está associado, por exemplo, a recordes de temperatura.

Um dos principais marcos recentes foi a seca extrema entre 2015 e 2016, associada a um "super El Niño", que provocou a maior queimada registrada na Amazônia em Roraima. Em poucas semanas, o estado perdeu 14 mil km² de floresta.

No Brasil, os efeitos mais comuns são mais chance de seca no Norte e no Nordeste. As mudanças climáticas, por sua vez, acrescentam uma preocupação extra ao cenário dos próximos meses por tornarem ambientes como a Amazônia mais suscetíveis a esses grandes incêndios, que podem degradar a floresta para além do desmatamento.

Já no Sul, o El Niño altera a circulação de ventos, que formam uma barreira e impedem que as frentes frias vindas do hemisfério sul circulem pelo país. Como permanecem mais tempo sobre a região, aumentam a frequência de chuvas fortes ali.

"As mudanças climáticas podem exacerbar ou mitigar certos impactos relacionados ao El Niño. Podemos ver novos recordes de temperatura", afirmou a climatologista da NOAA, Michelle L'Hereux.

O comunicado da NOAA não fala em um El Niño extremo como o de oito anos atrás, mas as probabilidades são de 84% para moderado e 56% para forte no começo do inverno no hemisfério norte, em dezembro.

Para L'Heureux, no entanto, o cenário não tem precedentes, já que a temperatura média nos oceanos estava 0,1ºC em maio, recorde para a época.

Naquele mês, a Organização Meteorológica Mundial, organismo especializado da ONU, declarou que há 98% de chance de que as temperaturas globais atinjam recordes nos próximos cinco anos, e que a probabilidade de que esse aumento supere 1,5ºC em relação ao período pré-industrial é de 66%.

Fenômeno oposto ao El Niño, o La Niña está associado a quedas de temperatura, já que ele acentua o deslocamento dos ventos alísios. Dessa forma, o nível do mar sobe nas costas de Ásia e Oceania, que também registram mais chuvas.

Já a ressurgência, com águas mais frias, se estende por mais áreas da costa das Américas. O efeito de chuvas no Brasil é o contrário do verificado durante o El Niño. Enquanto Norte e Nordeste registram temporadas de estiagem com mais chuva, o Sul amarga secas acentuadas.

No início deste ano, chegou ao fim o La Niña mais recente, que durou três anos e teve impacto na produção agrícola da região. Em 2022, a FecoAgro-RS (Federação das Cooperativas Agropecuárias do Estado do Rio Grande do Sul) calculou em pelo menos R$ 19,77 bilhões o valor de produção perdido no estado, apenas em soja e milho.

Com AFP e Reuters

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