Alta demanda por energias fósseis ameaça meta de frear aquecimento global em 1,5°C, alerta Agência Internacional de Energia

Novo relatório aponta que cumprir Acordo de Paris ainda é possível, mas muito difícil

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Nathalie Alonso
AFP

Apesar do avanço das energias limpas, a demanda por combustíveis fósseis está elevada demais para permitir a concretização dos objetivos mais ambiciosos de contenção do aquecimento global, destaca a AIE (Agência Internacional de Energia).

Em seu relatório anual, publicado a um mês da conferência climática COP28, a AIE considera que, "na atual situação, a demanda por combustíveis fósseis deve continuar muito elevada" para manter a meta mais ambiciosa do Acordo de Paris, assinado em 2015, que pretende limitar o aquecimento global a 1,5°C na comparação com a era pré-industrial.

"Alcançar a inflexão da curva de emissões para conter o aquecimento em 1,5°C ainda é possível, mas o caminho se anuncia muito difícil", alerta a AIE no relatório de 354 páginas.

Fumaça saindo de chaminés à noite
Usina a carvão em Cilegon, na Indonésia - Aditya Aji - 14.set.2023/AFP

"Apesar do crescimento impressionante das energias limpas", as emissões de gases de efeito estufa continuarão sendo suficientemente consideráveis para elevar a temperatura média mundial em 2,4°C ao longo deste século.

Políticas mais firmes

O documento foi divulgado a poucas semanas das negociações cruciais da 28ª Conferência das Nações Unidas sobre a Mudança Climática, que ocorrerá em Dubai de 30 de novembro a 12 de dezembro.

"A transição para uma energia limpa está em curso no mundo inteiro e é inevitável. Não é uma questão de 'se', mas simplesmente uma questão de 'quando'. E quanto mais cedo, melhor para todo mundo", declarou Fatih Birol, diretor-executivo da AIE, ao comentar o relatório em um comunicado.

O relatório prevê que, em 2030, o planeta terá dez vezes mais veículos elétricos em circulação e que a contribuição das energias renováveis para a geração de energia elétrica mundial se aproximará dos 50%, contra os 30% da atualidade.

Os investimentos em energias limpas aumentaram 40% desde 2020, mas "são necessárias políticas mais firmes" para alcançar a meta de 1,5°C, destaca a AIE, que reitera o pedido para triplicar a capacidade de energias renováveis até 2030.

"Levando em consideração as tensões e a volatilidade que caracterizam atualmente os mercados energéticos tradicionais, as afirmações de que o petróleo e o gás representam opções seguras e tranquilizadoras não têm fundamento", disse Birol.

Recentemente, o cartel de exportadores de petróleo, a Opep, afirmou que o mundo ainda precisará das energias fósseis durante muitos anos.

Redobrar a cooperação

A previsão da AIE é que a demanda de gás, petróleo e carvão alcançará o pico nesta década.

No cenário elaborado com base nas políticas atuais, a contribuição dos combustíveis fósseis para o abastecimento global de energia, que permaneceu em 80% durante décadas, cairá para 73% até 2030.

"Os governos, as empresas e os investidores devem apoiar as transições para energias limpas, em vez de prejudicá-las", acrescentou Birol, que citou as "vantagens" das tecnologias descarbonizadas para a segurança do abastecimento, dos empregos e da qualidade do ar.

Na corrida para lutar contra a mudança climática, os países devem, em particular, "redobrar a colaboração e a cooperação".

"O desafio urgente é acelerar o ritmo dos novos projetos de energia limpa, em particular em vários países emergentes e em desenvolvimento", afirma a AIE, que pede o aumento de cinco vezes nos investimentos da transição energética nestes países até 2030, sem incluir a China.

"A velocidade de redução das emissões dependerá em grande parte de nossa capacidade de financiar soluções sustentáveis para responder à crescente demanda de energia das economias em rápido crescimento", afirmou Birol.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.