Furacões no Atlântico estão ficando mais fortes com maior rapidez, mostra estudo

Probabilidade de uma tempestade se tornar muito mais perigosa em menos de 24 horas mais que duplicou nas últimas décadas

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Delger Erdenesanaa
The New York Times

Os furacões no oceano Atlântico agora têm o dobro de chances de passarem de uma tempestade fraca a um furacão de categoria 3 ou superior em apenas 24 horas, de acordo com um estudo publicado na última quinta-feira (19).

"Essas descobertas devem servir como um aviso urgente", disse Andra Garner, professora assistente de ciências ambientais da Universidade Rowan e autora do novo artigo.

Muitos dos desastres relacionados ao clima que deram os maiores prejuízos aos Estados Unidos nos últimos anos foram furacões que se intensificaram de forma estranhamente rápida. O furacão Maria, que matou mais de 3.000 pessoas em Porto Rico e nas ilhas vizinhas em 2017, se fortaleceu de uma tempestade de categoria 1 para uma tempestade de categoria 5 em menos de 24 horas antes de atingir a terra.

Quando os furacões se intensificam tão rápido, torna-se mais difícil prever quão severamente os lugares serão afetados. Nos piores casos, as autoridades podem ficar sem tempo de ordenar evacuações.

Palmeiras contorcidas pelo vento em uma rua
Chegada do furacão Norma a Los Cabos, no México, no último sábado (21) - Joel Cosio/AFP

Este novo estudo, que foi publicado na revista Scientific Reports, contribui para um conjunto crescente de evidências de que furacões de grande intensidade e de rápida formação estão se tornando mais prováveis.

De 2001 a 2020, Garner descobriu que os ciclones tropicais no oceano Atlântico tinham uma chance de 8% de se fortalecerem de uma tempestade de categoria 1 ou inferior para um furacão de categoria 3 ou superior em 24 horas. Em comparação, de 1970 a 1990, tempestades semelhantes tinham apenas 3% de chance de se fortalecerem tanto e tão rapidamente.

As categorias de furacões, que variam de 1 a 5, são determinadas pela velocidade dos ventos das tempestades. Todos são perigosas, mas tempestades classificadas como categoria 3 ou superior —com ventos acima de 110 milhas por hora (cerca de 177 km/h)— são consideradas furacões "grandes".

As tempestades tropicais se formam quando a água quente do oceano evapora para a atmosfera. Elas ganham força principalmente devido à diferença de temperatura entre a superfície do oceano e a atmosfera superior mais fria. Por isso, a temporada de furacões no Atlântico Norte ocorre de junho a novembro: é a época do ano em que a água está mais quente.

E as temperaturas oceânicas estão aumentando. Globalmente, os oceanos absorveram mais de 90% do calor adicional retido na superfície do planeta pelas emissões de gases de efeito estufa. Desde 1850, a temperatura média global da superfície do mar aumentou cerca de 0,9°C.

"Sem limitar o aquecimento futuro, essa é uma tendência que podemos esperar que se torne mais extrema", disse Garner.

Garner examinou dados históricos do Centro Nacional de Furacões usando uma variedade de análises estatísticas das velocidades do vento registradas em todos os ciclones tropicais no oceano Atlântico de 1970 a 2020. Ela descobriu aumentos consistentes ao longo do tempo na probabilidade de tempestades se intensificarem rapidamente.

Ela também encontrou diferenças regionais menores dentro do oceano Atlântico. Houve uma intensificação mais rápida das tempestades ao longo da costa leste dos Estados Unidos, no sul do Caribe e no leste do Atlântico de 2001 a 2020 em comparação com 1970 a 1990.

No entanto, no Golfo do México, há menos intensificação rápida agora em comparação com anos anteriores.

O artigo confirma estudos anteriores sobre a intensidade dos furacões no oceano Atlântico. A pesquisa está "convergindo", disse Kerry Emanuel, professor emérito de ciências atmosféricas do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), que conduziu pesquisas iniciais sobre esse tema e não esteve envolvido no estudo de Garner.

Emanuel alerta, porém, que as mudanças climáticas causadas pelas emissões de gases de efeito estufa podem não ser o único fator que contribui para um Atlântico Norte mais quente e para a mudança no comportamento dos furacões.

A diminuição da poluição por aerossóis de sulfato, após regulamentações para um ar mais limpo nos Estados Unidos e na Europa, também pode afetar tempestades. Esse tipo de poluição, um subproduto da queima de combustíveis fósseis, mas distinto dos gases de efeito estufa, reflete a luz solar de volta para a atmosfera e resfria levemente a Terra.

Emanuel afirma que mais estudos globais são necessários para separar a influência das mudanças climáticas globais dos níveis de aerossóis e outros fatores locais específicos do Atlântico.

Mesmo assim, "é muito clara a física de que, ao aquecer o globo, você aumenta o potencial termodinâmico para furacões", diz ele.

Emanuel também enfatiza a importância deste estudo no dia a dia. A intensificação rápida dos furacões é "o pesadelo dos meteorologistas", afirma. "Você vai dormir, por exemplo, às 22h, e há uma tempestade tropical no Golfo do México. E você acorda na manhã seguinte e é um furacão de categoria 4, a oito horas de chegar à costa. E agora você não tem tempo para evacuar ninguém, não dá para avisá-los."

Embora este estudo não seja global, é um dos mais robustos até agora, diz Karthik Balaguru, cientista climático e de dados no Laboratório Nacional do Noroeste do Pacífico, que também estuda furacões e não estava envolvido na pesquisa de Garner.

O fato de que essa descoberta de tempestades crescendo mais rapidamente se manteve consistente através de múltiplos tipos de análises estatísticas mostra que há uma tendência real nos dados, afirma Balaguru.

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