Descrição de chapéu
Planeta em Transe mudança climática

A Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas é uma chance, se todos arregaçarmos as mangas

Temos os conhecimentos, a tecnologia e também os instrumentos para mitigarmos, em conjunto, a crise climática; só precisamos de vontade política

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Annalena Baerbock

É ministra das Relações Exteriores da Alemanha

Uma agricultora no Níger cujos campos secaram pela ação do calor.

Um pai em Palau que não sabe se sua casa ainda estará de pé quando seus filhos estiverem crescidos — ou se o aumento do nível do mar irá engolir sua aldeia.

Uma criança na Amazônia que não pode mais ir de barco à escola pois o rio secou.

Prefeituras na Espanha, na Alemanha e na Lituânia que têm de encontrar uma forma de proteger suas cidades tanto da escassez de água como de tempestades cada vez mais perigosas.

Seja para qual país do mundo olhemos, vemos a mesma crise: a crise climática.

Esta crise é o maior desafio a segurança do nosso tempo. Afeta a todos nós —com diferentes graus de intensidade, porém sempre de modo implacável.

Pessoas andam em rua alagada com água na altura do joelho
Rua alagada após tempestade em Flensburg, no norte da Alemanha, em outubro - Axel Heimken - 20.out.2023/AFP

O que me dá esperança é que nós temos os conhecimentos, a tecnologia e também os instrumentos para mitigarmos, em conjunto, a crise climática. Só precisamos de vontade política.

Já em 2015 a comunidade internacional demonstrou possuir essa vontade quando lançou as bases para um novo mundo neutro em termos climáticos com o Acordo de Paris. Em consequência disso, quase 170 países estabeleceram seus ambiciosos próprios objetivos climáticos. Desde então, a expansão das energias renováveis acelerou de forma dramática.

Todavia quando, dentro de poucos dias, nos reunirmos na Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas no Dubai, será também com a consciência de que estamos numa corrida contra o tempo —e até agora fomos lentos demais.

A COP28 é uma chance enorme para acelerarmos o passo e devemos aproveitá-la em conjunto com alianças de países pioneiros. Pois, em Dubai começaremos a fazer o "balanço global", de nossos progressos no cumprimento dos objetivos deliberados no Acordo de Paris, e definiremos onde serão necessários reajustes.

Do ponto de vista da Alemanha, há três pontos centrais.

Retrato de Annalena sorrindo
Annalena Baerbock, ministra de Relações Exteriores da Alemanha, em evento em Karlsruhe na última semana - Thomas Kienzle - 23.nov.2023/AFP

Em primeiro lugar, temos de acelerar drasticamente o ritmo da transição energética global até 2030. Pois cada tonelada de CO2 que um país emite prejudica a todos. De acordo com o IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas), temos de reduzir as emissões globais em pelo menos 43% ainda nesta década. Cada porcento de gases de efeito estufa que reduzimos significa menos secas, menos inundações, menos vidas perdidas.

Na União Europeia, preparamos o caminho para a neutralidade climática até 2050 com o Pacto Verde. Na Alemanha, nos comprometemos por lei a alcançar a neutralidade climática até 2045.

Mas a transição energética é uma tarefa global.

É por essa razão que queremos acordar em conjunto na COP o objetivo de triplicar as energias renováveis, duplicar a eficiência energética e abandonar gradualmente os combustíveis fósseis, e, com isso, deixar bem claro que a transição para um sistema energético praticamente livre de fontes fósseis já está em curso.

Em segundo lugar, nosso melhor recurso no combate à crise climática é a solidariedade. É por isso que estamos lado a lado com as pessoas que menos contribuíram para a crise climática, mas que são hoje as mais afetadas por suas repercussões.

A Alemanha aumentou seu financiamento anual para a luta contra as mudanças climáticas três anos antes do previsto para mais de seis bilhões de euros dos nossos recursos orçamentais. Esse é nossa contribuição para a promessa dos países industrializados de alocar 100 bilhões de euros para a luta contra as mudanças climáticas —e estamos confiantes que essa promessa será cumprida já este ano.

Sabemos que existem já hoje efeitos da crise climática que não podem mais ser revertidos. É por isso que estamos fazendo avançar com determinação o processo de adaptação às mudanças climáticas, apoiando de forma particular os países em desenvolvimento. O contributo de todos os doadores para a adaptação deverá ser duplicado para US$ 40 bilhões no mais tardar até 2025. A Alemanha dará sua contribuição para alcançar esse objetivo.

Na última Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas acordamos a criação de um fundo de perdas e danos, e mais recentemente, em Abu Dhabi, negociamos os detalhes finais. Agora, na COP28, chegou o momento de efetivar esse acordo e de encher o fundo com dinheiro.

E é de importância central que os recursos beneficiem em primeira linha os países mais vulneráveis e que todos os países que possam contribuir para o fundo o façam. Isso inclui, naturalmente, os países industrializados. Como também inclui os países que lucraram muito com os combustíveis fósseis ou que puderam alcançar taxas de crescimento muito elevadas nos últimos anos. Todos temos uma obrigação neste sentido.

É por isso que nós queremos, em terceiro lugar, investir em nossas parcerias na COP. Sabemos que os requisitos para o sucesso da transição energética e da proteção do clima são diferentes em cada um dos países. E sabemos que o processo de mudança profunda que a transformação verde acata só pode funcionar se for socialmente justo. Vamos apoiar nossos parceiros para isso.

É algo que traz benefícios para todos, porque cada investimento em painéis solares, em hidrogênio verde ou em tecnologias de isolamento térmico representa uma chance de crescimento, de criação de postos de trabalho e de garantia do abastecimento energético. É por isso que vamos ampliar as parcerias nas áreas do clima, da energia e do desenvolvimento, pois são parcerias em que ambos os lados se beneficiam e podem aprender um com o outro.

Dado que nenhum país deveria ter de decidir entre desenvolvimento e proteção do clima. Cada sociedade tem seu próprio caminho.

O mais importante é que nós todos tenhamos o mesmo objetivo: um futuro resiliente e neutro em termos climáticos, no qual nossos filhos possam viver em segurança e prosperidade. Estes dias em Dubai são uma chance para nós seguirmos esse rumo em conjunto.

Devemos agarrar essa chance.

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