Vegetação invasora alimenta grandes incêndios em Bogotá

Espécies exóticas, além de servirem como combustível para as chamas, ainda se espalham mais após queimadas

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AFP

Os incêndios florestais que deixaram Bogotá sob gigantescas colunas de fumaça na última semana tiveram um combustível em especial: as folhas secas, os galhos e a madeira morta de espécies vegetais exóticas que invadem a capital da Colômbia.

Eucaliptos, pinheiros e leivas espinhosas (Ulex europaeus) cobrem a cordilheira que limita a cidade a leste, onde ocorreram, desde 22 de janeiro, 4 dos mais de 340 incêndios que atingiram a Colômbia desde novembro, o que levou a uma declaração de "desastre natural" no país.

Vista aérea de Bogotá com prédios em meio à fumaça
Fumaça encobre Bogotá, capital da Colômbia, durante incêndio florestal na montanha El Cable, em foto da último sábado (27) - Vannessa Jimenez - 27.jan.2023/AFP

Nenhuma dessas espécies vegetais, porém, é nativa da cidade de oito milhões de habitantes. Elas são consideradas "pirófilas", devido à sua afinidade com o fogo.

"Quando ocorre um incêndio, elas se beneficiam em sua reprodução e passam a ocupar áreas maiores, deslocando a vegetação nativa", explica o biólogo Arnold García Samaca, pesquisador da Universidade Nacional da Colômbia.

"Essas plantas tornaram as colinas orientais [de Bogotá] mais propensas a incêndios devido à quantidade de material vegetal que armazenam" no solo, que muitas vezes não possui microrganismos adequados para degradar essa vegetação exótica, completa o pesquisador.

Essa serrapilheira se espalha como um colchão vegetal nas montanhas da capital e alimenta as chamas, em meio a uma temporada de calor extremo e secas derivadas do El Niño, que está prevista até junho.

Os "galhos e madeiras [destas espécies] são combustíveis que ajudam a manter o fogo por horas e até dias" devido aos seus óleos voláteis e a resinas de difícil extinção, acrescenta García.

Nos últimos quatro anos, a Secretaria do Meio Ambiente de Bogotá removeu 136,2 hectares de leivas, uma tarefa tida como árdua, devido ao seu difícil acesso, disse a entidade à AFP.

Helicóptero lança água em floresta de pinheiros
Combate ao fogo em floresta em Nemocon, na Colômbia - Luis Acosta - 26.jan.2023/AFP

"Além de ser um problema de gestão [das espécies vegetais de Bogotá], a causa subjacente é que se busca sempre o caminho mais rápido" para controlar o desmatamento e outros problemas, afirma José A. Muñoz, também pesquisador da área e doutorando em biologia.

"Plantar por plantar nunca será a solução", reforça o especialista, para quem é urgente estabelecer a quantidade real de combustíveis vegetais nas montanhas de Bogotá, como se faz em outros países.

Contatada pela AFP, a autoridade ambiental das colinas, a Corporação Autônoma Regional (CAR) de Cundinamarca, disse que após a emergência devido às queimadas, será implementado um plano de reflorestamento com espécies locais, como cedro, "encenillo" ou alecrim de flor branca.

"Vamos estabelecer quais espécies devem ser indicadas, quais devem ser nativas. Uma vez restaurados os solos, poderemos fazer esse plantio", explicou o diretor do CAR, Alfred Ballesteros.

Apoio do Brasil

Nesta segunda-feira (29), o presidente Lula (PT) ligou para Gustavo Petro, presidente da Colômbia, para oferecer apoio no combate aos incêndios no país vizinho.

Segundo nota divulgada pela Presidência do Brasil, o governo colombiano sugeriu que um posto regional de prevenção a incêndios seja criado. Lula, segundo o Planalto, propôs um "encontro para a criação de um grupo de trabalho, no âmbito da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA), que possibilite avançar nos esforços conjuntos de combate aos focos de incêndio na Amazônia".

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