Canadense que acusou governo de incêndios admite ter ateado fogo em florestas 14 vezes

Homem de 38 anos provocou queimadas que levaram à evacuação de cerca de 500 casas

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Delger Erdenesanaa
The New York Times

Um morador do Quebec, no Canadá, que compartilhou teorias da conspiração online sugerindo que o governo canadense estava deliberadamente iniciando incêndios florestais no ano passado para convencer as pessoas de que as mudanças climáticas estão acontecendo agora se declarou culpado por ter provocado mais de uma dúzia de incêndios.

Brian Paré, de 38 anos, se disse culpado por 14 incêndios na região de Chibougamau, no Quebec, entre maio e setembro. No ano passado, houve a pior temporada de incêndios florestais já registrada no Canadá, com um total de 45 milhões de acres queimados (cerca de 182 mil km2).

Em diversos dias, a fumaça dos incêndios se espalhou pela América do Norte e pelo mundo, prejudicando a qualidade do ar e perturbando a vida diária de milhões de pessoas.

Fogo visto do alto
Incêndio em McDougall Creek, no Canadá, em agosto de 2023 - Darren Hull - 17.ago.2023/AFP

Dois dos incêndios provocados por Paré levaram à evacuação de cerca de 500 residências na cidade de Chapais no final de maio, de acordo com uma declaração da procuradora Marie-Philippe Charron, no tribunal, relatada pela The Canadian Press.

Um desses incêndios, no lago Cavan, queimou mais de 2.000 acres (8 km2) de floresta e foi a maior das queimadas que Paré admitiu ter provocado. A audiência judicial ocorreu em 15 de janeiro. A sentença deve ser dada em abril.

O aumento das temperaturas globais contribui para temporadas de incêndios mais longas e para um aumento nos raios, que foram responsáveis pelos incêndios canadenses mais destrutivos do ano passado.

Paré compartilhou postagens no Facebook durante o verão no hemisfério norte alegando que o governo estava falhando intencionalmente em controlar e até mesmo iniciando incêndios florestais de propósito.

Algumas das postagens de Paré também negam a existência das mudanças climáticas e relacionam os incêndios florestais a teorias da conspiração que sugerem que os governos estão fabricando fenômenos como as mudanças climáticas e a Covid-19 para justificar novas restrições e regulamentações.

As postagens de Paré fizeram parte de uma onda maior de desinformação após os incêndios, seguindo um padrão que tem acompanhado outros eventos climáticos extremos, como inundações, ondas de calor e secas.

"Todas essas coisas geraram muita repercussão e, consequentemente, várias formas de desinformação", disse Chris Wells, professor associado de estudos de mídia na Universidade de Boston, que pesquisa desinformação climática. "Quando um evento como esse acontece, há a pergunta óbvia de hoje: 'Até que ponto isso está relacionado às mudanças climáticas?'"

O tipo específico de teoria da conspiração compartilhada por Paré —relacionando as mudanças climáticas e as políticas relacionadas ao clima a motivos ocultos dos governos— também é comum, disse Wells. "Isso faz parte de um reino mais amplo de pensamento conspiratório."

Na realidade, as mudanças climáticas estão contribuindo para incêndios florestais mais intensos de algumas maneiras, disse Mike Flannigan, professor de incêndios florestais na Thompson Rivers University, no Canadá.

Além de temporadas de incêndios mais longas e de mais raios, o ar mais quente também retira a umidade da vegetação, criando mais combustível seco para os incêndios.

Embora a escala dos incêndios do ano passado tenha sido "fora de série" e possa não se repetir tão cedo, no geral, "veremos mais anos de incêndios ativos no futuro do que no passado", disse Flannigan.

Um estudo do grupo World Weather Attribution descobriu que as mudanças climáticas mais do que dobraram a probabilidade de o leste do Canadá experimentar condições climáticas propícias a incêndios florestais extremos em maio e junho do ano passado.

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