Desastres climáticos obrigaram 2,5 milhões de americanos a deixarem suas casas em 2023

Mais de um terço diz ter enfrentado escassez de alimentos ao menos no 1º mês após o deslocamento, mostra novo levantamento

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Aidan Gardiner
The New York Times

Estima-se que 2,5 milhões de pessoas foram forçadas a deixar suas casas nos Estados Unidos devido a desastres relacionados ao clima em 2023, de acordo com novos dados do Census Bureau.

Os números, divulgados nesta quinta-feira (22), pintam um quadro mais completo do que nunca das vidas dessas pessoas no rescaldo dos desastres. Mais de um terço disse ter enfrentado escassez de alimentos pelo menos no primeiro mês após o deslocamento.

Mais da metade relatou ter interagido com alguém que parecia estar tentando praticar uma fraude. E mais de um terço disse ter sido deslocado por mais de um mês.

Os EUA registraram 28 desastres no ano passado, cada um ao custo de, pelo menos, US$ 1 bilhão (cerca de R$ 4,98 bilhões). Mas o número de americanos deslocados por esses desastres tem sido difícil de estimar devido ao sistema de resposta fragmentado do país.

Homem junta objetos do chão em uma planície; ao fundo há uma área alagada
Morador de Steinhatchee, na Flórida, recolhe seus pertences após passagem do furacão Idalia, em agosto de 2023 - Chandan Khanna - 30.ago.2023/AFP

Entender o impacto humano dos desastres, não apenas os custos financeiros, é cada vez mais urgente à medida que a mudança climática potencializa o clima extremo, dizem especialistas.

"Muitas vidas são perturbadas por esses eventos, de maneira pequena ou grande", disse Andrew Rumbach, membro sênior do Urban Institute, grupo sem fins lucrativos focado na promoção da mobilidade social e da equidade. "Isso tem um custo cumulativo muito grande que é difícil de capturar. Isso [o novo número], pelo menos, nos dá um retrato instantâneo."

Os dados de deslocamento foram coletados na Pesquisa Pulso das Famílias, feita pelo Census Bureau com o objetivo de medir como os desafios sociais e econômicos emergentes estão afetando os americanos. A pesquisa passou a incluir perguntas sobre desastres em dezembro de 2022.

Os primeiros resultados, divulgados em janeiro de 2023, mostraram que cerca de 3,3 milhões de pessoas foram deslocadas no ano anterior. De acordo com o último lote de respostas, coletadas em janeiro e início de fevereiro, 2,5 milhões disseram ter sido deslocados em algum momento no ano passado.

A mudança de um ano para o outro é, muito provavelmente, uma flutuação normal, disseram os especialistas, e também pode refletir algumas limitações da pesquisa.

Diferentes versões da pesquisa são enviadas periodicamente por mensagem de texto e e-mail para mais de 1 milhão de domicílios de cada vez. A pesquisa é autodeclaratória e leva cerca de 20 minutos. O número de pessoas que respondem pode variar de cerca de 40 mil a 80 mil. O Census Bureau então atribui pesos às respostas para torná-las representativas da população em geral.

O Census Bureau observa que "os tamanhos das amostras podem ser pequenos e os erros padrão podem ser grandes". Mas os especialistas dizem que os resultados, ainda assim, fornecem alguns dos melhores números disponíveis sobre deslocamento.

"É um número para se encarar com cautela", disse Rumbach, que possui doutorado em planejamento urbano e regional. "Mas, ao mesmo tempo, é um conjunto de dados em um mundo onde não temos muitos conjuntos de dados bons."

Furacões continuam sendo a causa mais comumente citada de deslocamento, seguidos por inundações e incêndios. Em Flórida, Texas, Califórnia e Louisiana, centenas de milhares de pessoas fugiram de suas casas.

A contagem dos deslocados por desastres pode ser enganosa porque as agências de resposta e grupos sem fins lucrativos só sabem quantas pessoas atendem, o que deixa de fora pessoas deslocadas que não pedem ajuda e comunidades que não recebem ajuda alguma.

A Agência Federal de Gerenciamento de Emergências, por exemplo, responde apenas a eventos que recebem uma declaração de emergência federal.

"Isso é apenas uma pequena parte dos desastres em geral", disse Rumbach. Como exemplo, ele apontou para inundações que destroem algumas casas e outros chamados "desastres de baixa atenção" que frequentemente afetam comunidades mais rurais. "Não há incentivo para as pessoas somarem todos esses [casos]."

Mas a pesquisa Pulso tenta fazer isso, afirmou Rumbach, embora alguns pesquisadores estejam cautelosos em tirar conclusões muito amplas.

"Os próprios conceitos —O que é um desastre? O que é deslocamento?— são realmente deixados à interpretação de quem responde a pesquisa", disse Elizabeth Fussell, professora de estudos populacionais na Universidade Brown.

A pesquisa lista incêndios entre os "desastres naturais" que poderiam levar a um deslocamento, por exemplo, e alguns especialistas apontam que não é difícil supor que alguém tenha selecionado esse campo da pesquisa após um incêndio em casa.

Fussell também observou que, enquanto pesquisas federais anteriores contavam aqueles que haviam se mudado permanentemente de suas casas após um desastre, o "deslocamento" na pesquisa Pulso poderia se referir a uma saída de um dia.

Embora os participantes da pesquisa possam optar por dizer que "nunca voltaram" para suas casas, os especialistas alertaram que a natureza de curto prazo do levantamento pode dificultar a compreensão do número real de pessoas permanentemente deslocadas.

Os dados também mostram que as pessoas que enfrentam os piores resultados de desastres tendem a ser de comunidades com menor poder político e sujeitas à discriminação. Pessoas negras e latinas tendem a ser deslocadas com mais frequência, e pessoas mais pobres tendem a ser deslocadas por mais tempo, disseram especialistas.

Isso é amplificado para pessoas nesses grupos que também se identificam como LGBTQ, de acordo com análise.

"Há muitas agências federais que estão muito cientes de que as mudanças climáticas estão acontecendo e que se manifestarão como desastres relacionados ao clima", disse Fussell. "É necessário entender a magnitude deles."

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.