El Niño e aquecimento global não impulsionaram incêndios no Chile, mas futuro preocupa

País corre risco de mais incêndios mortais à medida que mudanças climáticas avancem, alerta novo estudo

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Alexander Villegas
Reuters

Incêndios florestais mortais como os que atingiram o Chile e mataram pelo menos 133 pessoas neste mês se tornarão mais prováveis na região à medida que o planeta vá aquecendo e se tornando mais seco, em razão das mudanças climáticas, concluiu um estudo divulgado nesta quinta-feira (22).

Os incêndios foram o desastre natural mais mortal do Chile desde um terremoto em 2010 que matou cerca de 500 pessoas. Ventos fortes e altas temperaturas ajudaram a impulsionar o avanço rápido do fogo para áreas povoadas ao redor das cidades de Viña del Mar e Valparaíso.

Vista aérea de casas queimadas
Casas queimadas no bairro El Olivar, em Viña del Mar, no Chile - Javier Torres - 8.fev.2024/AFP

Este novo relatório, feito pelo World Weather Attribution, grupo internacional de cientistas que estuda os efeitos das mudanças climáticas em eventos climáticos extremos, analisou o aumento nas condições que alimentam os incêndios —temperatura, velocidade do vento e umidade atmosférica—, conforme as medições de um índice chamado HDWI (Hot Dry Windy Index).

A pesquisa constatou que nem o aquecimento global nem o fenômeno climático El Niño impulsionaram o recente aumento no HDWI durante os incêndios, já que aquela região costeira do Chile, na verdade, está esfriando, enquanto as temperaturas estão aumentando no interior do país.

Mas isso mudará com o aquecimento global, afirmam os cientistas.

"Esperamos que muitos desses incêndios ocorram no futuro", diz Joyce Kimutai, pesquisadora do Grantham Institute do Imperial College London e coautora do estudo.

No cenário global atual de 1,2°C de aquecimento em comparação com a era pré-industrial, os cientistas disseram que um período de quatro dias com um HDWI semelhante ao visto durante os incêndios recentes seria esperado a cada 30 anos.

"No entanto, se o aquecimento atingir 2°C [em relação aos patamares anteriores à Revolução Industrial], é provável que o clima propenso a incêndios se torne mais intenso em torno de Viña del Mar e Valparaíso", diz Tomas Carrasco, pesquisador da Universidade do Chile e coautor do relatório.

As temperaturas estão a caminho de subir até 2,9°C neste século, com base nos compromissos climáticos atuais, de acordo com previsões da ONU (Organização das Nações Unidas).

Os autores do relatório também destacam que o crescimento urbano e a mudança no uso da terra foram fatores que levaram os incêndios a serem tão mortais.

Mauricio Santos, do Centro Climático da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho na Colômbia, diz que a expansão de plantações de pinheiros e eucaliptos destruiu barreiras naturais contra incêndios ao longo de décadas, enquanto áreas urbanas avançam sobre as florestas.

"Descobrimos que os incêndios mais devastadores aconteceram em áreas com mudanças significativas no uso da terra e onde o planejamento urbano era inadequado", conta Santos, acrescentando que são necessários sistemas melhores de alerta, planejamento de evacuação e sistemas à prova de fogo.

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